* Nyldo Moreira é Sócio e COO da Fala Criativa
O Web Summit está para o empreendedorismo como a Week de Paris está para a moda. Não necessariamente você vai vestir, mas vai refletir. Desembarcar em Lisboa já te faz ser surpreendido com uma cidade que mistura o antigo e o novo convivendo em perfeita harmonia, parece clichê mas é exatamente o que sentimos, prédios históricos dividem espaço com startups modernas, negócios inovadores, muitos turistas e bacalhau.
Mas vamos começar aqui com o fator que mais me chamou atenção positivamente e confirma algumas percepções que tenho há um tempo, metade do público de 70 mil pessoas do evento era composto por mulheres. E foi incrível ver o mercado de startups e inovação tomando outra forma, se abrindo e dando espaço para todos. E aqui trago uma reflexão: será que já não passou da hora de abandonarmos o termo “empreendedorismo feminino” e chamar apenas de empreendedorismo? Afinal, elas mostram que muitas vezes tem mais ousadia que empreendedores homens, estão dominando os lugares e mostrando aquilo que não aceitam mais.
No quesito ousadia algo me brilhou os olhos, duas desenvolvedoras sentadas no chão com a frase escrita em um papelão “quer desenvolver um app, fale com a gente”. Outro momento que captou não só a minha, mas a atenção de todos, na palestra sobre marketing para 2023, a CMO da Lego, Julia Goldin, foi interrompida algumas vezes por seu colega de palco, Sir Martin Sorrel, da S4 Capital, e ao final, na hora de passar suas percepções, pediu com extrema elegância e delicadeza que pudesse concluir o seu pensamento sem ser cortada e foi, claro, aplaudida por muitos da platéia – homens e mulheres.
Aproveitando que estamos falando sobre este bate papo, trago aqui dois insights importantes que ambos trouxeram. O mundo está extremamente fragmentado e isso vai impactar ainda mais o marketing no próximo ano, trazendo nebulosidade, além da guerra da Ucrânia continuar a afetar os negócios temos a força que China e EUA estão ganhando mundialmente – apesar da discordância dos speakers aqui em relação ao país asiático.
Globalização e descentralização
E seguindo no tema mundo, outro ponto muito interessante de perceber dentro deste summit foi que os negócios estão caminhando para globalização e descentralização do mercado. Diversos países possuíam stands dentro dos pavilhões e vendiam o peixe do seu país, mostrando porquê investir, quais os incentivos fiscais e como o público recebe produtos.
Esta discussão acompanhou um dos jantares que participei – aliás, esse além do evento é fundamental – no qual os empresários e C-levels presentes comentavam sobre como é importante globalizar, porém com estratégia e consciência. Por exemplo, produtos capilares brasileiros são febre nos Emirados Árabes, então, na hora de pensar em expansão global, por que não focar em um produto para este mercado, crescer, ganhar tração e então expandir? E assim é possível descentralizar negócios e alcançar novos horizontes.
Mas nem só de globalização e negócios se vive neste Web Summit, é claro que o marketing de influência e as projeções para os creators não poderia ficar de fora! O que ouvi de mais interessante foi sobre o movimento de creators se transformando em empreendedores e vice e versa, algo que já vemos no Brasil desde o início da pandemia, não é mesmo? Mas eles trouxeram também o cenário de empresas B2B que estão aprendendo a usar esta ferramenta para crescer os seus negócios, e esta será uma grande tendência para os próximos anos.
E eles trouxeram uma possível resposta para a pergunta de milhões: qual o melhor canal para crescer? O TikTok! A “rede vizinha” como é chamado está se consolidando como uma ferramenta para ganhar tração, e aqui a dica foi ganhe tração com TikTok e até mesmo com reels no Instagram, aumente sua base e então a leve para outros canais nos quais você poderá criar conexão e mostrar novas vertentes de seu trabalho. Ah, e isso vale para todos os segmentos viu?!
Já no painel “O futuro do OnlyFans: quem somos e para onde vamos”, a CEO da companhia Amrapali Gan, contou que para eles o que vale é um creator bem remunerado, do lado de cá fica o insight de que nem sempre precisamos começar uma relação ofertando conteúdo ou ferramentas gratuitas, se mostrarmos o valor do nosso produto, ele pode ser monetizado desde o momento um.
Eu te contei tudo isso e você deve estar se perguntando, mas como absorver tanto conteúdo, por onde começar e o que devo esperar deste evento, certo? Então eu te conto.
O evento é uma ótima oportunidade para criar conexões, fazer o famoso networking, mas não necessariamente de acessar conteúdos profundos e sair dos painéis com estratégias. Te explico o porquê desta afirmação, quase todos os painéis têm o formato de duas ou mais pessoas debatendo um tema em 20 minutos, alguns são considerados masterclasses, porém com o mesmo tempo de duração, ou seja, é impossível aprofundar algo neste período.
Mas aqui a estratégia é, escute com atenção e se conecte com pessoas ao seu redor, com o speaker e com opiniões divergentes, assim você terá insights ricos. As pessoas vêm para este tipo de evento abertas a conhecerem novos negócios, novas culturas, até o momento das filas quilométricas pode virar uma oportunidade de conexão ao invés de reclamação (risos).
Tenho certeza que nestes quatro dias novos negócios se formaram, novas sociedades surgiram, startups vão pivotar suas ideias, incluindo nós da Fala Hub que já estamos pensando em novos formatos de comunicação que podemos entregar para o mercado brasileiro. E, se eu fosse responder a pergunta feita no título, depende do que você busca ou está aberto. Só não fique fora de grandes movimentos do mercado, ou crie algo novo.