Evento de Real World Assets (RWA) reuniu principais players desse mercado | Foto: Divulgação
Evento de Real World Assets (RWA) reuniu principais players desse mercado | Foto: Divulgação

*Por Fred Santoro, CEO da Raketo

O mercado de RWA vive um salto estrutural. A sigla signica Real World Assets (Ativos do Mundo Real)  e o que antes era um termo técnico restrito a nichos de tecnologia e blockchain agora se torna pauta central no mercado financeiro brasileiro. Segundo a ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia), em 2025 a tokenização de ativos reais já cresceu mais de 300% no Brasil e movimentou mais de 2 bilhões de reais em contratos digitais lastreados em economia real. A consultoria Boston Consulting Group projeta que o mercado global de ativos tokenizados pode atingir US$16 trilhões até 2030 — e o Brasil quer ser protagonista nesse cenário.

A lógica é simples: transformar ativos físicos — imóveis, recebíveis, dívidas corporativas, participações em startups, empresas energia, hotéis, restaurantes, fazendas e até eventos — em tokens negociáveis, fracionáveis e líquidos. O que antes exigia grandes aportes, relações privadas e estrutura jurídica complexa, agora pode ser acessado de forma mais democrática e com menor barreira financeira.

No Brasil, o histórico mostra que a primeira onda de tokenização ficou concentrada em equity de startups. Hoje, o gráfico está invertido: o volume mais relevante não está em participação societária, mas em dívidas e títulos de crédito vinculados a empresas da economia real. Investidores demandam previsibilidade, contratos claros e lastro tangível — e é exatamente isso que RWA entrega.

Esse movimento ficou ainda mais evidente no primeiro grande evento do país dedicado exclusivamente a RWA, reunindo CEOs e lideranças do ecossistema financeiro e tokenizado. Estavam lá executivos da Raketo, Mercado Bitcoin, Foxbit, Netspaces, Liqi e Capitare — empresas que já operam tokenização de ativos reais em escala crescente. Foi a primeira vez que o setor se posicionou institucionalmente com tamanha densidade. Não era teoria: era prática sendo discutida ao vivo.

Dois temas dominaram o debate.

Primeiro: a necessidade urgente de padronização tecnológica. Hoje, cada player opera com arquitetura própria de tokenização, custódia, smart contracts e governança. A ausência de padrões interoperáveis torna a liquidez mais lenta e reduz o efeito de rede. Escala só virá quando a indústria falar a mesma língua tecnológica.

Segundo: a evolução regulatória. O mercado avançou muito mas pode melhorar. Maior facilidade de revenda de ativos, maiores limites de tamanhos de rodadas e empresas entre outros temas já foram pleiteados na CVM.

O maior freio atual, porém, é macroeconômico: a taxa de juros. Quando o custo do dinheiro é alto, o incentivo para captação via crédito alternativo diminui, e a inovação corre contra o ambiente. Ainda assim, o interesse segue crescente porque investidores buscam yield e empresas precisam de liquidez para crescer. O capital quer estrada. RWA está pavimentando uma.

Nesse cenário, RWA surge para apoiar na captação de recursos mas também de construção de comunidades.

O país que tokenizar seus ativos reais com transparência, padronização e escala pode destravar centenas de bilhões em crédito, infraestrutura, energia, imobiliário e economia produtiva. Pela primeira vez, ativos do mundo físico podem circular com a velocidade da internet.