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Inovação aberta não é marketing, é competitividade

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Inovação aberta
Inovação aberta. Foto: Canva

*Por Igor Mazaki, CEO da Plug and Play Brazil

Nos últimos anos, inovação aberta se tornou um termo popular no mundo corporativo. Muitas empresas adotaram a prática, mas nem todas entendem o que ela realmente significa. Para algumas, ainda é vista como uma ferramenta de marketing, usada para transmitir uma imagem moderna e conectada ao futuro. No entanto, a inovação aberta vai muito além de estratégias publicitárias: ela é um pilar de competitividade no mercado global.

E a diferença entre essas duas visões está na abordagem. Não basta anunciar parcerias entre startups e grandes empresas ou organizar eventos. A verdadeira inovação aberta envolve criar uma cultura organizacional preparada para absorver novas ideias, transformá-las em soluções aplicáveis e mensurar o impacto gerado. É um processo contínuo e interconectado, onde cada etapa desempenha um papel essencial para gerar valor real.

Minha experiência ao longo dos últimos oito anos trabalhando com inovação e estratégia em empresas globais me ensinou que a inovação só se sustenta quando mostra resultados concretos. Na prática, isso significa ir além das ideias e demonstrar valor mensurável para o negócio. O grande desafio está em traduzir conceitos abstratos em indicadores tangíveis, capazes de impactar diretamente os resultados financeiros da empresa.

Por exemplo, um caso marcante foi um projeto de inovação aberta focado na integração de novos funcionários. O problema era claro: após a entrevista e contratação, os candidatos aguardavam cerca de três meses até o primeiro dia de trabalho. Neste ínterim, não recebiam qualquer contato da empresa. Isso gerava desorientação e um turnover de aproximadamente 14 funcionários por ciclo, já que outras empresas faziam ofertas mais ágeis e humanas, conquistando esses talentos antes mesmo do início do trabalho.

Para enfrentar essa dor, foi integrada uma startup de onboarding digital ao processo de contratação. O aplicativo permitia ao novo colaborador conhecer sua equipe, interagir com o gestor e acessar informações sobre a empresa durante o período entre a assinatura do contrato e início do trabalho, o que aumentou o Net Promoter Score (NPS) de contratação e reduziu significativamente o turnover. Com um custo de prova de conceito de £2 mil, o projeto gerou um retorno de quase £1 milhão, economizando em headhunters, entrevistas, horas de trabalho, reposições de vagas, entre outros gastos. Esse é o tipo de impacto que a inovação aberta deve buscar: gerando resultados mensuráveis e competitividade real.

Essa competitividade nasce da capacidade de uma empresa em se adaptar às mudanças, além de absorver tendências e tecnologias emergentes. Mas isso exige um compromisso estratégico. Não é só sobre testar ideias, trata-se de estruturar equipes, processos e métricas que comprovem o valor gerado. Exige também coragem para falhar e aprender com os erros. Afinal, inovação não é um evento isolado, mas um ciclo contínuo de experimentação e aprendizado. Esse ciclo contínuo é o que permite que as empresas se mantenham relevantes em um mercado em constante transformação.

Vejo a inovação aberta como um caminho essencial para conectar startups, grandes empresas e investidores, criando um ecossistema que gere impacto real e sustentável. O desafio é fomentar uma visão estratégica que valorize a experimentação, mas que também cobre resultados concretos. No Brasil, ainda enfrentamos um desafio cultural: a inovação é frequentemente vista como um luxo, acessível apenas a empresas de grande porte. No entanto, as startups brasileiras já mostraram seu potencial de adequação das grandes às médias empresas, e o ecossistema local tem evoluído rapidamente. O que falta, muitas vezes, é uma mudança de mentalidade das empresas tradicionais.

Afinal, a verdadeira inovação não é parecer moderno, mas resolver problemas concretos de maneiras simples, mas disruptivas. Trata-se de manter-se competitivo, criar valor mensurável, e, acima de tudo, continuar relevante em um mercado em constante transformação.