*Peter Kreslins é CTO da Digibee
Quem nunca foi jogado de um lado para o outro em uma ligação telefônica ao tentar resolver um problema com uma grande empresa? “Eu não tenho acesso ao seu dado aqui no sistema, vou te mandar para a área responsável”, ouve o cliente diversas vezes até desistir ou, do alto de sua paciência, espera por longos minutos ou mesmo horas até conseguir uma resolução.
Pode parecer algo simples, mas esse tipo de situação é a ponta do iceberg de um problema bastante profundo: a dificuldade de muitas organizações em integrarem suas bases de dados, aplicações e sistemas, fazendo áreas diversas conseguirem conversar como se a empresa fosse, tal como é, de fato uma só.
É algo que acontece com frequência quando as empresas começam a crescer ou fazem seu processo de digitalização de maneira desordenada. Em busca de resolver seu problema, cada área escolhe o software que melhor se aplica às suas necessidades.
Em outros casos, a decisão pode vir de cima, escolhendo um único fornecedor – o que significa, em muitos cenários, que as áreas tenham de abrir mão de funcionalidades e facilidades. Afinal de contas, nem sempre o fornecedor que tem o melhor ERP terá o melhor CRM, por exemplo, o que sacrifica o bom desempenho da empresa como um todo. Não deveria ser assim.
Integrar sistemas não é exatamente um problema novo: fazer dois programas computacionais conversarem era uma questão nos anos 1970, nos anos 1980, nos anos 1990 e continua sendo até hoje. O desafio, porém, é que enquanto o tempo avança de maneira aritmética, a quantidade de informações disponíveis e de programas utilizados cresce de forma exponencial.
Mais que isso: com a introdução de tecnologias como computação em nuvem e inteligência artificial, há cada vez mais dados sendo registrados, podendo ser utilizados para gerar mais eficiência, produtividade e um melhor atendimento ao cliente. Integrar, portanto, é um problema que todas as empresas deveriam endereçar. E é aí que começa o dilema.
Na hora de fazer integrações, muitas organizações se veem diante de duas possíveis escolhas. A primeira é dedicar tempo, dinheiro e pessoal das equipes internas de tecnologia ou contratar software houses para construir, por conta própria, as soluções que farão, por exemplo, um sistema de análise de crédito conversar com o software de meios de pagamento e com o cadastro geral de clientes de um e-commerce. É um trabalho árduo, mas que consome recursos valiosos – e vale aqui apenas citar a escassez de talentos e a disputa por profissionais sênior na área de desenvolvimento para exemplificar porque consumir tais recursos não é fácil.
Ao dedicar tempo do time interno ou empregar uma série de desenvolvedores parceiros para construir uma solução de integração nos bastidores, a empresa deixa de direcionar esforços para o coração do negócio. É tentar matar um problema com uma quantidade descomunal de esforço – e de maneira constante, já que a cada atualização de software é preciso revisar o que já foi implementado. É claro: há companhias como Netflix ou Nubank que constroem todas suas soluções internamente. Mas nem todas as empresas são como essas gigantes – e para competir com elas, é importante escolher o que fará mais diferença no resultado final.
A outra opção neste dilema é optar por utilizar plataformas de integração de serviço, conhecidas pela sigla em inglês iPaaS. Diferentemente do que acontece na solução anterior, as soluções tradicionais de iPaaS podem trazer um retorno sobre o investimento no longo prazo e propiciar agilidade aos negócios. Mas elas também têm seus problemas: para implementar uma plataforma deste tipo, há uma série de desafios: dos custos de instalação aos modelos pouco flexíveis de precificação, passando por um período longo de implementação e pela necessidade de profissionais especializados envolvidos na solução.
Em meio a tantos riscos, benefícios e problemas, há um caminho do meio: o surgimento de plataformas que apostam em um novo modelo econômico das integrações. Este novo modelo revê as fundações nas quais integrações são construídas, quebrando o dilema de ter que optar por construir você mesmo ou adquirir plataformas tradicionais e extremamente caras.
Neste novo paradigma, o foco na cobrança está no uso das integrações, em um modelo similar ao que acontece na computação em nuvem – quando as empresas puderam deixar de comprar servidores físicos para construir seus data centers e passaram a utilizar infraestrutura sob demanda. A capacidade de responder rapidamente à demanda, inclusive, é outra vantagem desse novo modelo.
Além disso, muitas dessas novas soluções também trazem outras vantagens. Uma delas é a simplificação do trabalho de integração, permitindo que o time de tecnologia das organizações possa focar no coração dos negócios.
Muitas soluções também têm a capacidade de fazer integrações de maneira mais fácil, utilizando plataformas no-code e low-code. É um tipo de solução que permite a muitas empresas reduzir drasticamente o tempo gasto com as integrações – que, segundo dados da consultoria Gartner, chegam a consumir até 50% do tempo e do custo de execução de um projeto de TI.
São plataformas que têm um enorme potencial para se beneficiar do uso da crescente inteligência artificial generativa. Um bom exemplo é permitir que a tecnologia seja responsável por documentar os passos que cada profissional decidiu tomar ao estabelecer as integrações necessárias para as organizações. É uma forma útil de usar a tecnologia para cuidar de uma das tarefas mais negligenciadas ou postergadas dentro dos times de desenvolvimento, ainda que extremamente necessárias, seja por manutenção ou por auditoria.
A nascente tecnologia, que divide corações e mentes de executivos de tecnologia entre ansiedade e dúvida, também pode ser útil para ressuscitar conceitos que muitos abandonaram no passado por difícil adoção. É o caso do Pair Programming, técnica de desenvolvimento de software em que os profissionais atuam em duplas, tal como um piloto e um copiloto, escrevendo seus códigos.
Originalmente, o Pair Programming traria benefícios como códigos mais seguros, limpos e bem escritos, mas se tornou pouco comum justamente por necessitar que duas pessoas façam o trabalho de uma.
Com o uso de IA generativa como Pair Programmer, porém, é possível utilizar a inteligência artificial como co-pilota na hora de escolher as integrações necessárias – enquanto o desenvolvedor escreve, a máquina revisa as escolhas e sugere melhorias, com base não só em seu conhecimento, mas também nas milhares de outras integrações feitas por diferentes usuários ao longo do tempo. De uma hora para outra, a diferença será como caminhar pelo meio da floresta, mas com um mapa muito detalhado e um navegador experiente ao lado.
É claro que, em meio a tanta inovação, há quem acredite que a inteligência artificial venha para roubar empregos. Não é um cenário que parece factível no universo de desenvolvimento, por um simples motivo: hoje, a demanda das empresas por software ainda não é suprida por quem está no mercado.
Quanto mais o tempo passa, novas soluções se tornam necessárias, e é preciso que haja desenvolvedores e programadores livres para construir isso tudo ainda mais rápido, com olhar humano. E quanto mais software existir, mais necessárias são soluções de integração eficientes, em um círculo virtuoso. É por isso que trabalhamos todos os dias para dar ferramentas para potencializar o trabalho das pessoas, a fim de garantir a qualidade e a velocidade da evolução que merecemos.