Artigo

O lado B do Web Summit Rio e o que não atravessou o Atlântico

Temos que ficar felizes com um evento do porte do Web Summit Rio. Mas nem todas as flores são tão bonitas quanto as postadas no LinkeDisney

O lado B do Web Summit Rio
O lado B do Web Summit Rio

*Camilla Cusatis é fundadora e estrategista da Lucce Strategic Intelligence

O Web Summit Rio foi um sucesso e, fora as questões de infraestrutura (que também aconteceram em seus anos iniciais em Lisboa e não vou falar sobre elas), temos de ficar muito felizes com um evento desse porte aqui! Mas nem todas as flores são tão bonitas quanto as postadas no LinkeDisney.

Para quem já teve oportunidade de estar em Lisboa alguma vez (eu já estive em 4 edições), faltou muito para a experiência ser tão incrível quanto é lá. E trago aqui alguns pontos para gente pensar e, quem sabe, evoluir.

Conteúdo do Web Summit Rio

O conteúdo segue em formato TED: gente bacana, falando rápido, direto e na maioria das vezes um pouco raso. Hora ou outra se escutava “Nada de novo” na entrada e saída dos palcos. Destaco sempre as masterclasses e as roundtables que são sempre mais profundas e muito boas.

Mas o que teve de lado B?

As palestras com cara de “JABÁ”. Não sei se foi o jeitinho brasileiro de aproveitar o palco, mas confesso que nunca vi tamanho descaramento em alguns dos nossos speakers. Teve palestra que só faltou dar o telefone de contato da empresa. Feio e muita gente teve essa perceção. Só perguntar por aí.

Estandes

Preocupados em montar mailing list com seu contato em troca de um brinde e não em fazer conexão.

Uma coisa que me chamou a atenção foi a quantidade de recepcionistas preocupadas em te dar um “mimo” e que não sabiam o que estavam fazendo por lá.

De verdade, lá fora, não tem isso não. Quem está nos estandes são, em sua gigantesca maioria, pessoal da empresa e com foco em te conhecer e ver como podem trabalhar em conjunto. Você entra no estande já chega alguém gentilmente falando “Oi Camilla, de onde você é? O que faz por aqui? Me conta um pouco do seu negócio?”

Liderança

Diferente de Portugal, cujo empreendedorismo e inovação é uma prioridade de Estado (Vide Made of Lisboa, Startups of Portugal, Fábrica de startups entre outros), aqui, nas terras tupiniquins, não é.

E por não termos nenhuma liderança (institucional, pública ou privada), eu sinto um vazio imenso no fomento à conexão, ao network e à inovação.

Em Lisboa, se você quiser conhecer alguém dentro daquele evento, é só parar no estando do Made of Lisboa que você sai com o contato dessa pessoa na mão. Experiência própria. Fiz inúmeras maravilhosas conexões assim.

E já que não temos uma liderança instituída, onde estavam nossas associações, hubs, ventures, aceleradoras, anjos etc. que não se juntaram para fazer isso acontecer?

O que vi foram pequenos movimentos individualizados para os amigos mais próximos, ou os amigos do Rei, como costumo chamar.

Nesse quesito, sempre jogamos contra uns aos outros. Perdemos a oportunidade de crescermos como UM ecossistema. Aliás, essa palavra é muito mal usada no Brasil. Ecossistema pressupõe um grupo de atores gerando valor um para o outro.

Por aqui temos ZERO colaboração com o todo. ZERO. E quero ver quem me prova o contrário.

Onde estavam nossos Unicórnios, Zebras, Camelos etc.?

Nesses summits mundo afora, é super comum você ver um founder de sucesso sentado pelo evento tomando um café com um jovem empreendedor ou no fim do dia tomando uma cerveja com todo mundo em algum happy hour.

A gente tem tanto case bom, tanta gente boa e tanto talento pelo nosso país, mas eu só vi essas pessoas nos espaços vips ou em cima dos palcos.

Às vezes, nós precisamos fazer nosso elevador descer para trazer mais gente para cima.

Não é só humildade não; às vezes nos falta lembrar de onde viemos.

E sabe quem eu vi andando sozinho, conhecendo e conversando normalmente com as startups que estavam por lá? Tim Draper. Exato.

Tive a impressão de que poucos sabiam quem ele era, mas ele estava lá se divertindo, rindo, ouvindo e quem sabe investindo para ganhar mais alguns $$$$. Eu tirei até foto para provar!

Tim Draper soltinho pelos pavilhões do Riocentro

Quem ficou de fora?

Em Lisboa é normal você se deparar com grupos de adolescentes do ensino médio, todos de uniforme, indo para lá e para cá (e, principalmente, no Center Stage)! Não dá para pensar em futuro sem pensar que nós temos a responsabilidade de formar essa garotada para inovar.

E, mais triste ainda, não vi os negócios de impacto das nossas comunidades e da periferia brilhando como deveriam; pouquíssimos estavam por lá. Temos lideranças magníficas pelo Brasil. Perdemos todos nós ao excluirmos as pessoas. Mas o que mais me dói é a normalização da exclusão em detrimento aos negócios milionários. Estamos olhando para hoje sem construir o amanhã.

Agora, para piorar minha perceção, vejo a matéria do G1 dando destaque para o grupo de pegação formado para o evento. Jura que isso mesmo que foi o destaque? Continuamos a ser o país do sol, samba, sexo que os gringos adoram?

Para finalizar, o que mais eu ouvi ecoando pelos palcos, estandes e discursos foi a importância e a urgência da Diversidade. Como podemos ser DIVERSOS se nos falta exemplos e instrumentos que impulsionem o país como um todo e nos falta liderança, união, colaboração, humildade e inclusão?

Essa é a minha crítica.  Isso é o que não teve por aqui. Temos muito a evoluir. Espero, de verdade, que o Web Summit Rio nos ajude a aprender essa lição e evoluirmos para um ecossistema justo, equânime e frutífero.  

O Macunaíma, que habita em nós, que o diga!