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Sistema financeiro caminha para a tokenização e Brasil pode puxar o caminho

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*Morgana Tolentino e Carlos Ragazzo, pesquisadora e presidente do Instituto ProPague

No contexto da crescente digitalização do sistema financeiro, a tokenização tem sido considerada o futuro. No entanto, para que essa aposta se concretize, ainda existem questões a serem resolvidas, especialmente no que diz respeito à liquidação das operações.

O Brasil, com iniciativas como o Drex, novo formato para representar a moeda oficial do Brasil, o real, com a diferença que ela é 100% digital, o Pix aparece estar em uma posição bastante privilegiada no cenário global para liderar o desenvolvimento de uma economia tokenizada, fornecendo soluções de infraestrutura que tornam as operações em larga escala viáveis.

A tokenização é a representação de um bem ou ativo em formato digital em uma rede de registros distribuídos, resultando na criação de um token. Esse token pode ser originado de um ativo nativo digital ou representar digitalmente outros tipos de ativos, como valores mobiliários ou até mesmo o direito à propriedade de ativos reais, como carros ou imóveis. A movimentação do sistema financeiro em direção à promoção de transações com esses tokens é vista como o futuro das relações econômicas. O World Economic Forum e o Boston Consulting Group projetam que a economia tokenizada poderá alcançar cerca de 10% do PIB global até 2030.

O potencial desse fenômeno é percebido, principalmente devido à capacidade de promover inovação, eficiência e redução de custos. Isso se deve à capacidade de aumentar a agilidade e automatizar processos, possibilitada pelo uso de contratos inteligentes e outras tecnologias que garantem a programabilidade das transações. Isso significa que é possível utilizar algoritmos para criar condições que, quando cumpridas, autorizam automaticamente as transações. Um exemplo disso é a transferência automática e simultânea de recursos durante a troca de propriedade de um ativo quando as condições predefinidas para a venda são atendidas.

Para efetuar uma transação desse tipo, é necessário mais do que apenas tokenizar os ativos. É crucial considerar como essa transação será liquidada: qual moeda será utilizada e em que infraestrutura a operação ocorrerá. Existem duas possibilidades: liquidar inteiramente dentro de uma rede de DLT (Distributed Ledger Technology) ou parcialmente.

No primeiro caso, a liquidação ocorre integralmente dentro da rede, exigindo o uso de uma CBDC (Central Bank Digital Currency) ou outra moeda tokenizada para a conclusão da transação. No segundo caso, a transferência da propriedade do token ocorre na rede de DLT, enquanto a transferência de recursos é realizada em sistemas de pagamento tradicionais com liquidação instantânea. O Brasil tem desenvolvido soluções financeiras para atender a ambas as possibilidades de liquidação.

O futuro da liquidação em uma economia tokenizada

De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Digital Monetary Institute, a maioria dos especialistas consultados expressa uma aposta significativa (cerca de 80%) em três principais abordagens para viabilizar o crescimento desse tipo de transação: (i) o uso de sistemas de pagamento tradicionais; (ii) liquidações com CBDCs; e (iii) liquidações em moedas tokenizadas de bancos comerciais.

Essa visão predominante destaca e reforça o potencial real do Brasil em se tornar uma referência no desenvolvimento da economia tokenizada. Isso se deve ao fato de que, com o projeto do Drex e o já bem-sucedido sistema de pagamentos instantâneos Pix, o país está avançando na construção de infraestruturas próprias que atendem aos três perfis de solução, algo que não é facilmente identificado em muitos outros países.

Quando se discute o uso de sistemas de pagamento tradicionais para a liquidação de transações com ativos tokenizados, é essencial que o sistema seja instantâneo e esteja disponível a qualquer momento para assegurar a eficiência prometida pela operação tokenizada. O Pix já se destaca como um dos principais casos de sucesso global quando se trata de sistemas instantâneos de pagamentos, juntamente com o UPI da Índia.

No caso das frentes focadas em CBDC, o projeto Drex brasileiro contribui de maneira significativa. Isso ocorre porque um dos principais destaques do projeto brasileiro é o seu foco na exploração dos benefícios das redes DLT, como programabilidade e contratos inteligentes. O projeto realiza testes voltados para a liquidação de ativos financeiros tokenizados e a criação de marketplaces para operações com ativos reais tokenizados.

A forma como o projeto propõe manter o modelo de intermediação – com apenas instituições financeiras tendo contas diretas no Drex, estabelecendo relacionamento direto com o Banco Central do Brasil (BC) e emitindo moedas tokenizadas lastreadas em Drex para uso público – coloca o projeto em uma posição única para oferecer tanto uma solução de liquidação direta em CBDC (no âmbito atacado) quanto uma solução envolvendo moedas tokenizadas emitidas por bancos comerciais (no âmbito varejo).

Embora ainda esteja em fase piloto, essas características diferenciam o Drex das CBDCs atualmente em vigor, que estão predominantemente focadas no varejo e na digitalização dos pagamentos, um objetivo que o Brasil já havia alcançado com o Pix. O potencial do Drex pode ser considerado ainda maior devido aos resultados positivos do piloto, com mais de 500 transações realizadas nos últimos dois meses, conforme relatado pelo Banco Central.

O Brasil encontra-se em uma posição única da qual pode se beneficiar: o país tem potencial para se tornar uma referência em todos os principais modelos de liquidação, impulsionando assim a economia tokenizada. Essa situação demonstra a capacidade do Banco Central de inovar e promover o desenvolvimento de infraestruturas financeiras altamente tecnológicas. Aproveitar esse momento para destacar o país no cenário da economia tokenizada é uma estratégia capaz de abrir portas internacionais e atrair benefícios para a economia.

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