Pix foi um dos temas de destaque no Zoop Summit 2025 | Foto: divulgação
Pix foi um dos temas de destaque no Zoop Summit 2025 | Foto: divulgação

Há alguns bons anos o Pix é o assunto do momento quando se fala de setor financeiro – inclusive internacionalmente. E os números do serviço de pagamento instantâneo do Banco Central (BC) estão para comprovar o porquê: de acordo com dados divulgados em junho, o Pix bateu novo recorde e, pela primeira vez, a modalidade de pagamento foi usada em 276,7 milhões de transferências em 24 horas.

Em valores, foram movimentados R$135,6 bilhões – o quarto maior montante da história registrado em um único, atrás do ápice de dezembro de 2024, quando foram movimentados R$162,9 bilhões. Ao todo, o número de usuários do Pix chega a quase 175,5 milhões, sendo pouco mais de 91% desse total representado por pessoas físicas, ou 159,92 milhões.

Em abril, o sistema superou a marca de R$ 2,7 trilhões movimentados, de acordo com dados consolidados do BC, ou o equivalente a 23% dos R$ 11,7 trilhões do PIB brasileiro (2024), como observou o neurocientista, professor da Unifesp e sócio do Instituto Locomotiva, Álvaro Dias. Para ele, mais do que um meio de pagamento, o Pix também é vetor de transformação social.

“O papel da ferramenta, do ponto de vista de planejamento de vida e de saída da pobreza extrema, é profundamente importante e efetivamente comovente”, comentou ele, durante a apresentação “O papel do Pix na inclusão financeira”, no Zoop Summit 2025, evento promovido pela Zoop, fintech as a service do iFood, em São Paulo.

Apesar dos números, Álvaro ressaltou que ainda há muito a ser feito, visto que 19 milhões de pessoas ainda não possuem uma chave Pix cadastrada. Ao mesmo tempo que há o desafio, há também oportunidades. “O ponto é entender como colocar essa última leva no sistema – e isso tem sido debatido de maneira ativa”.

Um dos principais entraves, do ponto de vista de Álvaro, é a educação financeira. “É um problema efetivamente de conhecimento. Existe uma taxa não tão grande de analfabetismo e, infelizmente, vemos isso de maneira maior quando falamos de população mais velha fora das grandes cidades”.

São pessoas, por exemplo, que nunca acessam o Pix de forma alguma, ou que possuem um contato pontual com o sistema financeiro – como para apenas receber benefícios do governo. “São cerca de 76% de desbancarizados puros, sem qualquer conta bancária aberta; 58% das pessoas nunca tiveram sequer um cartão de débito ativo”, salienta Álvaro, citando dados realizados pelo Instituto Locomotiva. E observa, ainda, que embora haja essa adversidade, o estudo realizado com classes D e E mostra que eles massivamente preferem lidar com o Pix do que com dinheiro físico.

Foi por não ter uma resposta a essas pessoas que, no mercado, surgiram as fintechs, com suas propostas de quebra de “linguagem burocrática” e mais possibilidades. “A grande questão é que fintechs pelo olhar do cliente é que ele percebe que bancos não os desejam como cliente porque, na verdade, boa parte dos de menor renda não é lucrativo o suficiente, é uma decisão estratégica. Mas esse modelo de fintech traz tecnologia e entra num sistema das mais variadas maneiras para trazer serviços por onde o grande banco não se interessou por tempos”, comenta Rafael Bianchini, coordenador do Banco Central e Professor da FGV Direito SP no painel “O papel das Big Techs no setor financeiro”.

Outro ponto interessante trazido por Álvaro no que tange o sistema do BC como agente transformador de contexto: “Existe uma redução em crimes na medida em que dinheiro físico sai de circulação em prol do Pix. Identificamos, por exemplo, que o uso do Pix trouxe 12% menos assaltos em cidades pequenas. Com menos assaltos, há consequente aumento na segurança”. Esses 12% podem parecer um número pequeno, mas é algo que Álvaro argumenta ser gigante do ponto de vista de segurança pública.

Dentre os principais desdobramentos do Pix há também a quebra da desconfiança: 58% dos brasileiros de baixa renda têm medo de bancos, porque desconfiam da cobrança de taxas, por exemplo. “Seis em cada 10 pessoas evitam recorrer a bancos e concordam que essas instituições possuem uma linguagem complexa; em contrapartida, 46% concordam que o Pix representa simplicidade”.

A evolução do Pix e a transformação social

Álvaro salienta também que os pagamentos instantâneos estão conectados diretamente à concessão de mais crédito. “Isso porque o Pix permite o mapeamento de transações de maneira mais profunda e, consequentemente, um score de crédito mais apurado” o que, em última instância, permite a concessão de outros tipos de serviços financeiros.

Há também as vantagens trazidas pelo próprio roadmap do Pix, que agora surge com nas categorias Parcelado e Automático. “Por que o Pix Automático e Parcelado ampliam inclusão? O Automático não precisa lidar com boletos, o que representa uma vantagem para pessoas, mas também para pequenas empresas que não precisam mais se preocupar com débito automático no caso de uma empresa ofertante não tiver cadastro.”

