*Felipe Coelho é cofundador da ABSeed Ventures
Há algumas semanas, pude acompanhar de perto a 10ª edição do SaaStr Annual, o mais relevante evento global dedicado a negócios de modelo SaaS. Ao longo dos anos, o evento tem reunido fundadores e executivos das maiores empresas de tecnologia do mundo, além de investidores globais. É uma oportunidade única de troca de experiências e de networking, aproveitada por mim e pelos demais sócios da ABSeed já há alguns anos. Como não poderia deixar de ser, o tema inteligência artificial (IA) foi um dos principais focos desta edição.
A apresentação de Tomasz Tunguz, fundador da Theory Ventures, foi uma das mais comentadas, e por boas razões. Investidor com perfil data-driven, Tomasz trouxe insights valiosos de sua pesquisa anual, State of SaaS GTM, que neste ano buscou entender o impacto da IA na eficiência das empresas SaaS. Segundo ele, ainda não há respostas claras, mas a euforia inicial em torno da inteligência artificial está começando a ceder espaço para um ceticismo fundamentado em dados.
“Há seis meses, o principal desafio para a adoção da IA era a segurança. Hoje, o que mais preocupa os executivos é o retorno sobre o investimento (ROI)”, disse ele logo no início de sua apresentação. A percepção de que a inteligência artificial revolucionaria as operações de software, cortando custos e aumentando a produtividade, está sendo questionada. De acordo com os dados coletados de centenas de empresas de software entrevistadas ao longo do último ano, a eficiência prometida pela IA ainda não se reflete em melhorias mensuráveis em áreas como conversão de vendas e retenção de clientes.
Tomasz citou o exemplo de uma empresa que implementou um SDR movido a IA e que conseguiu aumentar significativamente seu pipeline de vendas. No entanto, apesar desse crescimento expressivo, a adoção da tecnologia resultou em zero negócios concretizados. Para ele, isso indica que não é que a IA não funcione, mas sim que ainda não aprendemos a utilizá-la de forma eficaz.
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Outro ponto levantado por Tomasz foi a ausência de impacto da IA nas taxas de crescimento das empresas. Ele explicou que, embora muitos líderes empresariais relatem que a IA torna seus processos entre 25% e 75% mais eficientes, essas melhorias não têm se refletido nos números. Para a surpresa de Tomasz – e de todos os presentes –, o ganho de eficiência reportado por essas mesmas empresas girou entre -4% e 4%. Com isso, o investidor escancarou que a crença no ecossistema de que a IA está transformando as operações de startups SaaS ainda não se concretizou.
A expectativa de que a IA tornaria as empresas mais eficientes também foi contrariada pelo fato de que os ciclos de vendas estão se alongando, o que impacta diretamente o CAC payback (número de meses necessários para recuperar o custo de aquisição de clientes). Segundo Tomasz, esse aumento foi, em média, de aproximadamente 13%.
Apesar de todo o ceticismo, o investidor notou maior otimismo entre os fundadores ouvidos em sua pesquisa. Embora as taxas de juros nos Estados Unidos tenham aumentado, o mercado de IPOs tenha derretido e o de M&As enfrente sérios desafios, com impactos diretos no custo de capital, os fundadores de empresas SaaS permanecem otimistas quanto à captação de recursos. Para muitas organizações, a inteligência artificial continua sendo uma promessa. O desafio agora é transformá-la em realidade.