*Por Arthur Rozenblit, Startup Partnerships Manager da Zendesk para a América Latina
Nos últimos anos, o cenário global de venture capital (VC) passou por transformações significativas, especialmente em resposta às mudanças trazidas pela pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos econômicos. Especificamente entre 2021 e 2024, o setor vivenciou um ciclo rápido de expansão e retração, impactado por fatores como digitalização acelerada, supervalorização de startups, inflação crescente e altas nas taxas de juros.
O Brasil, que havia se beneficiado do boom global de venture capital em 2021, também sentiu os efeitos dessa retração a partir de 2022. Empresas que haviam captado grandes rodadas de investimento adotaram medidas de contenção de custos e os investidores passaram a ser mais seletivos, direcionando seus aportes para startups mais maduras ou para setores com trajetórias de crescimento previsíveis, como agritech e energia renovável.
Mas, apesar da reticência do mercado, há muita coisa acontecendo. E é justamente nesses momentos que surgem as maiores oportunidades para aquelas empresas que têm visão de longo prazo e disposição para inovar. Startups voltadas a problemas globais e modelos de negócio sustentáveis, especialmente na esfera da saúde, energia limpa e Inteligência Artificial (IA), têm altíssimo potencial.
A Zendesk, por exemplo, anunciou recentemente a criação de um fundo de Venture Capital para startups focadas em IA. O objetivo com isso não é apenas obter retorno financeiro, mas principalmente fomentar a inovação para o ecossistema da empresa, que, sozinha, levaria muito tempo para alcançar.
Corporações que apostam em startups estão, na verdade, investindo em inovação contínua. Mesmo que elas gastem bilhões de dólares em desenvolvimento de produtos, isso nunca será suficiente para atender a todas as demandas de inovação que o mercado exige. As startups, por outro lado, têm a agilidade e a capacidade de criar soluções rápidas e eficientes para os desafios emergentes.
Ao investir em startups, as corporações não apenas adquirem acesso a essas inovações, mas também aprendem novas maneiras de fazer parcerias e colaborar. Essa troca de conhecimento ajuda a entender como modelos ágeis de negócio operam e criam novas formas de trabalho para trazer soluções que realmente façam a diferença para os clientes.
Brasil, um território de oportunidades
O Brasil é um excelente exemplo de um mercado com imenso potencial para inovação, especialmente em setores como a da Inteligência Artificial. O país é muito mais empreendedor e capacitado do que as pessoas imaginam, com profissionais qualificados em desenvolvimento de software e boas habilidades linguísticas — principalmente em inglês e espanhol.
Não à toa, o país é hoje o principal hub de startups da América Latina, com mais de 13 mil em seu território, o que representa 62.9% do total das startups latinoamericanas. Em termos de unicórnios (empresas que alcançam avaliação de US$ 1 bilhão antes de fazer o IPO), o Brasil também lidera o ranking com 24, o que representa mais da metade de todas as startups com esse status na região.
Claro que ainda há muito o que crescer e a investir. Se comparado a outras regiões do mundo, o Brasil está apenas engatinhando. Mas o que me deixa feliz é saber que muitas das grandes corporações já entenderam que, ao apoiar startups desde o início de sua jornada, elas têm a oportunidade de moldar o futuro dessas inovações. Startups que recebem apoio cedo tendem a se desenvolver de forma mais sustentável, criando um impacto duradouro no mercado. Ou seja, é uma ação de ganha-ganha para todos os lados.
Por isso, apesar da volatilidade do mercado, as empresas que seguem investindo em startups investem também na própria capacidade de inovar. Garantem o acesso a novas tecnologias e soluções que fomentam um ecossistema infinito de crescimento a longo prazo. Essa é a minha crença.