Essa realidade de boletos afeta principalmente a indústria. Cesario Martins, CEO da Zoop, comenta que o Brasil é grande e, enquanto o boleto representa 19% para o consumidor brasileiro, na indústria essa realidade sobe para 65%. “A verdade é que o Brasil tem várias realidades. E, nesse momento, a indústria passa por uma transformação digital super importante”, disse ele na abertura do painel “IA Generativa e a transformação dos serviços financeiros na indústria”.

Por esse motivo também pode-se considerar que “o nosso País e nossa capacidade de resolver problemas internos nos torna referência global”, comenta Luiz Pacete, jornalista especializado em negócios e editor da Forbes que moderou o painel.

A transformação dos serviços financeiros e a chegada da IA

Nesse contexto de transformação, a Inteligência Artificial chega com força. Exemplo disso é a história do iFood. Thiago Cardoso, diretor de dados e IA do iFood, conta que a transformação da empresa para um negócio IA-driven começou em 2020. “Na época, a IA integrou todas as etapas do produto e conseguimos construir 150 modelos de IA atuantes em todas as áreas, desde recomendação, e prevenção a fraude à logística”.

Dois anos depois, a IA Generativa entrou em foco. A ideia era que não somente os times especializados poderiam trabalhar com Inteligência Artificial, mas outras equipes também poderiam adquirir a capacidade de construir uma aplicação de IA. “Estabelecer governança [de dados] para esses sistemas foi essencial”, ressalta o executivo.

Por fim, veio a Era de Agentes de IA. “As aplicações escalaram o serviço para todas essas pontas: do entregador com atendimento automatizado à otimização da logística de entregas, e construímos dentro dessas plataformas esses sistemas”.

Esses Agentes de IA também foram parte central da demonstração do painel “Inovação Financeira: Pagamento Agêntico”, onde Matheus Pessanha, head de negócios do iFood Pago, mostrou o próximo grande passo para facilitar o dia a dia de pequenas empresas e empresários.

“De tempos em tempos a tecnologia avança e, com isso, acabamos tendo uma revolução na forma como interagimos com a própria tecnologia. Nos anos 2000 tivemos aplicativos como o Facebook para nos conectar com amigos e familiares por meio de redes. O Google tornou a pesquisa no mundo possível. Os apps móveis, por sua vez, nos permitem chamar carros ou pedir comida na madrugada com um clique. E a terceira grande revolução vemos hoje, que é a Tecnologia Conversacional”, afirmou ele, dando como exemplo a OpenAI com seu ChatGPT.

“E quando falamos de conversacional, não tem como não falarmos de WhatsApp. Entendemos que o sistema operacional do brasileiro hoje é esse aplicativo, com seus 148 milhões de usuários”, comentou.

Do ponto de vista financeiro, temos então os empreendedores solo, que se apoiam no serviço de mensagens para, muitas vezes, resolver burocracias. “Se a nova tecnologia é conversacional e sistema operacional é o WhatsApp, temos então aqui o Gerente do iFood Pago que, via mecanismo de DDA [Débito Direto Autorizado], ele consegue entender o que o empreendedor pergunta e retorna com uma ação”.

Nesse sentido, o sistema passa a entender por contexto se há, por exemplo, débitos em aberto e, com uma pergunta enviada via WhatsApp pode retornar com a conta a pagar e um botão para realizar a confirmação de pagamento. “O agente entendeu que é um boleto. Ele, então, manda os dados para a tela e, em um clique para validação de segurança, o boleto está pago”, afirma Matheus, complementando que o serviço já está disponível para alguns restaurantes parceiros.

“O agente faz Pix, realiza pagamentos inteligentes como pagar meus cinco funcionários de uma determinada loja, por exemplo, e isso só foi possível porque usamos a tecnologia da Zoop como infraestrutura para tornar as operações realizáveis”.

Do lado da indústria, no entanto, essa revolução pode demorar um pouco a chegar, como observa Marcelo Nunes, gerente de B2B digital do Grupo 3corações. “Na indústria, trabalhar com IA não é tão simples, porque há players centenários que não só crescem, como ao longo da história compram outras empresas e, nesse contexto, acabam com três sistemas operando em cada BU e, ao mesmo tempo, nenhum deles se conversa”, argumenta. “Muitas vezes, me deparo com a questão ‘como trabalhar com IA Generativa se não se tem sequer o dado estruturado?’.”

Mas ele vê com bons olhos o uso de IA para facilitar a operação do negócio, mesmo que de forma tímida. Ele dá como exemplo o uso de IA na força de vendas: “Tenho 1,2 mil pessoas em campo usando minha aplicação de venda. A partir do momento que uma pessoa precisa tirar uma dúvida, ela teria que correr na filial ou falar com um supervisor. O Agente está aí para isso: pluga a tecnologia dentro do WhatsApp ou dentro do próprio sistema de vendas e, por meio de interação com linguagem natural, o vendedor tem em mãos uma sugestão rápida de três produtos para bater a meta.”

Interessado em aumentar a conversão dos seus clientes? Entre em contato com a Zoop para oferecer Tap to Pay e Pix por aproximação em seu negócio.