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O que fundadores de startups pensam sobre a queda nos investimentos

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Crédito: Canva

* Bernardo Brites é CEO da Trace Finance

Em 2021 acompanhei o crescimento nos investimentos em startups da América Latina. Foram US$15.7 bilhões em valor investido na região. Em 2022, vimos o mercado olhar com desconfiança para as movimentações dos investidores e a consequente queda no valor investido em empresas latinas. 

Para se ter ideia, em junho de 2022 foram feitas 45 rodadas por startups brasileiras que resultaram em US$343 milhões captados. No mesmo período de 2021, os investimentos somaram US$2,14 bilhões – número recorde. 

O chamado inverno das startups se deu em um contexto de juros altos e inflação no mundo todo, além de crises políticas, fatores que impactaram o cenário macroeconômico. No entanto, 2022 também foi marcado pela captação expressiva de fundos por VCs (venture capital). 

Até julho, os fundos americanos, por exemplo, levantaram US$137.5 bilhões, próximo do total de 2021, com US$142.1 bilhões. Isso demonstra que os dados não se apresentaram negativos no que diz respeito ao potencial de investimento dos fundos, que têm dry powder e devem continuar buscando oportunidades de investimentos na América Latina

Ainda que tenha despertado a insegurança no mercado da inovação, a queda nos investimentos foi vista por muitos como um movimento natural de ajustes no mercado, após um ano marcado pelo grande volume investido em startups. Para ampliar a discussão sobre o tema, conversei com outros fundadores de startups para entender o que pensam sobre o cenário de investimento no setor.

Segundo Ana Zucato, CEO da fintech Noh, 2021 foi um ano fora da curva. Ela comentou que, o que vimos em 2022, é o caminho mais adequado para o mercado. “De repente, do dia para a noite, o jogo virou. Mas, no meu ponto de vista, mudou para o que deveria ser correto, natural. A mudança de cenário assusta quem não tem uma boa tese e um bom modelo de caminho para tracionar e monetizar”, detalha.

Para Jorge Vargas, CEO da BHub,  o ano de 2022 foi positivo, ainda que os investimentos tenham diminuído. Ele ainda chama a atenção para a captação dos fundos de venture capital e o potencial de investimento. “Se você faz um zoom out do contexto, é muito bom. Esse ano de 2022 já é o maior ano em termos de captação da indústria de venture capital da história. Os VCs estão com muito dry powder, tem dinheiro para investir”, explica.

Apesar dos fundos estarem em  com “money in the pocket” o último ano não foi tão favorável para investimentos de risco. Alguns fatores estão contribuindo para não ter tanto investimento assim como em 2021, em termos de volume e número. 

Rodrigo Tognini, CEO da Conta Simples ressalta que em 2021, o mercado estava com muita liquidez, então os LPs (limited partners) dos fundos, estavam com uma expectativa de alocar capital em ativos de risco. Porém esse jogo mudou no mundo inteiro. O CEO também ressalta a importância das startups se adaptarem a essa nova realidade de mercado. “É uma correção de mercado, e quem souber jogar o jogo de estabilidade com crescimento acelerado vai sair na frente, vai continuar crescendo, porque os fundos estão capitalizados”. comenta Rodrigo. 

Para os founders, esse é um momento de olhar para dentro. De ter clareza sobre as métricas, mostrar a importância dos números, o que está acontecendo, quanto você está crescendo ou queimando recursos, como está o seu time, seu produto e se tem tração ou não. 

“Os fundos que capitalizaram em 2019, 2020, 2021 e 2022 tem um timing para alocação de dois a quatro anos. Então acredito que no período de 2023 para 2024 vai ser melhor que em 2021. Quem puder, estenda o runway, faça o dever de casa, trabalhe as métricas, porque o futuro ali é muito brilhante”, explicou Vargas.