*Leandro Pires e Silva é CEO da NovaHaus
Trabalho há bastante tempo com produtos digitais e sempre acreditei que a forma cautelosa com que encaro os avanços na inteligência artificial é a mais adequada. Nunca fui aquele empreendedor que se empolga com a fumaça das big techs ao lançar novos produtos. No entanto, enxergo que as inteligências artificiais generativas têm o potencial de transformar a sociedade em todos os níveis nas próximas décadas.
Após minha última viagem à China e as palestras que acompanhei nos Estados Unidos, na Universidade de Harvard e no MIT (Massachusetts Institute of Technology), comecei a repensar meu entendimento sobre a maturidade da inteligência artificial. Indo na contramão da entrevista do criador do Linux, Linus Torvalds, que afirmou que “a onda de IA é 90% marketing”, confesso que estou entusiasmado com as aplicações reais das tecnologias generativas.
As discussões que participei escancararam para mim algo que eu – e muita gente – já desconfiávamos: a grande revolução da inteligência artificial já começou e está acontecendo neste minuto, mas talvez, não como imaginávamos anos atrás. A conclusão que fica é que não precisamos mais esperar carros autônomos dominarem as ruas e robôs se passarem por humanos para nos dar conta de que tudo já está mudando, bem debaixo dos nossos narizes.
Enquanto os carros autônomos não conseguirem eliminar completamente a margem de erro, será difícil encontrar empresas dispostas a assumir a responsabilidade de colocá-los nas ruas em larga escala – empresas como Waymo, na California, ou Pony.ai, na China, ainda operam de forma muito restrita e controlada. O mesmo se aplica a robôs realizando tarefas domésticas ou serviços públicos. No entanto, essa demora não ocorrerá de forma nenhuma por imaturidade tecnológica e sim, por questões éticas.
Para ilustrar que essa revolução já está ocorrendo de forma silenciosa, convido você a enviar um exame de imagem para o ChatGPT-4 analisar. Não recomendo que você confie cegamente no diagnóstico ou no tratamento sugerido, mas compare sua análise com a avaliação do médico. No teste que realizei, a análise do GPT foi bastante similar à do profissional.
O ponto é que atualmente, para quase tudo o que você faz, existe algum serviço de IA que pode ajudar, seja em uma tarefa específica ou em várias. O desafio, no momento, é descobrir onde encontrar esse aplicativo ou plataforma. Isso pode exigir combinar dois ou três serviços para chegar à solução ideal, mas o importante é que já existem maneiras de tornar qualquer tarefa mais produtiva com a assistência da inteligência artificial.
Um ótimo exemplo é o aplicativo Yoodli, onde você pode praticar seu pitch de vendas com um robô que analisa seu comportamento, argumentos, entusiasmo e até mesmo a sua postura. Imagine o quanto uma empresa poderia economizar em treinamento de vendedores ao utilizar essa inteligência artificial já disponível, tornando o processo mais eficiente e direto.
A questão é: onde você quer otimizar e reduzir custos? A cereja do bolo é saber responder para si mesmo esse questionamento e, a partir dele, procurar alguma inteligência artificial generativa capaz de te ajudar. Se você for criativo e investir seu tempo em descobrir tudo o que existe sobre esse tema no mercado, garanto que vai achar. Muitas empresas estão direcionando seus esforços para esse fim e estão sendo bem sucedidas em otimizar seus processos e operar de forma mais eficiente.
E para falar de quanto o mercado evoluiu, é essencial mencionar o ChatGPT, modelo de linguagem que impulsionou a popularização do uso da IA para tarefas cotidianas. No entanto, penso sempre que reduzir seu poder apenas à ferramenta da OpenAI é deveras restritivo. Existem centenas de outras aplicações tão interessantes quanto o GPT, disponíveis a qualquer pessoa. No mundo dos negócios, quem conseguir combiná-las com inteligência será capaz de potencializar resultados. A chave é explorar o que já está disponível e aplicar isso de forma inteligente em suas atividades diárias.
Uma das primeiras coisas que me impressionou nas visitas a Harvard e ao MIT foi perceber que, para a academia e para o mercado, a inteligência artificial se tornou uma prática comum, sendo pensada e implementada diariamente. Em 2024, pode parecer clichê afirmar que a inteligência artificial não é mais uma promessa para o futuro, mas foi a primeira vez que testemunhei, in loco, um grande número de estudiosos dedicados a pesquisar o tema a todo momento. Essa busca não se limita a otimizar processos corporativos, mas também se estende a integrar a IA à vida cotidiana.
Nos laboratórios do MIT, observei como a IA está acelerando o desenvolvimento de novos medicamentos. Em vez de levar anos para descobrir um novo tratamento, algoritmos de inteligência artificial analisam milhões de combinações de compostos químicos em minutos. Um ponto enfatizado nas discussões foi que não precisamos de uma única aplicação mágica de IA para resolver todos os problemas; muitas vezes, a melhor solução é realmente a combinação de várias ferramentas.
Outro exemplo marcante foi o de um executivo de marketing que conheci no MIT, que utilizava três ferramentas alimentadas por inteligência artificial e machine learning em seu dia a dia. A primeira ferramenta gera conteúdo automaticamente para as redes sociais de suas empresas. A segunda analisa a recepção do público com base nas interações, e a terceira otimiza o desempenho das campanhas de anúncios em tempo real. A combinação dessas três aplicações conseguiu economizar 40% do seu orçamento de marketing e aumentar o engajamento do conteúdo.
Mais um caso de sucesso que conheci nos Estados Unidos: um diretor que utilizou inteligência artificial para aprimorar o relacionamento com seus mil colaboradores. Utilizando o Adobe Podcast Audio, o executivo gravou cinco horas de sua voz em diferentes contextos. Em seguida, fez o upload dessa gravação no app da ElevenLabs, uma startup que alcançou um valor de mercado de US$ 1 bilhão e que consegue gerar e sintetizar vozes para narrar textos em produtos audiovisuais. A partir da amostra, a ferramenta reconheceu a tonalidade, timbre e entonação da voz do diretor, capacitando-a a recitar qualquer texto como se fosse ele. Todo esse banco de dados foi então transportado para outra ferramenta, a Vapi, que cria um agente de conversação, possibilitando diálogos baseados nas informações previamente configuradas.
O objetivo, nesse caso, foi utilizar as ferramentas para realizar ligações de voz aos colaboradores e comunicar as mudanças institucionais que seriam implementadas na empresa. A aplicação foi bem-sucedida, não apenas no comunicado, mas também em responder as dúvidas que surgiram. Os funcionários foram informados de que se tratava de uma aplicação envolvendo inteligência artificial. No entanto, quando questionados, a maioria deles relatou que teve a sensação de estar conversando com o próprio executivo, e não com um clone.
A grande lição que tirei das visitas é que a IA está disponível para ser utilizada agora, e não apenas para gerar textos e imagens. Não podemos esperar por ela no futuro; a inteligência artificial já faz parte da nossa realidade e pode ser empregada para otimizar tarefas, economizar tempo e reduzir custos.