Artigo

Insurtechs estão transformando o mercado de seguros

Mercado de seguros tem recorrido a tecnologia e inteligência artificial para ganhar eficiência e competitividade, diz o CEO da 180 Seguros

Setor de seguros tem aplicado tecnologia para ganhar eficiência. Foto: Canva
Setor de seguros tem aplicado tecnologia para ganhar eficiência. Foto: Canva

*Mauro Levi D’Ancona é fundador e CEO da 180 Seguros

As insurtechs estão transformando o setor de seguros globalmente, e o Brasil não fica de fora dessa mudança. Acabei de voltar de Las Vegas, onde participei do ITC (Insurtech Connect), o maior evento de tecnologia em seguros do mundo. Foram mais de 10 mil pessoas reunidas para discutir o futuro do setor. Como CEO da 180 Seguros, primeira seguradora tech do Brasil, fui buscar insights sobre tendências globais e oportunidades para nosso mercado.

Quero compartilhar com vocês a minha visão sobre o que está acontecendo no mercado americano e o que podemos aprender com ele.

As transformações no mercado americano

Os últimos 18 meses foram um verdadeiro teste de resistência para o mercado de seguros nos EUA. Em um ano típico, é comum que um fator isolado afete significativamente o setor – seja mudança climática, pressão na cadeia de suprimentos, incertezas nas eleições e inflação. O que tornou esse período tão extraordinário foi a convergência desses quatro fatores simultaneamente, todos em níveis extremamente elevados.

O mercado respondeu com foco e pragmatismo: concentração em produtos principais, reprecificação de carteiras e otimização de custos. Mas essas são todas medidas temporárias – em algum momento, as empresas precisam voltar a crescer e conquistar mercado. O cenário climático continua preocupante, como vimos com o furacão Milton, mas já há sinais positivos nas frentes de inflação e cadeia de suprimentos e também o horizonte se estabiliza com as eleições americanas no início de novembro.

IA sai do PowerPoint e transforma o mercado

Se existe uma conclusão clara deste ITC é que Inteligência Artificial definitivamente saiu da teoria e está transformando o mercado de seguros na prática. Os destaques ficam por conta da regulação de sinistros e, principalmente, da precificação inteligente de seguros – área em que tivemos diversas conversas com empresas que já entregam modelos e infraestrutura prontos para treinar com dados próprios, gerando resultados mensuráveis e rápidos.

Aqui na 180 Seguros já estamos aplicando o conceito de “continuous underwriting”, que está transformando a maneira como as empresas gerenciam e ajustam suas carteiras. Com essa abordagem, os resultados da carteira atual são constantemente incorporados aos modelos de precificação, permitindo que as seguradoras não apenas otimizem preços futuros, mas também façam ajustes nos seguros em vigor. Por exemplo, em uma apólice anual, após alguns meses, já é possível avaliar se a precificação inicial foi adequada e, caso a mesma apólice fosse oferecida novamente no presente, se haveria necessidade de ajuste no valor, tanto para cima quanto para baixo.

O que isso significa para o Brasil?

O cenário macroeconômico brasileiro se mostra menos desafiador que o americano neste momento. Claro, ainda enfrentamos nossas batalhas – a inflação segue presente, mas já temos ferramentas e histórico para lidar com ela. O que realmente preocupa, e nisso não estamos muito diferentes dos EUA, são as catástrofes naturais. Nosso mercado ainda não está preparado para lidar com eventos climáticos extremos, que têm se tornado cada vez mais frequentes.

Mas as lições do ITC são valiosas para nosso mercado. Primeiro, vemos que o uso de IA não é mais um diferencial, é questão de sobrevivência. As seguradoras brasileiras incumbentes precisam acelerar sua jornada de transformação digital, especialmente em precificação e análise de riscos. A boa notícia é que elas não precisam reinventar a roda – podem aproveitar soluções que já estão sendo testadas e aprovadas no mercado americano, adaptando-as à nossa realidade.

O que vemos é um cenário de transformação em duas velocidades. De um lado, seguradoras tradicionais com infraestrutura pesada, mas recursos para investir em transformação. Do outro, insurtechs que, mesmo ainda pequenas em market share, já nascem digitais e ágeis – uma vantagem competitiva que pode fazer toda diferença. O relatório Insuretech Report 2024 da Distrito mostra justamente essa tendência, além de destacar que investimentos estão sendo feitos principalmente naquelas que adotam tecnologias como a IA. 

O resultado é um mercado em crescimento onde todos ganham: consumidores com produtos melhores e mais adaptados às suas necessidades, e insurtechs que, acredito eu, têm real potencial para se tornarem players relevantes em tamanho! Afinal, em inovação e qualidade de produto, já estão provando seu valor!