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* Claudia Farias é CTO e co-fundadora da SafeSpace

Para fazer uma análise do atual cenário de demissões em massa no mercado de tecnologia, que passou a se configurar a partir do ano passado com a crise provocada pela guerra na Ucrânia e os impactos econômicos da pandemia, é necessário partir de dois questionamentos. O primeiro deles: diante de um período, até então, fortemente promissor para as empresas de tecnologia e inovação será que era possível agir de forma um pouco mais conservadora, mas só nos demos conta disso agora? E também: a aposta, digamos assim, incondicional e milionária, no crescimento acelerado e no boom de contratações se justificava realmente?

A leitura que deve ser feita a partir dessas perguntas é aquela que nos leva ao meio termo, à busca do que teria sido o equilíbrio – ou algo mais próximo disso – para que as empresas se mantivessem competitivas no acirradíssimo mercado de TI. Se por um lado parece que faltou a elas um comprometimento real com o crescimento saudável, por outro não dá para abrir mão desse ‘boost’, pois o mercado exige que não se perca o famigerado ‘timing’ para continuar no páreo.

Pelo tamanho do estrago, fica claro que nem mesmo as ‘big techs’ conseguiram encontrar o fiel da balança. No Twitter, o corte de pessoal chegou a 50%; a Meta, dona do Facebook, demitiu 11 mil colaboradores; e na Amazon o layoff contabilizou 18 mil pessoas. Entre as startups nacionais, a Loft, que atua no segmento imobiliário, confirma três rodadas de demissões, a última delas envolvendo 310 funcionários, e a Alice, da área de saúde, realizou duas etapas de layoff, somando quase 200 demissões.

O cenário de dois anos atrás previa uma escassez de profissionais de tecnologia, isso porque as startups, em especial, vinham apostando em uma tendência de mercado muito promissora. Como um reflexo do ‘inchaço’ de capital vindo dos investidores, a maior parte dos empreendedores se imbuiu de uma autoconfiança exacerbada, imaginando que iriam tocar seus negócios sempre nessa tendência de alta. Assumiram o risco, por assim dizer, com grande entusiasmo. E levaram um balde de água fria com a retração econômica e a redução do capital disponível a ser aplicado nesses negócios.

Para 2023, a pergunta de 1 milhão de dólares é: seria essa apenas uma fase passageira, depois de várias reduções, ou a tendência de arrefecimento ainda deve continuar por um período mais longo? Está um pouco cedo para especular, pois os sinais de recuperação no momento ainda não estão claros. Mas, mantendo a tônica do equilíbrio, a melhor postura talvez seja se valer de um ‘otimismo um pouco mais tímido’.

Para quem foi atingido pela onda dos layoffs, desanimar não é o caminho. Pode não parecer agora, mas sem dúvida qualquer investida na carreira na área de tecnologia é muito promissora. Dados recentes da consultoria global Bain apontam que 77% dos executivos ouvidos planejam aumentar o seu orçamento em tecnologia em 2023. Isso porque consideram ser esse o caminho para alcançar mais produtividade, velocidade e competitividade. Ainda de acordo com a Bain, mais de 75% dos maiores investimentos de capital de risco foram feitos em infraestrutura de TI e empresas de software empresarial nos últimos anos.

Talvez a espera pela oportunidade de entrar nesse mercado se estenda um pouco, mas não muito. As empresas ainda seguem em busca de pessoas com experiência, só que agora com um olhar mais acurado. Além disso, o Brasil já entendeu a importância da diversidade, e isso é um ponto positivo para quem está a procura do primeiro emprego. Mesmo em períodos de crise, a tecnologia e a inovação são pilares do desenvolvimento econômico e, por isso, um investimento do qual as empresas não podem prescindir.

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