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Recrutamento tech: Impactos da pandemia, VC e contratações

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*Tomás Ferrari é fundador e CEO da GeekHunter

Pra começar, não tem como falar de oferta e demanda de profissionais no mercado de tecnologia sem falar de economia. Quando falamos de um determinado contexto econômico, falamos do impacto na lógica de mercado, ou seja, na produção e precificação das empresas, e consequentemente se há apetite para crescimento das suas equipes de trabalhadores. 

No começo da pandemia, as empresas foram tomadas por uma insegurança, por conta de um momento histórico em que ninguém sabia que consequências geraria. De modo geral, um dos primeiros resultados que percebemos, foi: “empresas pararam de contratar novos colaboradores”. 

Simultaneamente, com a necessidade das pessoas permanecerem em suas casas, a pandemia impactaria em outro contexto: a priorização da transformação digital das empresas, o que, gerou um movimento de muito mais investimento em áreas de tecnologia. Diante deste cenário, as empresas do mundo tech, no geral, se recuperaram muito rápido, voltando a contratar.

Paralelamente, no contexto político e econômico, com o objetivo de proteger pessoas que necessitavam de assistência, assim como reduzir o impacto de um desaquecimento da economia, políticas públicas foram adotadas, como linhas de créditos e auxílios emergenciais concedidos pelo governo.

Por consequência, o que vimos foi uma redução nas taxas de juros e, concomitantemente, uma alta liquidez de capital no mercado, o que não necessariamente significa “melhor economia”, conforme explica Henrique Tormena em seu artigo. Por outro lado, essa foi a equação quase perfeita para um “boom” das contratações tech. Só não podemos dizer que foi perfeita, em função da disparidade entre a grande oferta de oportunidades e a baixa disponibilidade de mão de obra qualificada.   

Venture capital e o movimento IPO 

Com taxas de juros tão baixas e com o interesse de investidores dispostos a encontrar opções de maior retorno para seus investimentos, produtos financeiros como o mercado de ações e o capital de risco passam a ficar ainda mais em evidência. São inúmeros fundos de venture capital que surgem no mercado além dos já existentes – que passam a ficar ainda mais robustos e com muito capital para investir em empresas.

A necessidade dos fundos alocarem grande parte do capital disponível para esse mercado tem como consequência direta o aumento da avaliação das startups, que, por sua vez, aproveitam para levantar mais e mais capital ou até mesmo para realizar seus IPOs.

A chance de realizar a abertura de capital é a oportunidade das empresas levantarem recursos, além de gerar liquidez para os acionistas. Em outras palavras, é uma injeção de capital e a possibilidade de dar passos ainda maiores de crescimento. Esse movimento gerou um impacto para o recrutamento tech durante e após a pandemia, como veremos a seguir.

Contratações durante e após a pandemia

Em contrapartida ao grande capital investido a valuations elevadíssimos, fica a expectativa de altos retornos a serem consolidados por esse mercado.

Na busca por atingir essas expectativas e justificar o capital levantado, empresas passaram a investir em inovação, em novos produtos, aquisições de outras empresas e, por consequência, passaram a contratar ainda mais profissionais tech. Esse, sem dúvidas, foi o efeito visto nos anos de 2020 e 2021, aparentemente os anos de maior disputa por talentos tech.  

Sabíamos que era questão de tempo para que o próprio mercado começasse a reajustar a oferta e demanda pelos profissionais. O que não sabíamos era quando e o que exatamente desencadearia esse ajuste. O fato é que as condições de mercado e economia levaram ao aumento da inflação, estímulos de políticas econômicas, como o aumento das taxas de juros (aumento da taxa de juros = menor circulação da moeda e, consequentemente, menor pressão inflacionária).

Com esse aumento, os retornos de produtos financeiros mais seguros passam a ser mais atraentes, e é aí que o  dinheiro começa a migrar. A principal fonte de financiamento das startups, que são os fundos de venture capital, passam então a ser mais criteriosos. Com menos capital para as startups, começa a desaceleração das contratações.

Breakeven e demissões

A nova realidade de uma desaceleração da economia, justificada em partes pelas manobras de controle da inflação, além do menor volume de capital disponível para financiar empresas do segmento tech, trouxe como consequência a mudança dos parâmetros do que se espera de uma startup. O rápido crescimento, “custe o que custar” deixa de ser uma realidade, e agora, muitos investidores esperam um crescimento sustentável e que possa acontecer preferencialmente no breakeven.

Como as empresas precisam chegar em um custo de operação mais baixo, com maior eficiência e gerando um capital que vai mantê-la por muito mais tempo, as empresas reduzem seus principais custos, sendo, na maioria das vezes, a mão de obra. 

Temos então empresas parando de contratar, e as famosas demissões em massa (frequentemente chamadas de layoffs) que vêm acontecendo desde meados de 2022.

Mas e a partir de agora? O que acontece? 

Estamos acompanhando o que muitos especialistas têm falado sobre 2023 e as expectativas são unânimes para termos a retomada de crescimento das contratações tech nos próximos meses. O fato é que 2023 não vai superar a demanda de mão de obra tech que foi vista em 2021. 

Por outro lado, empresas deverão lidar com a manutenção do turnover e, com isso, retomar as contratações. Além disso, há ventos favoráveis para transações de M&A (Fusões e Aquisições de Empresa), que seguem a tendência de crescimento vista nos últimos 10 anos. Essas fazem parte do impulsionamento das contratações. É também relevante que os olhos do mundo estão muito mais voltados para a América Latina como celeiro de mão de obra qualificada em tech

A crescente evasão de talentos para empresas do exterior continuará provocando a necessidade de empresas locais realizarem a busca contínua por profissionais. 

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