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O empreendedor serial – o peso do jóquei, do cavalo e da roleta

Empreendedor serial
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*Por Adriano Pitoli, head do fundo GovTech, da KPLT e Cedro Capital

Assista a um pitch reverso e ouvirá de um gestor de VC que a aposta é no jóquei mais que no cavalo. Que o empreendedor serial é um tipo raro e valioso não há que se duvidar. 

Pesquisadores da Harvard Business School (Gompers, Lerner, Scharfstein e Kovner) analisando quase 10 mil novos negócios lançados entre 1975 e 2000, concluíram que empreendedores com track record de sucesso possuem probabilidade muito maior de serem bem-sucedidos em um novo empreendimento na comparação com empreendedores de primeira viagem ou com histórico de fracassos. 

Ok, mas quanto muito maior? 

Enquanto as probabilidades de êxito de um empreendedor iniciante ou com histórico negativo seriam de 21% – 22%, para um empreendedor bem-sucedido são de 30%. 

Maior, pero no mucho. 

Interessante também que o que diferencia os bons empreendedores seria a habilidade de selecionar o mercado e o momento do investimento, mais do que a capacidade de bater os concorrentes. Seria então a tese mais importante que a execução? De acordo, Sr. Edison? 

Em outro resultado instigante dos autores, esse diferencial de performance seria consistente não apenas com a hipótese convencional de que o empreendedor serial é uma habilidade inerente, mas também com uma hipótese alternativa. De que, mesmo tendo sido inicialmente agraciado pelo acaso, outros investidores, clientes e parceiros podem interpretar erroneamente esse sucesso inicial como habilidade inata e elevar o apoio ao empreendedor em seus projetos futuros, ampliando a probabilidade de novos êxitos. Ou seja, o Imponderável de Almeida pode se revelar um empreendedor serial. 

Outro estudo dos mesmos pesquisadores conclui que gestores mais experientes do venture capital possuem maior capacidade de identificar empreendedores de primeira viagem que posteriormente se revelam bons empreendedores seriais. Por outro lado, esses gestores não trariam ganhos adicionais aos empreendedores que já tenham track record positivo. 

Em seguida, vá a um evento de empreendedorismo e ouvirá o mantra de que fracassos forjam grandes empreendedores. 

Bem, nem todo mundo gosta de histórias de superação. 

Simon Parker, da University of Western Ontario, estudando um histórico de 25 anos de novas empresas nos EUA identificou que a experiência do empreendedor gera apenas ganhos efêmeros na performance de seus novos projetos.  

A pesquisadora Jing Chen, da NYU Shanghai e da Copenhagen Business School, concluiu que a figura do empreendedor serial de sucesso está menos relacionada a um processo de aperfeiçoamento pela prática, decorrendo mais da habilidade inata do empreendedor. O velho learning by doing seria valioso somente quando o empreendedor é reincidente em projetos semelhantes. 

Ao responderem à questão “Os empreendedores realmente aprendem? Ou eles apenas nos dizem que sim?” pesquisadores ingleses foram um pouco mais céticos. Ao analisarem mais de 6,6 mil empresas, não encontraram evidências consistentes de que os empreendedores melhoram o desempenho com a experiência, enquanto não puderam descartar a hipótese de que o desempenho empreendedor decorre do acaso. 

Ao fim do dia, o jóquei importa, mas sem esquecer que mesmo os melhores ganham uma de cada três corridas e que Mr. Random segue dominante no turfe.

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