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*Marcelo Homrich é Program Manager da Halcyon

O universo das startups com foco em empreendedores que desenvolvem negócios para gerar impacto social registrou crescimento recorde no mercado de investimentos no último ano. Segundo dados da Halcyon, incubadora americana, os valores ultrapassaram a marca de US$ 1 trilhão com o apoio de uma ampla gama de investidores, incluindo fundos de venture capital, investidores anjos e fundações.

Uma realidade impulsionada, entre outras questões, por uma maior consciência da crise climática que estamos vivendo e uma mudança nas percepções sobre a viabilidade financeira dos investimentos sustentáveis.

Segundo estudo da consultoria McKinsey Sustainability, até 2025, as novas tecnologias climáticas devem atrair investimentos da ordem de US$ 2 trilhões por ano, abrindo novos mercados e criando oportunidades para inovações disruptivas, por meio de startups de impacto social, desde energia renovável até tecnologias de captura de carbono. Inovações que são fundamentais para atingirmos as metas globais de sustentabilidade e combater as mudanças climáticas.

A COP 28, Conferência do Clima das Organizações das Nações Unidas (ONU), encerrada em 13 de dezembro, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, trouxe pela primeira vez um compromisso para a redução de combustíveis fósseis de forma gradual para atingirmos o net-zero até 2050. Também reiterou o compromisso em manter o aumento da temperatura em 1,5ºC e, para tanto, a necessidade urgente de reduzirmos as emissões de carbono.

Estamos diante de desafios, mas também de grandes oportunidades. E, esse tem sido o nosso foco, a partir de um programa direcionado para startups de impacto social que desenvolvam projetos alicerçados em três pilares, sendo um deles o clima, ou seja, tecnologias que possam contribuir para um futuro sustentável. Nosso olhar, neste sentido, tem sido direcionado aos países do Sul Global, inclusive o Brasil, que são os mais afetados pela crise climática, apesar de ser um problema que atinge o mundo todo.

Soluções de impacto social disruptivas

Recentemente, em um programa específico para startups de impacto social da América Latina, fomos surpreendidos pela qualidade das soluções apresentadas e com abrangência em relação aos diferentes aspectos e impactos que o aquecimento global tem em nossas vidas.

A startup brasileira Bioplix é um bom exemplo na área de agronegócio. A empresa desenvolveu um revestimento biodegradável e atóxico que protege alimentos contra fungos, bactérias, vírus e insetos, ampliando o seu tempo de duração e, consequentemente, reduzindo o desperdício e as consequências relacionadas ao descarte, pois sabemos que os lixões são grandes produtores de gás metano. Na mesma linha, a Sylvarum, startup da Argentina, focou na economia de água na agricultura, utilizando um processo de eletroestimulação de plantas para um crescimento mais rápido e eficiente. Assim, no mesmo hectare cultivado de forma tradicional é possível produzir mais e reduzir o gasto com o uso da água para irrigar a plantação.

Já a Nano Freeze, da Colômbia, desenvolveu uma solução para tornar mais eficiente o transporte de produtos congelados, desde alimentos até vacinas e outros componentes da indústria farmacêutica que precisam ser conservados em temperaturas adequadas. As empreendedoras se debruçaram sobre um dado bem interessante, o impacto da refrigeração no aquecimento global, devido ao consumo de energia elétrica. Por meio de nano tecnologia, elas criaram uma solução que congela os produtos mais rápido e, consequentemente, com uma economia de energia significativa quando pensamos em sua aplicação em grande escala.

Outra solução bem disruptiva é a da startup Bybug. O foco é o uso de insetos geneticamente modificados para processar material orgânico. O ciclo do processo é todo sustentável, pois transforma o lixo em matéria reutilizável pela agricultura em forma de adubo. Além disso, é possível alimentar animais de criação com a proteína originada do processo. No Chile, a startup já vem aplicando sua solução e a meta é expandir para toda a América do Sul. Mas as ideias não param por aí. Vão desde projetos para o descarte correto do lixo em ilhas do Caribe, passando por soluções para ajudar famílias carentes atingidas por enchentes e até plataformas para pequenas e médias empresas calcularem sua pegada de carbono.

Lançar luz sobre o universo das startups de impacto social, a partir de um recorte específico, é importante para termos noção do papel que tentamos desempenhar como incubadora desses projetos, mostrando os caminhos que devem seguir na busca de investidores e parceiros para que suas ideias possam florescer (saiba mais sobre nossos programas de bolsa clicando aqui).

A América Latina tem uma importância estratégica no atual cenário que estamos projetando para impulsionar e oferecer oportunidades para startups de impacto social. E foi muito satisfatório perceber como o ecossistema na região está desenvolvido e maduro.

Mas, esse cenário exige um foco de longo prazo para startups lideradas por impacto, aproveitando o crescente número de investidores comprometidos com princípios de investimento responsável. E esse é o nosso papel para que as startups tenham uma estratégia na hora de garantir um financiamento como foco na rentabilidade, entre outros princípios importantes.

E o Brasil, apesar de ainda ter um mercado emergente de investimento de impacto comparado com outras regiões, está se desenvolvendo com o surgimento de novos investidores locais e o fortalecimento do diálogo entre mercado, governo e sociedade civil.

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