CVC | Foto: Canva
CVC | Foto: Canva

*Por Phillip Trauer, diretor da Wayra Brasil e Vivo Ventures

A relação entre startups e grandes corporações no Brasil entrou em uma nova fase. O volume de deals não é mais o mesmo do boom pré-2022, mas o ambiente de CVC em 2025 é marcado por algo talvez mais valioso: maturidade. Vemos maior seletividade nos investimentos, foco em tecnologias emergentes como inteligência artificial, busca por autonomia operacional e uma reavaliação crítica das parcerias estratégicas. O modelo de CVC deixou de ser uma aposta oportunista e passou a ser um instrumento estratégico, moldado pelas novas realidades do mercado e pelas demandas de inovação das corporações.

O mercado, embora ainda em recuperação, dá sinais consistentes de avanço. O relatório recente The State of Corporate Venture Capital, do Silicon Valley Bank e da Counterpart Ventures, destaca exatamente isso: CVCs mais disciplinados, investindo de forma criteriosa e mirando oportunidades de impacto real.

Essa maturidade não se revela apenas no capital investido, mas na qualidade da relação estabelecida. O papel do CVC vai muito além de diversificar portfólio ou buscar ROI. O nome do jogo, atualmente, trata-se de destravar novas avenidas de crescimento, alavancar eficiência operacional e posicionar as empresas à frente das grandes transformações. Isso significa oferecer às startups algo que dinheiro sozinho não compra – acesso a canais, infraestrutura, dados, marca e a capacidade de acelerar o go-to-market.

Para isso, é preciso combinar disciplina estratégica com flexibilidade operacional. Empresas que querem atrair os melhores founders precisam se adaptar com processos menos burocráticos, como processos de contratação e pagamento mais ágeis, squads internos dedicados à integração e uma cultura aberta à experimentação. Startups não querem apenas um investidor, elas querem um parceiro capaz de acompanhar o ritmo delas. 

O primeiro passo é estabelecer uma visão compartilhada entre uma startup e um CVC começa com um diálogo aberto e transparente sobre as prioridades estratégicas de cada parte e as expectativas em relação à colaboração. Startups geralmente estão focadas em agilidade, crescimento e tração de mercado, enquanto os CVCs podem priorizar alinhamento estratégico com a empresa-mãe, acesso à inovação ou retorno financeiro de longo prazo. 

A chave é identificar desde cedo as áreas de benefício mútuo; seja no codesenvolvimento de produtos, no acesso a mercados relevantes, na validação tecnológica ou no posicionamento dentro do ecossistema. Nosso foco está em alinhar esses interesses sobrepostos em um conjunto comum de objetivos, que são revisitados e refinados ao longo do tempo conforme a relação evolui.

Por sua vez, também vemos um novo perfil de empreendedor. Muitos founders já viveram do outro lado da mesa como executivos. Conhecem os dilemas corporativos, entendem a complexidade da inovação e chegam mais preparados para extrair valor de uma parceria estratégica. Mais do que capital, buscam qualidade na relação, clareza nas expectativas e compromisso real com o crescimento.

Ser founder-friendly não é discurso, é prática. Como diretor dos CVCs da Vivo, vejo diariamente como medidas aparentemente simples, como reduzir fricções contratuais, acelerar pagamentos, criar trilhas rápidas de escala, já fazem diferença no sucesso de uma startup. Apoiar de forma concreta é o que garante que os founders gastem energia no que importa, que é focar no seu negócio.

O crescimento da inovação aberta no Brasil mostra que a combinação certa de visão estratégica, execução precisa e complementaridade de capacidades gera resultados concretos: novos produtos, novos mercados e oportunidades de investimento transformadoras. O ecossistema já amadureceu, mas o próximo salto exige mais do que intenção, precisa de colaboração efetiva, coragem para experimentar e disciplina para transformar ideias em impacto real. Inovar deixou de ser uma opção; hoje, é a chave para diferenciar empresas e consolidar o futuro do mercado, alavancando negócios e apoiando o desenvolvimento da economia.