Em um painel que discutiu a ascensão das “fintechs que não são fintechs” durante o Rio Innovation Week, Cesario Martins, CEO da Zoop – fintech as a service do iFood – defendeu que o movimento de empresas com ecossistemas próprios se tornando provedoras de serviços financeiros é “muito bem-vindo” para a economia. Ao lado de Eduardo Camargo, Head da Juntos Cash, e mediação de Sara Oliveira, Coordenadora de Consultoria e Gestão da Fenasbac (Federação Nacional de Associações dos Servidores do Banco Central), Martins usou a trajetória da Zoop e do iFood como principal estudo de caso e explicou como o relacionamento e a necessidade dos clientes são os motores por trás dessa nova onda de inovação.
A história da Zoop com o iFood serve como ponto de partida para entender essa dinâmica. Em 2020, no auge da pandemia, os restaurantes – principais clientes do iFood – tinham salões vazios e precisavam de ajuda financeira e crédito.
Foi essa necessidade que impulsionou o iFood a explorar o caminho de se tornar uma fintech. “Os benefícios dessa fintechzação não se limitam em agregar valor para o cliente. Para além do relacionamento, a empresa começa a ter dados. Com dados, se consegue ser mais competitivo na oferta de soluções. Tendo essa reação simbiótica com o ecossistema, a companhia cresce junto dele”, pontuou Martins.
A Zoop fornece a tecnologia e infraestrutura necessárias para que as empresas que não são do setor, consigam oferecer serviços financeiros.
B2B2C e a força do relacionamento
O modelo de negócio da Zoop é o B2B2C, ou “business-to-business-to-consumer”. A empresa atua como uma Instituição de Pagamento regulada pelo Banco Central. Ela oferece serviços e APIs para grandes empresas, que são as responsáveis por levar esses produtos aos clientes finais. Cesario ressaltou que a Zoop não dá crédito diretamente para PMEs que a procuram. Em vez disso, seu foco é servir grandes clientes que precisam atender seus ecossistemas.
Segundo o CEO, o diferencial desse modelo não está apenas na tecnologia, mas no relacionamento e no posicionamento único. “O relacionamento necessário para o crédito e os serviços de pagamento chegarem para quem precisa está na mão das empresas. As fintechs intermediam a relação entre essas empresas e os bancos, facilitando todo o fluxo da cadeia de valor do sistema financeiro”.
Inovação
Para Martins, as inovações exponenciais, como o “Tap to Pay” da Zoop – que transforma um celular em uma maquininha de pagamento – permitem que grandes empresas façam coisas que antes eram feitas apenas pelos bancos. Essa tecnologia permite que uma empresa ofereça pagamentos de forma segura para sua base de clientes “só com software,” eliminando a barreira logística de maquininhas físicas.
Mitigando riscos e construindo um ciclo virtuoso
Ao abordar os desafios, os painelistas mapearam os principais riscos do setor, como o risco de execução, o risco financeiro e o risco da proposta de valor. O segredo é mitigá-los com “experimentos, com testes, com parceiros certos”.
Cesario explicou que os clientes da Zoop começam com produtos de menor risco, como o link de pagamento. Depois, eles evoluem para o Tap to Pay, e só então, com uma tese mais forte, avançam para a bancarização e o crédito.
O objetivo final desse esforço não é apenas criar uma nova unidade de negócios, mas gerar um “ciclo virtuoso”.
Martins também destacou o papel fundamental do Banco Central do Brasil, que ele considera um regulador que permite “muitas dessas inovações”. A criação de licenças como Instituição de Pagamento (IP) e Sociedade de Crédito Direto (SCD) tem um direcionamento claro: “aumentar a competição, diminuir o custo de crédito e facilitar o acesso, democratizar”.