*Eduardo Marques é sócio-diretor do iCities
Com o crescimento incessante das áreas urbanas e os desafios cada vez mais complexos oriundos dessa expansão, a busca por soluções inovadoras e sustentáveis tornou-se uma prioridade global. Nesse contexto, a Vila Olímpica de Paris 2024 emerge como um modelo exemplar de aplicação em larga escala dos atributos das cidades inteligentes, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
Projetada com uma infraestrutura voltada para a sustentabilidade e eficiência energética, a Vila Olímpica de Paris 2024 destaca-se pelo uso de energias renováveis, como solar e eólica, e pela integração de tecnologias de gestão inteligente de recursos. Esse compromisso evidencia a busca pela redução da pegada de carbono e o uso eficiente dos recursos disponíveis.
A conectividade e a mobilidade são pilares fundamentais do conceito de “cidades inteligentes”. E na Vila Olímpica de Paris 2024 isso não é diferente. Sistemas de transporte público eficientes, infraestrutura cicloviária e soluções de mobilidade compartilhada foram integrados, proporcionando opções acessíveis e sustentáveis de deslocamento para os residentes e visitantes.
Planejamento urbano e colaboração
Desenvolvimento sustentável é um fator intrínseco às cidades inteligentes. Não há dúvida de que, para as Olimpíadas, Paris se tornou mais verde. Foram plantadas nove mil árvores e diversas ruas foram quase transformadas em “ruas-jardins”, principalmente em frente às escolas. As margens e o cais do Sena se tornaram um imenso passeio público, deixando de ser uma via expressa. Hoje em dia, as pessoas se deslocam muito mais de bicicleta e a pé na capital francesa. Outro ponto de grande diferença nas cidades inteligentes: a mobilidade. Em Paris, a bicicleta ultrapassou o carro em número de pessoas que utilizam esses meios de transporte e, com tudo isso, a poluição reduziu em 40% e o ar está mais limpo, segundo a prefeitura da capital.
Além disso, como deve se levar em conta em todas as cidades inteligentes, a Vila Olímpica adota abordagens inovadoras de design urbano e planejamento participativo, envolvendo os moradores e stakeholders locais na definição de prioridades e na tomada de decisões, resultando em um ambiente mais inclusivo e adaptado às necessidades da comunidade. Essa colaboração direta com a comunidade não apenas fortalece o senso de pertencimento, mas também garante que as soluções urbanas atendam às reais demandas dos cidadãos.
Otimização de recursos
Para cidades inteligentes ou não, uma das lições mais importantes dos Jogos Olímpicos anteriores é o legado e o reaproveitamento de tudo que é temporário. Para a edição deste ano, discutiu-se amplamente como reutilizar de maneira melhor as infraestruturas e itens efêmeros, para que não se tornem “elefantes brancos”.
Por exemplo, inicialmente havia sido planejado construir, na região de Aubervilliers, uma piscina olímpica para todos os esportes aquáticos, o que exigiria uma capacidade de cerca de 15 a 20 mil espectadores. Um número tão grande, como legado, não seria necessário para uma piscina permanente e, tendo isso em vista, o planejamento foi ajustado e Aubervilliers terá um centro aquático menor, com foco em saltos ornamentais, polo aquático e nado sincronizado.
Seguindo esse caso, as cidades inteligentes podem elevar seus compromissos com a sustentabilidade e a adaptação inteligente dos espaços urbanos para atender às necessidades atuais e futuras da comunidade.
E não é só isso. O legado deixado pela transformação da Vila Olímpica em um bairro residencial após os jogos será um exemplo concreto de planejamento urbano sustentável e adaptável, fundamental para cidades inteligentes. A Vila se tornará um bairro com 2.500 novas casas, uma moradia estudantil, um hotel, um parque paisagístico de três hectares, cerca de sete hectares de jardins e parques, 120.000 m² de escritórios e serviços municipais e 3.200 m² de lojas de bairro.
Essa evolução urbana não apenas preserva o investimento inicial em infraestrutura, mas também promove um ambiente habitável e sustentável para os residentes a longo prazo, exemplificando a capacidade das cidades inteligentes de se adaptarem e prosperarem em um contexto em constante mudança.