
*Por Felipe Negri, CEO do Pinbank
A digitalização dos serviços financeiros no Brasil já é mais do que uma realidade; é um processo que vem avançando rapidamente nos últimos anos. O sucesso do Pix, que conquistou milhões de usuários em tempo recorde, é um dos maiores e mais conhecidos exemplos disso. Mas, definitivamente, um dos grandes avanços nesse âmbito, que ainda não possui a adesão que poderia ter, é o Open Finance.
Lançado oficialmente em 2021 como uma evolução do Open Banking, o sistema permite que os usuários compartilhem dados financeiros com diferentes instituições de maneira segura, para acessar soluções mais personalizadas e condizentes com o perfil de cada um. Estamos falando de situações como a otimização da concessão de crédito, o aprimoramento da gestão de investimentos ou até a prevenção de fraudes. Tudo isso estimula o ecossistema financeiro com melhores taxas, operações mais transparentes e decisões embasadas.
No Brasil, alguns números já ajudam a ilustrar o potencial dessas possibilidades. Por exemplo, o levantamento “Open Finance Maturity Index Brasil 2024”, produzido pela Capgemini, aponta que o Open Finance do país possui uma maturidade de 77%, equiparável a nações líderes como Reino Unido e Austrália.
Mesmo assim, o sistema ainda não foi abraçado como deveria, especialmente por conta de barreiras culturais, educacionais e institucionais. Uma pesquisa do Datafolha indica que 55% dos brasileiros entrevistados não conhecem essa tecnologia. Ou seja, metade da população não sabe o que é uma das principais revoluções do mercado financeiro moderno.
Educação financeira
Grande parte da resistência em relação ao Open Finance vem de uma desconfiança histórica com instituições financeiras de modo geral, além do medo de expor informações pessoais, mesmo com legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a estrutura regulatória do Banco Central. A proposta de “compartilhamento de dados” ainda carrega um peso negativo no imaginário coletivo, muitas vezes associado a vazamentos, fraudes e perda de privacidade.
Isso significa que várias pessoas ainda não entendem como os sistemas digitais podem ser usados a seu próprio favor — e não contra elas. É um estigma que faz parte do mercado financeiro do passado.
Ou seja, a baixa educação financeira é um fator que pesa muito nesse cenário. O aumento de ofertas de produtos com vantagens competitivas claras, trarão a merecida credibilidade ao Open Finance, desde que trabalhadas de forma simples e didática pelos agentes do setor e do ecossistema de inovação, com informações acessíveis. Só assim o sistema ganhará a confiança e tração ativa e contínua entre os usuários.
Segundo o levantamento do IBGE de 2024, o Brasil possui cerca de 25,5 milhões de trabalhadores autônomos e aproximadamente 15,7 milhões de MEIs. Os dados mostram, não apenas o grande volume de pessoas inseridas na Gig Economy, como também de trabalhadores atuando dentro da chamada “pejotização”. Ambos os casos costumam enfrentar dificuldades na comprovação de renda e no aproveitamento de serviços como financiamentos e empréstimos. O conceito de open finance pode potencializar a captação real da renda presumida desta população, que não passa hoje pelo sistema financeiro básico, fortalecendo a inclusão financeira, ampliando oportunidades econômicas e a formalização no mercado.
Mergulho na inovação
Acelerar a digitalização do mercado financeiro é outro aspecto que só tende a ajudar o Open Finance, tanto para melhorar o sistema, quanto para facilitar na adesão. Assim como muitas pessoas não sabem o que é essa tecnologia, várias empresas ainda insistem em atrasar esse processo de transformação digital.
A última edição do “FinFacts – descobertas e oportunidades que valorizam os serviços financeiros”, estudo produzido pelo Google Cloud no Brasil em parceria com a R/GA, dá uma amostra disso: 11 das 19 instituições pesquisadas não mostram saldos bancários de outros bancos via Open Finance.
Esse tipo de conduta é o mesmo que recusar a oportunidade de crescer — e até sobreviver — no mercado. A tecnologia é o caminho para que os serviços financeiros se tornem cada vez mais inteligentes, automatizados, intuitivos e ágeis, impulsionando negócios de todos os portes.
O próprio avanço da IA (Inteligência Artificial) realça isso. Ferramentas desta categoria já estão sendo integradas a plataformas que operam com Open Finance para oferecer insights preditivos, evitar riscos de golpes e auxiliar usuários em uma tomada de decisão mais consciente e feita em tempo real.
Claramente não estamos falando de um plano para um futuro distante. O Open Finance já está em funcionamento e tem todas as ferramentas para melhorar a vida financeira dos brasileiros. Para avançarmos, basta querermos que ele realmente avance.
*Engenheiro graduado pelo Instituto Mauá de Tecnologia e com atuação no segmento por mais de 8 anos, Felipe migrou para o setor de inovação e finanças ao assumir a gerência de inovação na B2W Digital, onde ao longo de quase 5 anos foi responsável pelo planejamento de investimentos, estudos de viabilidade e análise de redução de custo.
No Pinbank, o especialista em estratégia de dados pela Universidade da Califórnia assumiu como CEO, em 2022, com foco em inovação e abertura de novos mercados, inserindo a instituição financeira no circuito do DREX, Pix e adquirentes diretos, cartões de crédito e contas digitais.