* Felipe Novaes é sócio e cofundador da The Bakery
Poucos ambientes são tão difíceis de inovar quanto uma grande empresa. Conheço excelentes executivos que atuam em multinacionais com ideias brilhantes, mas que exatamente por causa do futuro que imaginam são pessoas consideradas incompreendidas, inconformadas ou até mesmo “loucas”, como dizem. Caso não lhes deem a chance de materializar essas ideias, com o tempo esses profissionais se frustram. Ou eles se adaptam ao padrão, ou escolhem lugares diferentes, que os aceitem. E por que funciona assim?
Eu mesmo já passei por dilemas semelhantes nos treze anos em que construí minha carreira dentro de multinacionais. A sensação de desencanto me fez repensar a carreira e sair para empreender. O mais curioso hoje é que, cada vez mais, empreender do lado de fora da empresa onde você trabalha é apenas uma das opções. Atualmente, as grandes organizações têm estado mais abertas a diferentes empreitadas dos seus colaboradores, em uma relação lado a lado com ganhos para as duas partes. Ainda assim, há muitos desafios e o maior deles é como vencer a resistência ao novo para que a transformação tenha sucesso.
Certa vez, a escritora americana Brené Brown disse que “coragem é estar vulnerável”. Concordo e acrescento que a inovação também nos demanda uma atitude corajosa. O resultado dessa lógica é que o ato de inovar ganha impulso a partir do momento em que assumimos um estado constante de vulnerabilidade. Muitos dos ambientes corporativos, no entanto, permanecem como locais que não nos permitem agir dessa forma. A empresa tradicional recomenda esconder a fraqueza, o incômodo.
E é aí que entra o paradoxo dessa reflexão. Quando somos promovidos ou mudamos de emprego, ocorre o contrário. Nessa hora nos colocamos em um lugar que dá frio na barriga. Talvez não por insegurança, mas pelo desconhecido, pela nova dinâmica, pela necessidade de arriscar, pelo que é necessário aprender, ou construir entre líderes e liderados. Para assumir uma nova posição somos corajosos e não nos importamos em estar vulneráveis. Não temos medo de questionar e nos mostrar inconformados. Mas quanto tempo isso dura? Em geral, muito pouco.
Logo somos engolidos pela burocracia e correria da entrega do dia, do trimestre, do ano fiscal. Não raro, em uma grande empresa, o recém-contratado já não tem quase tempo de chegar, absorver o conhecimento, apresentar-se aos novos colegas. Ele já entra para o jogo. O tempo de inovar fica para quando o ritmo diminuir e por acaso houver um intervalo na agenda – embora a cobrança por fazer diferente continue a existir, com estratégias muitas vezes inadequadas.
Importância da conexão
O trabalho remoto ou híbrido prejudica ainda mais a situação ao reduzir o contato humano. São times que atuam “juntos”, mas que convivem pouco, sem chance de nutrir empatia ou se conectar de maneira próxima, que fortaleça os laços tão necessários para promover a inovação. Sim, não inovamos sozinhos. Precisamos de uma interação efetiva e com o máximo de clareza. Nesse ponto, como cultivar a vulnerabilidade das pessoas e perceber melhor o outro na tela do Zoom?
Presencialmente ou amenizando os impactos da distância, é na conexão que desenvolvemos coragem, ganhamos liberdade de questionar métricas, regras, processos, status quo. Somos corajosos o suficiente para nos colocarmos em posições de vulnerabilidade, em que até podemos tomar na cabeça, mas com preparo para vencer os obstáculos.
Temos que ser os primeiros a propor novas maneiras de realizar. Precisamos ser aquele vírus insistente dentro do superorganismo vivo, que é a grande empresa. Precisamos de resiliência. E, mais do que tudo, habilidade de comunicação para transitar em todos os espaços. Desde a diretoria executiva, o Conselho até os estagiários. Só aí seremos inovadores.
Aos incansáveis, corajosos e vulneráveis.