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Quase metade das empresas não gera resultados por falta de governança

Pressão por resultados motiva melhorias incrementais, em vez de investir no que pode trazer novas linhas de receita

Foto: Canva
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*Kim Silvestre é Partner and Head of Project Portfolio na ACE Cortex

Nos últimos meses, empresas como Tupperware e Grupo Petrópolis, assim como muitas outras em diferentes setores, têm enfrentado dificuldades financeiras devido a gastos excessivos e falta de uma estratégia adequada. Elas não seguiram um princípio básico dos negócios: o caixa é o rei!

O que essas empresas têm em comum é a falta de uma boa estratégia, de uma compreensão do consumidor e de garantir que as ações de hoje garantam a sobrevivência e evolução dos negócios no futuro. Esse é um dos desafios enfrentados por empresas e executivos que parecem ter esquecido receitas “infalíveis” de estratégias executadas por décadas.

Na realidade, o contexto atual é o mesmo, mas a voz do cliente está mais alta do que nunca, influenciando qualquer decisão corporativa e destruindo planejamentos de longo prazo em questão de segundos. Muito se fala sobre a burocracia e a falta de agilidade, mas o problema é maior e está relacionado a estratégias obsoletas e à falta de sintonia com os clientes.

A pressão por resultados muitas vezes leva ao foco em melhorias incrementais, em vez de investir no que pode trazer novas linhas de receita que garantirão a sustentação do negócio. Assim, vemos grandes marcas investindo tempo e dinheiro em produtos que já não fazem mais sentido para o momento atual, endividando-se para financiar ações de marketing que já não têm apelo para o novo consumidor, especialmente quando o produto já não é mais desejado.

Uma pesquisa recente realizada pela ACE Cortex revelou que 43% das empresas enfrentam dificuldades em gerar resultados em projetos por falta de governança, e mais de 71% dos entrevistados afirmaram que falta uma estratégia e preparo da liderança sobre qual direção seguir. Isso confirma que ainda prevalece a velha dinâmica em que o líder cria um projeto a partir de “achismos” e convicções próprias enquanto o time executa. Isso funcionava no passado, quando a estratégia estava desconectada da voz do cliente e as opções eram menores e menos acessíveis. Para o cliente, era isso ou nada.

Projetos baseados em dados e fatos

Nessa nova dinâmica, os líderes precisam adotar uma postura de ouvinte e criar mecanismos para governar qualitativamente seus projetos com base em dados e fatos advindos do consumidor. Em resumo, três elementos precisam ser constantemente avaliados e revisados para uma boa estratégia:

  1. Avaliar o ambiente interno: É importante identificar os diferenciais da empresa, identificar os gaps de produto/serviço, avaliar como estão os projetos voltados para o futuro, como esses projetos se conectam com os diferenciais da empresa, o que gera mais caixa e como a evolução do produto/serviço é cuidada, e como as áreas de negócio estão trabalhando nesses projetos.
  2. Avaliar o ambiente externo: É fundamental compreender o que o cliente diz e quem ele é, analisar a jornada do cliente e identificar os pontos voláteis que podem mudar repentinamente, observar para onde os concorrentes estão se direcionando e quais decisões boas e ruins eles tomaram recentemente, existem oportunidades tecnológicas e legais, e qual tipo de solução pode afetar o nosso principal gerador de caixa.
  3. Definir um foco e um tempo: Com base na análise dos pontos 1 e 2, é necessário priorizar onde irá atuar e determinar, com base em dados, quando você deve revisar tudo isso. Divida seus investimentos em fases, teste, erre e aprenda. Coloque esforços reais para cadenciar os resultados, colete feedbacks constantes e, quando sua estratégia se provar eficaz, execute-a com velocidade e gere caixa. Repita o processo incansavelmente.

Uma estratégia de inovação eficaz e alinhada com as necessidades dos clientes e do mercado requer a adoção de diversas ações. A inovação e a adaptação são elementos essenciais para o sucesso das empresas na atualidade. Nesse contexto, é fundamental que os líderes assumam uma postura de ouvinte atento e utilizem dados e fatos do consumidor para governar seus projetos de forma qualitativa. Essa abordagem é uma regra fundamental para garantir a inovação e a adaptabilidade necessárias para se destacar em um mercado competitivo.