*Por Paulo Farias, Vice-Presidente LATAM da Neo4j
O protagonismo do Brasil na agenda climática e os esforços de descarbonização digital ganham força com a proximidade da COP30 em Belém (PA), em novembro. Uma medida provisória recente autoriza a instalação de data centers em Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) no Ceará, desde que operem com energia renovável. O movimento busca atrair investimentos e consolidar um modelo de infraestrutura digital sustentável. Ao mesmo tempo, traz um alerta global: a infraestrutura digital sustentável que suporta a inteligência artificial pode gerar um impacto ambiental silencioso, porém expressivo.
A IA já é vista como aliada contra a crise climática, ajudando a prever padrões meteorológicos, otimizar cadeias de suprimentos e melhorar políticas ambientais. Mas seu avanço pressiona os data centers, aumenta o consumo de energia e água e amplia o lixo eletrônico. Usar o ChatGPT para criar um simples e-mail de 100 palavras pode demandar até 140 Wh (0,14 kWh), segundo o The Washington Post e a Universidade da Califórnia. A Agência Internacional de Energia prevê que o consumo global de eletricidade por data centers pode ultrapassar 1.000 TWh até 2026, mais do que o gasto atual do Japão. Isso reforça a necessidade de uma infraestrutura digital sustentável robusta e eficiente.
Para que essa transformação seja viável, é preciso repensar os sistemas que sustentam a IA e conectá-los a dados de forma mais responsável. Apostar em tecnologias que reduzam a pegada de carbono e permitam monitorar emissões é crucial. Nesse cenário, os bancos de dados em grafo tornam-se aliados estratégicos para apoiar uma infraestrutura digital sustentável.
Diferente dos sistemas tradicionais baseados em tabelas rígidas, o grafo organiza dados em conexões dinâmicas, processando relacionamentos complexos com menos camadas computacionais. Isso resulta em maior eficiência energética e menor impacto ambiental, fortalecendo a infraestrutura digital sustentável. Essa eficiência reduz o número de servidores, a necessidade de refrigeração e o uso de recursos. Em um contexto de pressões regulatórias e corporativas por indicadores de sustentabilidade, os bancos de dados em grafo permitem criar gêmeos digitais da cadeia de valor corporativa, viabilizando gestão precisa de emissões e alinhamento com metas ESG.
Ao conectar dados sobre emissões, conformidade e energia, gêmeos digitais oferecem uma visão em tempo real de como cada elo da cadeia contribui para o total de carbono emitido. Essa flexibilidade supera os sistemas tradicionais, permitindo que empresas ajustem seus modelos à medida que surgem novos dados e regulações. Assim, apoiam a ação climática e fortalecem a infraestrutura digital sustentável. Os bancos de dados em grafo também podem apoiar países no cumprimento de metas sustentáveis. Iniciativas fragmentadas muitas vezes dificultam a cooperação, mas projetos como o SustainGraph oferecem uma visão integrada e transparente das ações de sustentabilidade. Desenvolvido no âmbito da iniciativa ARSINOE, ele permite acompanhar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), avaliar impactos e comparar resultados entre países.
Essa abordagem orientada por dados fortalece a infraestrutura digital sustentável necessária para a COP30. A discussão sobre infraestrutura digital sustentável não é nova, mas precisa ganhar escala. Com a COP30 às portas e a IA em rápida evolução, o desafio é alinhar a transformação digital e a transição verde. Tecnologias como os bancos de dados em grafo mostram que é possível inovar sem ampliar custos ambientais.