
*Por Tatiana Pimenta, CEO da Vittude
Durante muito tempo, liderar foi sinônimo de chegar lá. O topo da carreira representava poder, estabilidade e reconhecimento. Hoje, representa também solidão, pressão e um cansaço que não passa. A pesquisa State of the Global Workplace 2024, da Gallup, revelou que 62% dos líderes dizem sentir alto nível de estresse diário, e quase metade afirma que o trabalho tem um impacto negativo direto sobre a saúde.
Outro estudo, desenvolvido pelo Infojobs, mostrou que 86% dos profissionais brasileiros mudariam de emprego se encontrassem uma empresa que cuidasse melhor da saúde mental. O crachá de líder, que antes era símbolo de status, virou sinônimo de sobrecarga, uma função que exige não apenas resultados, mas também presença emocional, empatia e disponibilidade constante.
A Geração Z cresceu vendo seus pais e gestores adoecendo pelo trabalho. Por isso, ela não romantiza o sacrifício. Uma pesquisa do Datafolha revelou que 88% dos brasileiros preferem qualidade de vida a um salário mais alto. Muitos recusam promoções que signifique abrir mão da saúde, da família e da vida pessoal. Não é desinteresse, é lucidez. Eles não querem liderar estruturas que cobram demais, escutam de menos e ainda chamam isso de “alta performance”. O que parece falta de ambição é, na verdade, uma busca por sentido, e por um modelo de liderança que não custe a própria saúde.
O peso invisível da liderança
Por trás de cada decisão difícil, existe um líder tentando equilibrar pessoas, resultados e expectativas. Poucos têm espaço para falar sobre o desgaste que isso causa. O esgotamento aparece de várias formas: o sono que não vem, a tensão constante, a sensação de estar sempre devendo. É a exaustão de quem precisa cuidar de todos, mas raramente é cuidado por alguém. Liderar é, muitas vezes, uma experiência solitária. E não é possível sustentar um time saudável quando quem o conduz está emocionalmente esgotado.
O futuro exige líderes humanizados, não apenas tecnicamente competentes, mas emocionalmente maduros. Ser líder em 2025 significa saber escutar, reconhecer limites, permitir pausas e criar ambientes onde o erro não é punição, mas aprendizado. Como ensinam Amy Edmondson e Timothy Clark, segurança psicológica é o alicerce das equipes que aprendem, inovam e permanecem engajadas. A liderança do futuro não é a que cobra mais, mas a que inspira com mais humanidade. Empresas que ignoram o sofrimento de seus líderes estão minando o próprio resultado, e times emocionalmente esgotados não entregam alta performance, apenas sobrevivem a ela.
Cuidar da saúde mental da liderança não é um ato de gentileza, é uma estratégia de sustentabilidade. Organizações que desejam longevidade precisam cuidar de quem segura o leme. Mentorias, espaços de escuta e acompanhamento psicológico para líderes não são luxo. São parte essencial de qualquer política de gestão de riscos psicossociais. O trabalho pode continuar sendo fonte de propósito e realização, desde que liderar não custe a própria saúde.