*Por Isabela Castilho, CEO da Rocketseat
Com o boom da IA, muito se fala em como os times devem estudar e implementar a tecnologia no seu dia-a-dia para potencializar entregas. Tal incentivo já possui respaldo e resultados reais. Segundo dados do “The Impact of AI on Developer Productivity”, desenvolvedores que usaram o GitHub Copilot completaram uma tarefa de codificação 55% mais rápido do que aqueles que não usaram. Porém, é um engano achar que a inovação só deve ser usada na operação de uma empresa. A versatilidade da IA faz com que ela possa ser usada por profissionais de diferentes níveis de senioridade. A questão é entender como a ferramenta pode agregar valor no cotidiano dos líderes e diretores.
Enquanto analistas são contratados pela entrega de resultados, dos líderes são esperadas tomadas de decisões e gerenciamento de pessoas, atividades que envolvem habilidade subjetivas e puramente humanas, como julgamento ético, empatia e escuta ativa. Claro que os heads também possuem tarefas manuais e operacionais que podem ser ativadas com inteligência artificial, mas o escopo das lideranças é repleto de outras ações que ainda não são devidamente assistidas pela inteligência artificial.
De qualquer forma, isso não quer dizer que a IA não tem aderência com a realidade dos líderes, apenas indica que a inovação tem valor e impacto diferente para cada tipo de profissional.
Para colaboradores operacionais, a inteligência artificial é um estagiário; para os líderes, é um conselheiro. Desde os primórdios da história da humanidade, conselheiros oficiais e não-oficiais existiam para oferecer uma orientação estratégica e possíveis desdobramentos futuros aos soberanos e o papel da IA é praticamente o mesmo. Personalidades como Maquiavel e Sun Tzu entraram para posteridade ao compilar seus conhecimentos para ajudar seus líderes a tomarem as melhores decisões.
Assim, a inteligência artificial agrega valor às lideranças ao conseguir fazer uma análise completa de dados disponíveis, ao esboçar possíveis consequências de determinadas decisões e apontar as condições necessárias para alcançar determinado resultado. Mesmo assim, a tomada de decisão seguirá pautada na curadoria humana. O líder analisará as informações e, a partir da sua experiência em gestão de equipes, senso ético e imersão na cultura da empresa, validará, declinará ou adaptará o cenário oferecido pela IA. A visão estratégica e clara do cenário será ainda mais fundamental para julgar o que cabe, ou não, no que foi sugerido pela IA.
E, apesar dos benefícios que a inteligência artificial pode proporcionar, os líderes não são imunes ao receio de que a IA represente uma ameaça às suas carreiras. afirmo isso baseada no resultado de uma pesquisa recente da Talented Talent Trends Leadership realizada pela PageExecutive, que relata que um quarto dos líderes ouvidos consideram que a tecnologia traz riscos ao seu emprego no longo prazo. O que, ao meu ver, é um receio infundado, pois a inovação não faz com que as lideranças se tornem irrelevantes. Muito pelo contrário.
a IA permite que os líderes se afastem de tarefas operacionais e faz com que a posição assuma o espaço estratégico e crítico que lhe cabe e, por muitas vezes, acaba sendo despriorizado entre tarefas operacionais. Ficará cada vez mais claro que o escopo de trabalho da liderança não estará ligado à execução, mas ao foco decisório. Não se trata de um movimento fácil ou que acontecerá do dia para a noite (assim como todas as outras mudanças que já vimos acontecerem no mercado com diferentes tecnologias) até porque, não é raro encontrar demandas operacionais que são assumidas pelos líderes atualmente, mas a exclusão do desgaste operacional da rotina trará benefícios notáveis no dia a dia.
É por isso que, na minha visão, a adoção da inteligência artificial pode ajudar a diminuir os casos de burnout nos cargos de liderança. Segundo informações da Nascia, organização especializada em saúde ocupacional, seis em cada dez líderes já tiveram sintomas de exaustão. Assim, o esforço cognitivo de acompanhar o desempenho da equipe ou tentar prever cenários se torna menos desgastante e mais otimizado.
Também acredito que o futuro dos cargos de liderança se torna ainda mais estratégico a partir da ascensão da inteligência artificial, pois a atuação dos líderes será o filtro ético e vetor de sensibilidade por trás das sugestões fornecidas pelas máquinas. Trata-se de exercitar a arte de ser humano no mundo da inovação.