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O potencial do venture capital como investimento diversificado

Combinação de fatores como perspectiva de início da queda da Selic e redução da inflação coloca o VC como opção atrativa

Foto: Canva
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*Marcello Gonçalves é sócio-fundador da DOMO Invest

A busca por opções de investimento diversificadas tem se tornado cada vez mais relevante para investidores institucionais em todo o mundo. Em um cenário de crescente volatilidade nos mercados financeiros tradicionais, expandir para alternativas que possam proporcionar retornos significativos e ao mesmo tempo ajudar a proteger seus portfólios contra riscos, é algo que tem tudo para fazer “brilhar os olhos” deles.

Nesse contexto, o mercado de Venture Capital (VC) apresenta-se como uma opção atrativa para esses investidores, sobretudo no Brasil. Classificado como uma modalidade que acelera os empreendedores a validar suas teses, otimizar modelos de negócio e expandir conexões com novos investidores, os fundos de VC são um tipo investimento em que os recursos financeiros são aplicados em novas startups com expectativa de crescimento rápido e, consequentemente, alta rentabilidade.

Por aqui, embora seja um modelo de investimento relativamente recente, o segmento de Venture Capital tem experimentado um momento bastante auspicioso. Durante a pandemia do coronavírus, as startups enfrentaram uma onda de investimentos, resultando em um aumento significativo de aportes em 2020 equivalente a mais de três vezes ao que ocorreu em 2015.

Em seguida, o cenário mudou de figura. Em resposta à instabilidade econômica, vários países, incluindo o Brasil, optaram por elevar suas taxas de juros. Essa realidade tornou, mais uma vez, a renda fixa opção de investimento mais atraente e segura para muitos investidores, que buscavam proteger seus ativos diante das incertezas do mercado.

Todo esse movimento fez parte de um ciclo natural, que acabou por supervalorizar as empresas que tiveram aportes de fundos de VCs vindos de players que não fazem parte do game das startups. Porém, passado esse momento, permaneceram nesse mesmo game os fundos que são e sempre serão fiéis ao princípio basilar de acreditar no retorno de longo prazo.

Perspectivas positivas

No segundo semestre de 2023, há uma perspectiva promissora para o mercado de Venture Capital. De acordo com a pesquisa da Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado Federal, há indicações de que a taxa básica de juros comece a sofrer reduções já a partir de agosto deste ano.

Economistas e analistas também compartilham da crença de que os juros devem ser reduzidos. O resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, abaixo das expectativas do mercado, fortalece a possibilidade de o Banco Central iniciar o movimento de queda na taxa básica de juros, que se mantém em 13,75% a.a., já a partir da próxima reunião do Copom.

A possível queda de juros pode trazer impactos positivos para a indústria VC de diversas maneiras. Primeiramente porque, com a redução da Selic, os investidores podem se sentir mais inclinados a buscar opções de investimento com maior potencial de risco, como é o caso das startups relacionadas à digitalização de PMEs, marketplaces, mobilidade, web 3.0, cidades inteligentes e logística, só para citar alguns exemplos – que podem se tornar uma opção interessante no portfólio de ilíquidos.

Além disso, o VC é classificado como contraciclo, o que torna uma opção ainda mais atrativa para investidores, levando em consideração a combinação de investimento e mentoria. Em suma: um recurso extremamente benéfico para startups que buscam crescer e se fortalecer mesmo em meio a desafios econômicos e um oceano de riscos, mas também de muitas oportunidades.

O poder do ecossistema

Apesar de jovem, quando comparado ao mercado brasileiro, por exemplo, a indústria brasileira de Venture Capital é bastante organizada.

Há, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), mais de 13.700 startups em atividade no país, presentes nas cinco Regiões. São de fato empresas novas (45,8% foram fundadas a partir de 2020) e a imensa maioria (82%) têm soluções diferenciadas para companhias B2B e, também, para o B2B2C. Mais da metade (56,1%) possuem iniciativas relacionadas aos critérios ESG e seus fundadores são jovens, já que a idade média deles é de 40 anos de idade.

Mas apenas 39,6% já receberam algum tipo de investimento, a maior parte de investidores-anjo (39%), seguida por seed (17,6%), fomento público (13,3%), programas de aceleração (11,1%) e apenas 5% de Corporate Venture Capital.

Os empreendedores que fazem parte do ecossistema são bastante interessados no mercado de VC, buscando informações ao participar de fóruns e eventos de inovação. Mostram-se ávidos por conhecimento e por se enquadrarem nas características que tornem suas empresas elegíveis a participar de rodadas e, assim, possam ir para o próximo estágio, recebendo cheques de fundos de VC.
Muitas dessas startups demostram potencial para terem excelentes track records, assim como vislumbra-se entre elas futuros unicórnios.

A dinâmica de VC com o mercado e investidores

O mercado de Venture Capital também tem o poder de estimular o crescimento econômico ao direcionar recursos para empresas inovadoras e com alto potencial de crescimento. Por isso, os investidores geralmente optam por investir em fundos de VC, que funcionam como condomínios, nos quais gestores administram o dinheiro de diversos investidores em troca de uma taxa de administração.

Em períodos de crise econômica, mas também quando há um cenário de estabilidade e crescimento, o segmento VC pode se apresentar como uma opção atrativa para investidores em busca de retornos mais elevados, o que resulta em um aumento na disponibilidade de capital para as startups.

Nesse contexto, os gestores desse tipo de fundo desempenham papel fundamental, conduzindo uma pesquisa minuciosa e selecionando startups que atendam aos critérios de investimento estabelecidos. Em seguida, realizam uma análise cuidadosa de cada empresa, avaliando seu potencial de crescimento e levando em consideração aspectos como a equipe, o modelo de negócios e o mercado em que está inserida.

Após a formalização do investimento, o trabalho dos gestores se concentra na oferta de orientação e suporte contínuos para impulsionar o crescimento acelerado das companhias até que chegue ao objetivo primordial do investimento, que é a obtenção do retorno. Geralmente alcançado por meio da venda da empresa ou por meio de uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).

Fato é que a combinação de fatores como perspectiva de início da queda da Selic, redução da inflação, aumento do PIB e concretização de reformas importantes no Congresso Nacional põem o mercado brasileiro de VC como uma das mais atrativas opções para investidores institucionais. Quem estiver atento a esse movimento, sairá na frente.