*Por Marcelo Buosi, cofundador e COO da QI Tech
Durante anos, o crédito consignado esteve restrito a bancos tradicionais, focado em aposentados, pensionistas e servidores públicos. Isso está mudando rapidamente. A nova regulamentação do consignado do trabalhador expande o acesso para funcionários CLT do setor privado, criando uma oportunidade sem precedentes para as fintechs.
Nos primeiros sete dias desse modelo, sem a necessidade de convênios bilaterais entre instituições financeiras e empresas, o mercado reagiu com força: R$1,28 bilhão em empréstimos foram concedidos via Carteira de Trabalho Digital, com 193.744 contratos firmados. Para efeito de comparação, em todo o mês de janeiro de 2025, o volume total de crédito consignado privado foi de R$ 1,68 bilhão. Em apenas uma semana, essa nova modalidade já demonstrou seu enorme potencial de crescimento.
A principal inovação do novo consignado privado é a eliminação da necessidade de acordos individuais entre empresas e financeiras. Agora, a operação ocorre de forma padronizada e integrada via Carteira de Trabalho Digital, tornando o processo mais ágil, seguro e escalável. Isso permite atender um universo muito maior de trabalhadores formais, incluindo rurais, empregados domésticos e colaboradores de MEIs.
Outra grande vantagem é a introdução de garantias adicionais, como o uso de até 10% do FGTS ou 100% da multa rescisória. Além disso, a dívida permanece mesmo em caso de troca de emprego, reduzindo o risco de inadimplência. Para as fintechs, essa é uma chance valiosa. O novo modelo oferece maior previsibilidade, controle de risco e pode melhorar significativamente o desempenho das carteiras de crédito. Contudo, apenas instituições financeiras autorizadas podem operar diretamente. Isso não significa exclusão: com os parceiros certos, é possível estruturar operações robustas mesmo sem licença própria.
Provedores podem fornecer a infraestrutura regulatória e tecnológica para que fintechs atuem como originadoras de crédito consignado do trabalhador, desde a validação de identidade e ferramentas de antifraude, motor de crédito para tomada de decisão, formalização dos empréstimos e da garantia, conciliação de parcelas, renegociação, refinanciamento e portabilidade até a estruturação dos FIDCs que irão adquirir os créditos.
O momento atual é apenas a primeira fase dessa revolução. Hoje, a contratação ocorre exclusivamente via Carteira de Trabalho Digital, com login gov.br nível prata ou ouro. Mas outras evoluções já estão no horizonte: em breve, será possível contratar diretamente pelos canais das instituições financeiras e realizar a portabilidade do crédito. A cada nova etapa, fintechs poderão explorar soluções mais ágeis e customizadas, como automação avançada na concessão de crédito, personalização de ofertas e integração simplificada com diferentes players do ecossistema financeiro.
O consignado voltado ao trabalhador CLT transforma o mercado financeiro ao ampliar o acesso ao crédito com desconto em folha. Quando bem utilizado, ajuda a reduzir o endividamento das famílias ao substituir linhas mais caras por opções mais sustentáveis. As fintechs que entrarem agora terão uma vantagem estratégica: poderão testar, otimizar seus modelos e desenvolver produtos altamente aderentes a essa nova realidade. O diferencial competitivo não estará apenas no crédito oferecido, mas na experiência proporcionada e na eficiência operacional. O momento é agora. O novo mercado está pronto para ser explorado e as fintechs que souberem liderar essa transformação sairão na frente.
O crédito consignado está entrando em uma nova era, impulsionada por tecnologia, acessibilidade e inovação financeira.