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O futuro da saúde não está nos sistemas, mas nas pessoas que cuidam

O verdadeiro salto está na integração de tecnologias ao fluxo de trabalho real das equipes de saúde, diz fundador da Voa Health

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Healthtechs
Healthtechs | Foto: Canva

*Por Fillipe Loures, médico e fundador da Voa Health

O Brasil já concentra mais de 60% das healthtechs da América Latina e, segundo o Relatório HealthTech Recap 2024, os investimentos em startups de saúde no país cresceram quase 70 milhões de reais de 2023 para 2024. É um mercado que tem atraído cada vez mais investidores, que enxergam no Brasil o cenário propício para que empresas validem suas teses e cresçam em alta velocidade.

Se a primeira onda de healthtechs nasceu com o sonho de digitalizar tudo, agora entra uma geração que busca desenvolver novas categorias de soluções em saúde, voltadas para redesenhar a experiência dos profissionais e pacientes. Durante anos, a grande meta da tecnologia em saúde foi a interoperabilidade, isto é, garantir que sistemas diferentes pudessem “conversar” entre si. Esse desafio foi e continua sendo importante, mas puramente técnico, e, portanto, não representa um diferencial estratégico.

O verdadeiro salto está na integração de tecnologias ao fluxo de trabalho real das equipes clínicas. Não basta que os sistemas conversem entre si; é preciso que a tecnologia se encaixe de forma fluida na prática assistencial e permita que médicos, enfermeiros e demais profissionais concentrem energia em diagnósticos, nas tomadas de decisão e no cuidado ao paciente. A inovação, nesse sentido, não é apenas sobre transitar dados em um determinado padrão entre diferentes sistemas e instituições, mas sobre tornar o dia a dia clínico mais eficiente e humano.

A chave para empreender no setor da saúde não é criar um produto, mas sim resolver uma dor real. Isso significa atuar no centro dos problemas, como estafa dos profissionais, falta de vínculo entre médicos e pacientes e dados escassos sobre os atendimentos. No contexto da saúde, reinventar a roda é necessário. A forma como muitos sistemas foram estruturados agrava as dores da linha de frente: sobrecarga burocrática, retrabalho, interfaces complexas e falta de fluidez entre diferentes etapas do cuidado. A nova geração de soluções precisa, sim, redesenhar essa lógica. É preciso criar interfaces clínicas inovadoras, pensadas para reduzir tarefas repetitivas e devolver protagonismo ao profissional de saúde e ao paciente.

Esse movimento está alinhado ao conceito global de saúde baseada em valor, que orienta a inovação a partir de quatro dimensões: desfecho clínico, experiência do paciente, custo-efetividade e experiência do prestador. É justamente nesse quarto pilar que reside o diferencial pouco explorado e com maior potencial de transformação. Sem profissionais empoderados, com ferramentas intuitivas e fluxos simplificados, os outros três pilares dificilmente alcançam seu máximo impacto. Quando o prestador de saúde trabalha com mais fluidez, eficiência e satisfação, toda a cadeia se beneficia, do paciente às operadoras.

As healthtechs da nova geração estão medindo seu sucesso não apenas em downloads do aplicativo ou métricas de marketing, mas em indicadores de otimização de tempo, performance assistencial e experiência dos envolvidos na jornada do paciente. Esse alinhamento com métricas de saúde e eficiência torna a proposta de valor muito mais confiável aos olhos de clientes, parceiros e investidores.