*Luciana Carvalho é cofundadora e CEO da Chiefs.Group
Como parte das decisões estratégicas que ditam a jornada de um CEO, estruturar áreas eficientes é essencial para garantir o caminho do sucesso organizacional. Dentre elas, está a área de Recursos Humanos (o famoso RH). E como uma pessoa que já esteve de ambos os lados, vejo como a liderança executiva pode transformar o departamento em um pilar de crescimento e inovação. Aprendi isso cometendo muitos erros ao longo do caminho e vendo muitos(as) CEOs cometerem também.
Há alguns anos, enquanto gerente de Recursos Humanos da Wavy, principal business da Movile em 2016, estava preocupada em pôr em prática os “tradicionais” processos de RH. Acabei colocando a avaliação de desempenho, que considero extremamente importante, para a mesma semana do planejamento estratégico da empresa. Recebi feedbacks como “você enlouqueceu? Como os líderes que estarão em preparação no planejamento estratégico vão fazer avaliação de desempenho? Que resultado você espera com isso?”. Foi ali que entendi o quanto estava desconectada do negócio.
Conto essa história com tranquilidade porque sei que muitos profissionais de RH estão distanciados do negócio (assim como eu estava), presos a um modelo que talvez não faça mais sentido, e acaba sendo natural que eles não saibam como entregar valor de forma estratégica.
Mas um bom RH tem um grande valor e potencial de mudar o direcionamento, o caminho evolutivo de uma organização. Essa sinergia entre a área e o(a) CEO é fundamental, para que o departamento seja visto não apenas como um campo de apoio, mas como um motor central que impulsiona a empresa em direção aos seus objetivos, através das pessoas.
A solução que nasce da estratégia
Como solução para o caso que eu contei acima, comecei a me envolver nos assuntos de negócios da companhia. Passei a ir para diversas reuniões e foi um divisor de águas para eu entender o que a empresa estava enfrentando de desafios, os gaps comportamentais de skills dos líderes que estavam ali presentes, e comecei a estruturar processos de forma que atendesse a isso.
Lógico que estar presente em todas as reuniões não é uma solução escalável e nem possível para todos. Mas acredito que quando entendemos que o RH estratégico é aquele que senta à mesa de decisões, fica mais fácil fazer com que as pessoas dessa organização entendam o papel que ele deve ter.
Para que tudo isso aconteça, é necessário que a liderança (em especial o(a) CEO) escolha, estrategicamente, os profissionais que irão tocar a área de Recursos Humanos, uma vez que é ele que fará a gestão dos processos da área que impactarão diretamente as pessoas da empresa, e, são elas, as grandes habilitadoras do seu negócio. Se os perfis são parecidos e alinhados com a cultura desejada, o alinhamento será muito mais fácil, e essa atração acontece naturalmente à medida que você tem uma cultura organizacional forte.
Com a área formada, o próximo passo fundamental é automatizar processos operacionais para que o time tenha disponibilidade em entrar nas discussões de negócio. Encontros de planejamento semanais de resultado, diálogo com investidores, discussões sobre produtos, tecnologia e outros fóruns são oportunidades valiosas de envolver a estratégia de pessoas dentro das prioridades da empresa para que o time de RH antecipe necessidades.
Por exemplo: o próximo passo da empresa é implementar Inteligência Artificial na operação e no produto. Quando eu sei disso com antecedência, posso estruturar o plano: tenho o time necessário para o projeto? Será necessário montar um plano de desenvolvimento para quais profissionais? Contrato profissionais sob demanda neste início? Quando começo a fazer isso?
Quando o RH faz parte da agenda estratégica do negócio, todos saem ganhando. Afinal, essa área tão vital, tem a função de formar times de alta performance, escalar a cultura e instrumentalizar a liderança para os próximos passos da companhia. Em pesquisas recentes, Gallup mostrou que empresas com funcionários engajados superam as de baixo engajamento em até 21% em produtividade. McKinsey apresentou que empresas com culturas saudáveis têm um desempenho financeiro até 3x maior, junto com a pesquisa de Harvard que apontou que essa cultura pode aumentar em 30% o sucesso de uma empresa.
Em resumo, acredito que com o exemplo acima tenha ficado evidente que a eficiência dos RHs em uma organização está intimamente ligada à estratégia traçada pelo CEO, e que o contrário disso pode gerar problemas operacionais na empresa. A seleção criteriosa de profissionais alinhados com a visão e valores da empresa é fundamental para fortalecer essa sinergia.
Quando o RH assume um papel proativo e estratégico, participando ativamente das decisões da empresa, é possível antecipar necessidades, identificar oportunidades e catalisar o potencial humano da organização. Portanto, é imperativo que os CEOs reconheçam a importância de cultivar uma relação colaborativa e estratégica com o RH, pois somente assim poderão construir equipes eficientes e impulsionar o sucesso organizacional de forma sustentável.