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Você é um empreendedor consciente –ou só acha que é?

Serviços de advisory são fundamentais para ajudar as startups a conseguir bons deals seja na captação ou no extit, diz Venâncio Velloso

Empreendedor deve saber delegar. Foto: Canva
Empreendedor deve saber delegar. Foto: Canva

No turbilhão do ecossistema brasileiro de startups, ser um “empreendedor consciente” vai muito além de ideias inspiradoras e discursos de inovação. É entender, de fato, a importância de apoio estratégico em cada fase do negócio – desde a concepção até uma saída bem-sucedida. E se você acha que consegue fazer tudo sozinho, talvez esteja sabotando o próprio crescimento.

Afinal, serviços de Advisory e Investment Banking (IB), como a captação de recursos, fusões e aquisições (M&A), IPOs, venture debt, estruturação de uma debênture e etc, estão se tornando cruciais para o sucesso. Não se trata apenas de “dar uma ajuda”, mas de construir uma base sólida para decisões que podem definir se sua startup sobreviverá ou não.

Diferente da assessoria financeira comum, focada em gestão patrimonial e planejamento, o serviço de Advisory do IB está no campo das grandes jogadas, nas negociações de impacto que moldam o futuro de uma empresa. São esses serviços que ajudam as startups a crescerem com estrutura e velocidade, amadurecendo todo o setor tech do país. Mas, ironicamente, enquanto você ainda reluta em buscar esse tipo de apoio, talvez seu concorrente já tenha feito isso e esteja à sua frente.

Aqui vai um dado para você pensar: mais de 45% dos investidores brasileiros, segundo a ABVCAP, ainda torcem o nariz quando uma startup traz um advisor para uma rodada de captação. Para eles, o empreendedor “de verdade” deve fazer sozinho. Enquanto isso, os novos investidores com visão moderna e que pensam diferente já perceberam o valor de delegar essa parte a experts, deixando o fundador livre para focar no que realmente importa: a gestão do negócio para escalar a operação.

Exemplos de sucesso não faltam para reforçar o impacto de um advisory bem utilizado. A Cora, por exemplo, levantou US$ 116 milhões em uma série B ao contratar um advisory para estruturar e negociar a rodada, permitindo que a equipe de gestão se concentrasse no core business. A Gympass seguiu a mesma linha ao contratar um advisor para sua rodada de série D, captando mais de US$ 300 milhões e conquistando o status de unicórnio. Esses são exemplos em que os fundadores souberam delegar tarefas críticas para garantir um crescimento sustentável.

Outro caso emblemático vem da Genial, que em 2021 foi pioneira ao lançar o primeiro ETF de criptomoedas na B3 com a Hashdex. O HASH11 captou mais de R$ 630 milhões e se tornou o segundo maior fundo em número de cotistas, com mais de 120 mil investidores, aproveitando o momento de alta do mercado de cripto. No M&A, a Genial também assessorou o deal entre a Finansystech e a Celcoin em 2023, movimentando cerca de R$ 100 milhões — um feito marcante em um ano de baixa para fusões e aquisições.

É dessa visão estratégica que nasce o perfil do “empreendedor consciente” — aquele que entende que delegar funções como a captação de recursos não é sinal de fraqueza, mas sim de inteligência e foco no crescimento. Do outro lado, o empreendedor “não-consciente”, com sua síndrome de super-herói, arrisca perder qualidade e/ou valor por fazer tudo sozinho. Afinal de contas, é humanamente impossível fazer múltiplas tarefas simultaneamente sem comprometer a qualidade.

Em conversa com alguns amigos fundadores de big techs nacionais como a Neoway, já ouvi confidências de arrependimentos por não terem contratado o serviço de advisory. Estimam ter perdido cerca de 30% do valor da empresa no M&A por terem optado em fazer tudo de maneira solo. Essa é uma lição dura para quem busca otimizar o valuation do negócio durante uma das transações mais importantes da vida.

Sem expertise e com tempo limitado para se dedicar exclusivamente ao processo de M&A, muitas startups acabam comprometendo o valuation. Não é só uma questão de não ter contatos ou know-how; é reconhecer as limitações e entender que certas funções são melhores executadas por experts, com capacidade de realizar o mandato sem “paixão”, com uma dedicação exclusiva, ao invés de compartilhada.

Exemplos como os citados ressaltam a importância de saber delegar e como o advisory pode ajudar a maximizar o valuation de uma empresa em negociações cruciais. Em um mercado cada vez mais seletivo, com uma queda de 40% no volume de investimentos de venture capital em 2023, a busca por uma assessoria especializada deixou de ser uma questão de preferência e se tornou uma necessidade para quem quer não só sobreviver, mas prosperar. Neste cenário, advisory pode ser a diferença entre fechar uma rodada de captação ou amargar uma estagnação.