Artigo

O desafio da inovação aberta no setor jurídico

Foto: Canva
Foto: Canva

* Lisa Worcman é sócia da área de tecnologia e entretenimento do Mattos Filho e Mariane Cortez é consultora de inovação do Mattos Filho

Dentre as diferentes estratégias de inovação, sem dúvida a inovação aberta é um recurso que tem ganhado cada vez mais aderência no mundo, inclusive no Brasil. O aumento da competividade somado à chegada de startups fizeram com que as grandes corporações percebessem que valer-se somente dos departamentos internos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) já não seria suficiente. Para acelerar a inovação seria necessário expandir os horizontes, se conectar com outros setores e trabalhar com parceiros externos, dentre eles, startups. 

É nesse contexto que a inovação aberta se torna tão relevante, uma vez que possibilita que as empresas se aproximem das melhores startups do mercado que possuem soluções tecnológicas capazes de resolver de forma muito mais ágil e efetiva desafios relevantes relacionados à gestão, marketing, processos e produtos. Dados levantados pela Open Startups comprovam essa tendência – o número anual de relacionamentos entre grandes empresas e startups cresceu mais de cinco vezes de 2019 a 2022. Este ano, foram registradas quase 46 mil conexões, enquanto em 2019 esse número era em torno de 13,5 mil. 

 Alguns podem questionar por que cada vez mais as empresas querem apostar nessa tendência. Pela perspectiva das organizações que possuem um programa de inovação aberta, são vários os benefícios verificados. Além de trazer melhores e mais rápidos resultados, o modelo aberto contribui para a cultura organizacional, considerada a espinha dorsal da inovação, pois permite o aumento do conhecimento em habilidades tão necessárias nos dias de hoje, como metodologias ágeis, cultura de experimentação, trabalho em equipes multidisciplinares e mentalidade voltada a dados. Para as startups, fazer negócios com grandes empresas é uma oportunidade excelente para melhorar e escalar o seu produto e, dependendo do caso, construir do zero uma nova solução a partir de um desafio proposto.  

Segundo a Open Startups, este ano mais de 25 setores firmaram quantidades relevantes de contratos com startups, com destaque para as vertentes de bens de consumo e alimentação, energia elétrica e renováveis e mineração e metais.  Especificamente com relação às inovações jurídicas, verifica-se que estão concentradas nos departamentos jurídicos das grandes empresas, principalmente naquelas que possuem uma área de legal operations.   

Apesar de o número de startups com foco no setor jurídico ter crescido cerca de 300% desde 2017, segundo levantamento da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), o mercado jurídico ainda tem muito o que evoluir no quesito inovação. Esse atraso decorre, principalmente, da resistência que os escritórios possuem em enxergar as soluções tecnológicas como impulsionadoras dos serviços prestados e da falta de conhecimento sobre como as startups operam e constroem os seus produtos. 

A partir do uso inteligente da tecnologia nas atividades operacionais do dia a dia e criação de novos produtos aos clientes, certamente o mercado jurídico brasileiro será levado a outro patamar. Do lado dos profissionais, teremos advogados com mais tempo para focarem nas atividades estratégicas e no entendimento dos negócios dos clientes e, por sua vez, estes terão acesso a serviços jurídicos melhores e mais eficientes.

Diante do enorme espaço para evoluirmos a forma como os serviços jurídicos são prestados, é urgente que os escritórios de advocacia comecem a trabalhar com startups como forma de aumentarem a sua competitividade, posição de mercado e cultura da inovação. Nesse contexto, a inovação aberta é uma das chaves que vai destravar a inserção do mercado jurídico na transformação digital que estamos vivenciando. No final das contas, todos os envolvidos saem ganhando – clientes, advogados e melhores startups do mercado.