*Fábio Câmara, Arthur Lawrence e Leo Amaral são CEOs da FCamara
Esta é a quarta vez que a FCamara tem a oportunidade de participar do Web Summit Lisboa e compartilhar insights sobre Inteligência Artificial (IA), trocando conhecimento com profissionais de diversos países.
O ponto alto do evento foi a onipresença desta tecnologia. Em todo lugar, havia uma startup trazendo alguma solução com a IA como o grande diferencial ou impulsionador. E isso não significa que ainda estamos no momento de “hype” dessa inteligência. Estamos em um estágio de maturidade das discussões. A ferramenta já é crucial para qualquer negócio. Talvez, na edição do ano que vem, já não seja o maior atrativo, mas sim um ponto de partida.
Já a regulamentação, para que seja colocada em prática e sem problemas, tem muito a evoluir. Na Europa, a preocupação por governança e pelo uso responsável, que tem levado a muitas restrições, faz com que a velocidade da evolução de implementação de IA seja menos acelerada do que em países como China e EUA.
Embora muito importantes, esses pontos podem culminar em legislações rígidas, o que pode gerar um certo atraso no desenvolvimento da tecnologia. Enquanto países mais flexíveis avançam rapidamente, as restrições do cenário europeu poderão impactar o ritmo da inovação por lá. Isso levanta a questão de como equilibrar o progresso tecnológico com a proteção dos direitos dos cidadãos.
Web Summit Lisboa: além da Inteligência Artificial
O evento foi também um espelho da expansão global do mercado de tecnologia e inovação. Mentes criativas de várias partes do mundo mostravam a diversidade de visões e ideias em um ambiente muito propício para a criação de conexões. Trocar conhecimento com especialistas de países que, ao nosso olhar, estão mais distantes, como Romênia e Geórgia, foi muito rico. Entre as maiores delegações, a Alemanha teve um destaque pelo volume de startups presentes, ocupando uma grande parte do pavilhão, reforçando a solidez do seu ecossistema de inovação.
E a disponibilidade dos participantes para essas trocas chamou a atenção. No Brasil, muitas vezes encontramos barreiras de tempo ou hierarquia, que dificultam diálogos com grandes executivos. Lá em Lisboa, executivos de todos os níveis, inclusive presidentes e vice-presidentes, estavam abertos a conversas. Isso criou um clima único, no qual o networking fluía naturalmente, transformando encontros casuais em oportunidades de negócios. A sensação era de que todos estavam ali para compartilhar, aprender e colaborar de maneira sincera, algo que encontramos somente em ambientes legitimamente inovadores
Entre as palestras, a de Tim Berners-Lee, físico e criador da world wide web (www), a internet, foi um destaque. Sua proposta de uma “wallet” de dados pessoais, na qual o usuário tenha controle sobre quais informações compartilhar com empresas, foi instigante. Esse conceito desafia o modelo atual, no qual grandes corporações detêm o poder sobre os dados dos usuários. Apesar dos desafios regulatórios que essa ideia enfrentaria, principalmente com grandes plataformas como Instagram e Facebook, a proposta tem potencial para mudar a forma como interagimos com a internet e com nossos próprios dados.
Houve também reflexões sobre o impacto das redes sociais. Palestrantes levantaram preocupações sobre o uso excessivo dessas plataformas, a dependência de likes e a necessidade de reavaliar nossa relação com o mundo digital. Atletas renomados, tanto do tênis quanto do basquete, por exemplo, participaram das discussões sobre estilo de vida nas redes e o equilíbrio entre carreira e vida pessoal – algo que muitas vezes passa despercebido em eventos focados em tecnologia. Essas falas serviram como um lembrete de que, mesmo em meio a tanta inovação, é essencial lembrar da importância de um estilo de vida saudável e equilibrado.
O Web Summit Lisboa 2024 foi um palco de grande aprendizado. Mas também de muitas reflexões. Entre o entusiasmo pelas novas tecnologias e a cautela necessária para lidar com os desafios, ficou claro que estamos em um momento decisivo para a inovação e o futuro. A forma como lidaremos com essas questões nos próximos anos definirá o rumo de muitas das transformações que estão por vir.