Tempo de qualidade, o grande segredo

* Roni Cunha Bueno é sócio-fundador da Organica

Para você que quer ser o novo líder saiba que isso reflete em uma entrega, literalmente, 24×7. Afinal, estamos em um mundo e uma era em que estamos e somos extremamente conectados com seu trabalho. Nesse sentido, um erro comum que venho encontrando e observando junto a vários mentorados é que o volume de entregas urgentes é muito grande, com pouco planejamento e pouco tempo de qualidade para o que realmente é importante.

Sobre isso, se lermos as biografias dos principais líderes, encontramos em comum entre eles algo muito valioso: a gestão do tempo! Todos valorizam e fazem muito bem a gestão do próprio tempo, mas não qualquer tempo, do tempo de qualidade, não do tempo propriamente dito, de horas e minutos. Em um artigo recente, o Jeff Bezos, fundador da Amazon, contou que fica duas horas sem fazer nada todos os dias. Ou seja, o cara que tem um império e desafios tremendos organiza sua agenda para ficar 120 minutos sem fazer nada.

Mas por que será que ele para esse tempo todo para não fazer nada? Será que ele se cercou de pessoas tão incríveis que ele tem o privilégio de não se preocupar com nada em um intervalo de tempo tão grande? Será que o WhatsApp dele não explode? Eu penso que, se tem alguém que é importante em um tabuleiro de xadrez, esse alguém é o rei. Para quem joga xadrez, sabe que essa é uma peça que se movimenta muito pouco, que é um grande observador.

Ainda na analogia do xadrez, muitas vezes vejo muitos líderes, que deveriam ser reis, trabalhando como rainha. E não só como rainha que dá suporte ao bispo, ao cavalo e à torre, mas muitas vezes estando à frente de outras peças importantes e, assim, colocando em risco essas peças importantes. Simplesmente ele inverte todo o plano se colocando lá na ponta.

Pensar, planejar, criar

Aqui vem uma grande reflexão: o líder excelente precisa de tempo de qualidade para pensar, para criar, para planejar, para estruturar. O tempo de qualidade é importante! Afinal, se estamos falando em sensibilidade e olhar para as pessoas, quando vamos fazer isso? Ser uma máquina de responder WhatsApp, e-mail e resolver pequenos problemas, certamente não te restará tempo para ser observador e estrategista.

Vi um estudo em uma das minhas idas para a SXSW que dizia que nós demoramos no mínimo 15 minutos debruçados em um tema e, então, acessar o ponto ideal de criatividade sobre o desafio. Oras, e quem é que para 15 minutos em cima de um tema, em profundidade? Os líderes que eu costumo acompanhar, quase nunca! Todos tendem a reagir aos diversos micro desafios diários. Ou seja, vivemos movimentados por um pensamento rápido e imediato.

E com essa avalanche de micro problemas/desafios, nos colocamos em estado de atenção, nosso cérebro reptiliano sente que sempre estamos em perigo, sendo ameaçado, (por alguém com um facão em nossa direção). E aí, quando o cérebro sente que estamos em constante ameaça, a tendência é tomarmos atitudes para nos proteger desse perigo terrível, da morte. Ou seja, põe toda sua energia e concentração em resoluções rápidas e rasas, para te tirar rapidamente deste “perigo mortal”.

Assim, a maioria dos líderes passam o dia inteiro reagindo – e não agindo, criando novas locuções profundas e sistêmicas.

Cada vez está mais escasso o tempo de qualidade, aquele momento em que você está se sentindo tranquilo, seguro, bem, pleno.

Poh Roni, você quer que eu vire um Buda?