*Thomas Gautier é CEO do Freto
Houve uma época em que não fazia muita diferença para um negócio se ele nasceria dentro de parâmetros ESG, ou se ao longo do tempo a empresa se dedicaria a alcançar esses parâmetros. Com o amadurecimento do mercado e em um cenário de investidores seletivos, o momento perfeito para uma startup se tornar atenta à excelência nos padrões ESG é exatamente quando ela ainda é uma ideia estampada em algumas dezenas de post-its coloridos na parede.
A melhor maneira de sua startup nascer ESG não é com um projeto paralelo, que dependa da disponibilidade de receita para investir na comunidade ou no meio ambiente. Sim, esses projetos são muito válidos e fundamentais. No entanto, se pudermos estabelecer uma hierarquia, em primeiro lugar o ideal para se lançar como uma empresa sustentável é com serviços e produtos que por si só contribuam para reduzir impactos negativos.
Por exemplo, a novíssima indústria de descarbonização, ou mesmo mercados tradicionais que inovam com processos capazes de reduzir desperdício de água e descarte de resíduos. Ou, ainda, que consigam utilizar matérias-primas alternativas, seja na moda ou na construção civil. Hoje a inteligência artificial já consegue organizar o fluxo do trânsito e até mesmo da logística das empresas, diminuindo o volume de emissões nas ruas e despesas de combustível, com excelentes perspectivas para cidades mais inteligentes.
Na hora do pitch, a falta de foco do empreendedor em boas práticas ESG tem soado aos investidores como maior exposição de um negócio a riscos, dificuldade de gerenciar ameaças no longo prazo, menos transparência e diversidade. Há maior chance de enfrentar questões regulatórias e até receio de que uma frágil reputação gere crises de imagem. Tudo isso pode comprometer a decisão de investir em uma startup, impactar no valuation ou atrasar seu crescimento, a ponto de ser ultrapassada por concorrentes mais bem estruturados.
Nascer ESG é primordial para nascer líder. Garante um diferencial diante do consumidor, cada vez mais exigente em relação ao protagonismo das empresas na sociedade, bem como fator motivacional para os próprios times. Em mercados competitivos como os de inovação e tecnologia, em que há dificuldades para as empresas preencherem vagas, um propósito organizado e que funcione na prática, com metas claras, costuma ser um fator decisivo na hora de contratar, reter e inspirar seus talentos.
A maior parte das empresas que está no mercado hoje busca se adaptar a esses princípios. Pequenas ou gigantes, são companhias que se veem obrigadas a transformar seus processos produtivos, trocar fornecedores, ajustar produtos, atualizar normas e padrões. Em alguns casos, precisam realizar mudanças profundas desde a construção da marca até a sua cultura. Imagine o quanto poderiam ter investido seu tempo e recursos financeiros de outra forma se já tivessem nascido assim.
De acordo com informações da consultoria McKinsey, itens industrializados, como os de limpeza, higiene pessoal, cosméticos, alimentos e bebidas crescem quase seis vezes mais quando suas marcas exibem estratégias de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, decisões equivocadas das organizações em relação a políticas regulatórias podem colocar aproximadamente 30% dos seus lucros em risco, enquanto a clareza do propósito tem chance de triplicar a taxa de retenção de talentos.
Então, você está com uma ideia em mente para lançar no mercado? Revisite o plano de negócios, converse com seus sócios, reexamine o produto ou serviço e veja o quanto ele pode estar mais aderente às novas demandas do mundo. Seja qual for o seu segmento, nasça ESG.