*Richard Zeiger é sócio da MSW Capital
Dentre as diversas ferramentas que as grandes empresas possuem para atuar com inovação, o Corporate Venture Capital (CVC) vem ganhando cada vez mais destaque no Brasil. De acordo com dados de pesquisa feita pela ABVCAP em 2022, 13 novas empresas iniciaram suas atividades de investimento minoritário em startups com um compromisso de investir mais de R$3 bilhões nos próximos anos.
Existem muitas razões para corporações investirem em startups, no entanto, o sucesso de um programa de CVC depende de vários fatores. Em primeiro lugar, é importante que o programa seja apoiado pelo Conselho ou pelo C-Level da empresa. Isso porque o CVC é um negócio de longo prazo e precisa coexistir com os desafios imediatos das empresas. Se não houver alinhamento e envolvimento dos níveis hierárquicos mais altos, o programa pode ser abandonado ao primeiro sinal de dificuldade.
Outro desafio importante é a definição da tese de investimento do CVC. Para evitar conflitos com as unidades de negócio da empresa, é recomendável que os investimentos sejam direcionados para negócios mais distantes do core business (H2 e H3). Além disso, é preciso engajar os líderes das principais unidades de negócio tanto no pré-investimento quanto principalmente no pós-investimento, para garantir que as sinergias sejam geradas e ambos, corporação e principalmente startups se beneficiem dessa relação.
Estratégia para o sucesso
Um ponto crucial para o sucesso do CVC é a construção da reputação da corporação no ecossistema de inovação junto a empreendedores e demais investidores. Os empreendedores se falam e trocam experiências sobre ter o fundo “x” ou o CVC “y” como investidores. Quanto melhor a corporação for para suas startups investidas, mais empreendedores buscarão investimento do CVC daquela corporação e mais oportunidades de co-investimentos serão geradas. Isso cria um círculo virtuoso de muito valor.
Ao adotar uma estratégia para tese de investimento ou as razões para uma corporação fazer CVC, ainda que retorno estratégico seja a principal motivação no início, não se deve negligenciar a importância do retorno financeiro. O CVC tem um “C” no final de Capital por uma razão – é um negócio de investimento, e embora não seja necessário mirar um retorno maior que 10X, é importante que qualquer programa de CVC admita o retorno financeiro como uma das principais diretrizes.
No longo prazo, somente o retorno financeiro é capaz de garantir a auto sustentação de um programa de CVC e torná-lo perene ou até mesmo permitir a criação de um novo negócio apartado da corporação, o que é comum em casos mais maduros de muito sucesso.
Para a corporação, o CVC é um negócio em que a jornada é muito mais valiosa do que o destino final. A jornada não é fácil para os executivos que estão tocando o programa, mas há muito ganho e aprendizado para todos. Na prática, o impacto maior será sempre na startup, e a realidade é que se o negócio do empreendedor der certo (dar certo = idealizou, criou, captou, cresceu, vendeu com valorização), todo mundo sai ganhando.
Em resumo, o CVC é uma ferramenta poderosa para as empresas que desejam inovar e explorar novos mercados. Porém, é preciso estar ciente dos desafios envolvidos e das diretrizes necessárias para garantir o sucesso do programa. Com a abordagem correta e principalmente com profissionais ou empresas (gestoras) experientes, o CVC pode gerar retornos significativos e duradouros para a corporação, além de impactar positivamente o ecossistema empreendedor, o que por si só, já é um objetivo suficiente.