* Otávio Pimentel é Partner & Head de M&A na ACE Advisors
Os dois anos posteriores ao início da pandemia ficaram marcados no setor de investimentos pelo excesso de capital, altos múltiplos de valuation, além das taxas de juros abaixo da média que vínhamos acompanhando no Brasil, causando um otimismo acima do comum nas análises de mercado, principalmente no segmento de venture capital, quando investidores despejaram um mar de dinheiro em empresas de tecnologia e software.
Porém, em meados de 2022, após um período de bonança, o mercado foi impactado como um todo, principalmente o segmento de investimento de risco, o que resultou em uma correção de valuations, devido a contínua alta da taxa de juros, e as captações de rodadas ficaram mais desafiadoras para os founders, fruto de uma maior racionalidade do mercado frente ao novo cenário macroeconômico.
Essa junção de fatores fez com que o dinheiro ficasse mais caro e escasso, impactando diretamente as empresas que estavam adotando uma estratégia de crescimento que utilizava a queima de caixa como principal driver. Esse contexto gerou demissões em massa, principalmente nas empresas de tecnologia, que tiveram que readequar seu modelo de negócio para se ter mais eficiência na manutenção dos units economics. O novo lema do mercado é ser cash efficient.
O novo cenário macroeconômico trouxe consigo uma certa frustração nas expectativas de alguns empreendedores, que começaram a tracionar seu negócio com o sonho de abrir capital na bolsa de valores, mas que hoje enxergam esse sonho mais distante, mas não por falta de vontade ou de mérito, mas sim por conta de um cenário externo que não se pode controlar. Para esses empreendedores, é momento de reavaliar as rotas e objetivos de seus negócios.
Oportunidade via M&A
Por outro lado, é perceptível um forte movimento no segmento de M&A, fusões e aquisições, visto que os valuations estão mais atrativos e os players estratégicos que possuem um modelo de negócio sustentável estão presenciando uma janela de oportunidade para adquirirem empresas, principalmente de tecnologia, e continuarem trilhando sua tese de crescimento inorgânico.
Companhias como Vale, Unilever, Gol, Ipiranga, Natura, Avon, Porto Seguro e Gerdau, apenas para citar algumas, têm olhado para startups que possuem um crescimento sustentável e geração de caixa. Um levantamento da consultoria ACE Cortex destaca que os três principais motivos para adquirir startups apontados pelas empresas foram:
- 62,6% – trazer soluções rápidas para os negócios
- 43,9% – novas linhas de receitas e potencializar as atuais
- 41,5% – antecipar tendências de disrupção
Isso mostra como estamos vivenciando uma janela de oportunidades tanto para os potenciais compradores, que querem ampliar seu portfólio e expandir as operações, como para os fundadores de startups, que querem gerar liquidez através do early exit, e que antes só conheciam a rota de venture capital como possibilidade para o seu negócio.
Nos próximos meses, poderemos presenciar uma janela bem oportuna para quem busca fazer M&As, tanto para as grandes corporações, que estão buscando comprar empresas, quanto para os empreendedores, que estão buscando vender. Nas transações de M&A, é comum se dizer que 1 + 1 tem que ser maior do que 2, e é baseada nessa premissa, em conjunto com outros fatores citados, que a atividade de M&A deve ser impulsionada, principalmente no setor de tecnologia.