*Por Eduardo Machado, CTO da Celero
Nos últimos anos, a inteligência artificial se tornou um dos temas mais discutidos no mercado de tecnologia. Uso de modelos de processamento de linguagem natural avançados para automação de processos e ferramentas de análise preditiva prometeram revolucionar setores inteiros. No entanto, o que vejo na prática é que muitas empresas ainda caem na armadilha de focar na tecnologia em si, e não no problema que precisam resolver.
Durante minha trajetória, aprendi que a IA, assim como qualquer ferramenta tecnológica, é um meio, não um fim. Isso significa que sua implementação só faz sentido quando está alinhada a um objetivo claro de negócio, com o impacto que esperamos que gere na vida das pessoas. No setor financeiro, por exemplo, o uso de inteligência artificial pode gerar insights valiosos para clientes, otimizar a análise de crédito e impulsionar a eficiência operacional. No entanto, a adoção indiscriminada de IA sem uma estratégia bem definida pode resultar em desperdício de recursos, soluções pouco efetivas ou até mesmo falhas por conta de dados errados.
A inteligência artificial atual ainda está longe de ser a solução mágica que muitas empresas esperam. Modelos generativos, como o ChatGPT, são impressionantes em algumas tarefas, mas podem falhar em precisão e contextualização quando aplicados a cenários mais complexos. Além disso, há desafios como viés, privacidade de dados e a escalabilidade do ponto de vista de custo.
Outro ponto crítico é que muitas empresas investem em IA sem ter uma base de dados estruturada. Um modelo pode ser extremamente avançado, mas sem dados organizados e relevantes, ele não gerará resultados significativos. Percebi que antes de escalar o uso de IA, era essencial garantir que os dados financeiros dos clientes estivessem bem agregados e normalizados. Sem isso, qualquer automação baseada em inteligência artificial se tornaria apenas um enfeite tecnológico sem impacto real.
Com certeza a tecnologia é um vetor de alteração do mundo como conhecemos, porém, o hype em torno da IA pode criar muitos efeitos colaterais danosos. Dentre eles a decepção na capacidade destas ferramentas gerarem receita no curto prazo, o que pode gerar uma redução de investimentos para este fim no futuro, fazendo com que tecnologias que precisam de um longo período para maturar acabem parando de evoluir por falta de recursos dedicados para elas.
O futuro da IA no mercado não está na simples adoção de novas ferramentas, mas na capacidade de integrar essa tecnologia a estratégias bem definidas. As empresas que se destacarão não serão aquelas que apenas adotam inteligência artificial, mas sim aquelas que a utilizarão como mais uma ferramenta, em conjunto com todas as outras já existentes.
A IA pode ser um diferencial competitivo, mas apenas quando utilizada com propósito. E esse propósito deve vir antes da tecnologia. Essa é a chave para transformar hype em impacto real.