* Diego Bonaldo Coelho é professor da FIA Business School
Redes são críticas no mundo contemporâneo. O sociólogo Manuel Castells foi pioneiro a descortinar o fenômeno, ao demonstrar que a sociedade em rede prenunciou nova realidade, que ressignifica as dinâmicas da vida. São inúmeras as definições de redes e de suas formas de manifestação. A ideia mais disseminada atualmente são as “redes sociais”, que encontram nos aplicativos na internet seus espaços por excelência. Contudo, existe tipo particular que vem adquirindo predominância no meio empresarial: networking.
Falar sobre networking remete à ideia abrangente de se relacionar para se posicionar profissionalmente, cujo entendimento mais comum está em possuir contatos pessoais para ser introduzido a potenciais clientes ou contratantes. Motes ecoados por vertentes motivacionais da administração expressam que não se trata exatamente do que você sabe, mas de quem você conhece. Não são poucos os eventos corporativos que nomeiam as pausas para café como networking.
Porém, o entendimento de networking como meros contatos informais destinados a gerar ganhos profissionais é limitado. Camufla o poder das redes empresariais. No campo dos negócios, redes empresariais não são a expressão mais rasa de networking. Significam vínculos e conexões que são formados entre empresas e como os relacionamentos através deles são estabelecidos e interações realizadas com outros atores da sociedade. As redes empresariais vão além da troca de cartões, do almoço ou do happy hour.
Desde o fim dos anos 90, diversas pesquisas têm apresentado evidências de que redes empresariais com relacionamentos ativos e direcionados entre os seus participantes aumentam o potencial para oportunidades, repercutindo em ganhos de competitividade a partir de melhorias da produtividade promovidas por inovações, exposição a novos fornecedores e clientes, além de mobilização de agendas comuns para defesa de interesses. Para ser efetiva são necessários comprometimento, engajamento, recorrência e, acima de tudo, formação de capital social com propósito, os quais podem se transformar em ativos intangíveis, que, internalizados pelas empresas participantes, tornam-se fontes de vantagens competitivas.
Desafios das redes empresariais
O grande desafio, no Brasil, é o de como promovê-las. Um dos problemas está na mentalidade empresarial. Para formar redes empresariais é necessário que as lideranças das empresas desenvolvam, antes, mentalidade que considere a competição como arena de cooperação. Afinal, ao contrário da competição esportiva, a empresarial é multidimensional e permite vários vencedores. O que diferencia os resultados entre empresas não é simplesmente o deslocamento de concorrentes, mas posicionamento e organização únicos frente a competidores.
O poder das redes empresariais está justamente em criar vínculos entre as empresas de diversos setores e em várias direções, seja para frente, com clientes, ou para trás com fornecedores, passando pelo lado, com concorrentes, e até com outros segmentos. Possuir mentalidade alinhada com visão holística da competição e da lógica de criação de valor é o pavimento para seu desenvolvimento. Pois é central a visão de que os vínculos que serão estabelecidos devem ser pautados pelo associativismo ativo, cooperativo, orientado a interagir recorrentemente para: i) desenvolver projetos comuns; ii) indicar empresas que podem ser fornecedoras e parceiras; iii) compartilhar melhores práticas; iv) realizar negócios entre si; e v) constituir pautas comuns para defesa de interesses coletivamente.
Parece distante da realidade brasileira, marcada pelo baixo associativismo empresarial e entendimento mais agressivo da competição. Mas experiência animadora vem do Sebrae-SP, com o seu Clube de Negócios – uma solução cujo propósito divulgado é o de revolucionar a forma de relacionamento empresarial por meio de um ambiente de conhecimento, de cooperação ativa, prospectivo e promotor de negócios, com foco em produtores rurais, micros e pequenos empreendimentos.
Resultados divulgados apontam que, por meio de uma metodologia de base tecnológica online, que promove matchmanking entre o empresariado, além de conteúdos e despachos com atores da sociedade, foi possível formar rede empresarial, com 29% dos seus integrantes declarando aumento de faturamento a partir das interações, um terço modificando a sua cadeia de fornecedores e registro de altos índices de inovação.
A experiência do Clube de Negócios do Sebrae-SP, por exemplo, sugere que as redes empresariais, de fato, são poderosas. Porém, para que elas sejam constituídas, com efetividade no Brasil, demandam mentalidade empresarial propensa ao associativismo e à cooperação. Porque, como toda rede, ela é feita por indivíduos e seus comportamentos. O empresariado nacional deve pensar estrategicamente e entender que a networking, em negócios, vai muito além do cafezinho, e que para ter cooperação, antes, é importante cooperar.