*Felipe Negri é CEO do Pinbank
O iminente fim do mandato de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central do Brasil (BC) é um tema que devemos tratar com seriedade máxima. Isso porque aquele que sucedê-lo não terá uma vida fácil nos próximos anos, seja pelo que está por vir e por tudo o que já foi realizado até o momento.
O legado do atual líder da autoridade monetária criou uma régua elevada sobre as expectativas em relação a diversas áreas. Talvez o maior exemplo disso seja a atuação do BC no que diz respeito à autonomia, inovação e tecnologia com o avanço dos Pagamentos Instantâneos (Pix) e Open Finance.
Aliás, vale destacar que essa jornada bem-sucedida também foi resultado de dois outros méritos do banco: o apoio a novas empresas do setor, especialmente fintechs, que contribuíram para aumentar os níveis de inclusão financeira no país, e uma política monetária proativa. Ambas as iniciativas foram muito relevantes para o avanço econômico e a contenção da inflação frente a cenários extremos, como a pandemia de Covid-19 e a instabilidade global em geral.
Tudo isso fortaleceu a reputação financeira do Brasil ao redor do mundo, aumentando a confiança dos investidores internacionais. Provas desse reconhecimento são os inúmeros prêmios recebidos durante o processo, como o Central Banker of the Year 2021, pela revista The Banker (Financial Times); Melhor Banco Central da América Latina 2020, pela revista Global Finance; e prêmios de inovação financeira pela implementação do Pix.
Próximos desafios
O novo presidente do BC terá decisões difíceis a serem tomadas, que dirão muito sobre a personalidade que estará à frente da instituição financeira e como ela influenciará no futuro do país. E, diante de fatores como o aumento nos preços de commodities, volatilidade cambial e do cenário internacional, esses desafios já devem chegar à sua mesa logo no início dos trabalhos.
O principal será ligado à política monetária e ajustes na taxa de juros Selic. Administrar a pressão de diferentes frentes, como a de setores políticos que desejam implementar medidas populistas, e pressões inflacionárias vindas de choques externos, será um ponto de equilíbrio tênue para o próximo líder.
A resiliência a esse tipo de tensão e aos fatores macroeconômicos internos e externos marcaram a passagem de Roberto Campos Neto pelo cargo. Portanto, o mercado ficará duplamente atento à gestão do novo presidente do BC nesse aspecto. A previsibilidade e a transparência são demandas cruciais para a manutenção da credibilidade da instituição, assim como do patamar elevado de investimento externo atingido nos últimos anos.
Evolução tecnológica
Por fim, ainda é essencial reforçar que o mercado espera a manutenção do forte posicionamento tecnológico e inovador alcançado na gestão de Neto. As agendas evolutivas do PIX e do lançamento do DREX (a futura moeda digital brasileira) são aspectos de extrema atenção nesse sentido.
Outra expectativa bastante relevante é a atuação do Sistema Financeiro Nacional (SFN) na implementação de novas regulações em mercados altamente especulativos, visando reduzir o constante aumento de fraudes e riscos relacionados à lavagem de dinheiro. São os casos dos setores de Bets e criptoativos, além de tecnologias como Bank as a Service.
Ou seja, é certo dizer que, independente do nome que teremos à frente do BC em breve, a sucessão de Roberto Campos Neto representa um momento chave para a economia brasileira. A capacidade dessa figura de equilibrar inovação com estabilidade mostrará o quanto o Brasil estará pronto para continuar sendo um elemento importante no cenário financeiro global.