3 passos para criar uma cultura organizacional que promova a inovação

Em um mundo cada vez mais digital, no qual startups despontam e praticamente impõem um novo modelo de negócios para manter a competitividade, há organizações que ainda estão em busca de uma fórmula que transforme a inovação em algo presente em seu dia a dia, adequando a entrega de produtos e serviços às demandas atuais dos consumidores. Muitas vezes, são feitos investimentos em tecnologia, ferramentas digitais entram em cena e, mesmo assim, os resultados não aparecem.

A pergunta que surge nesses momentos é: como criar um ambiente propício à inovação?

Já que, em geral, a inovação surge como reflexo de um ambiente organizacional saudável, acredito que a resposta está na construção de uma cultura forte, orientada pelo estímulo às novas ideias. Afinal, a tecnologia é importante, porém quem faz a inovação acontecer são as pessoas, quando se sentem seguras e valorizadas. Não existe uma receita pronta, mas podemos usar os exemplos das grandes empresas para trilhar nossos próprios caminhos e criar um modelo bem-sucedido. 

Reuni neste artigo 3 passos que ajudarão as empresas a se organizarem para implementar uma cultura que incentive a inovação. Me baseei no exemplo de grandes companhias, reconhecidamente inovadoras, e em minha vivência de mercado como executivo e empreendedor no setor da inovação e tecnologia. Além disso, cada etapa representa um dos pilares que constituem uma cultura organizacional sólida: os valores, os mecanismos e os rituais.

Dica 1 – Tenha valores e princípios orientados à inovação

Quando a alta liderança de uma organização não está presente, a expectativa é de que os comportamentos dos colaboradores se mantenham coerentes, certo? Quem garante isso são os valores. Eles são como uma bússola, que faz com que todos do time sigam na mesma direção, independentemente do cenário e das circunstâncias. Todavia, para que isso aconteça, os valores precisam ser vivenciados todos os dias dentro da empresa: desde o momento da contratação de um novo funcionário até as ocasiões de tomadas de decisões.

No caso de organizações que buscam criar uma cultura de inovação, os valores devem levar em conta a promoção de um ambiente aberto, seguro e colaborativo, que permita às pessoas errarem e aprenderem, sem medo de represálias. Trago como exemplo os princípios da Pixar que já ganhou 21 Oscars, nove Globos de Ouro e 11 Grammys, além de outros prêmios e reconhecimentos. Com certeza, uma grande inspiração quando o assunto é criatividade.

Seus valores são:

  1.  “Story is King” – A história é o que reina;
  2. Confie nas pessoas;
  3. Empodere os colaboradores (descentralize a tomada de decisões)
  4. “Erre cedo e erre rápido” e “erre o mais rápido que puder”; 
  5. Proteja o que é novo;
  6. Trabalhe sempre com tentativa e erro;
  7. Curta experimentar;
  8. Esteja aberto para feedbacks sinceros; 
  9. Abrace a diversidade;
  10. Promova um ambiente de colaboração e interação;
  11. “Mantenha-se nos trilhos”.

Na Amazon, também existe uma crença de que o erro faz parte do processo de inovação. Jeff Bezzos já até afirmou que acredita que a companhia é o melhor lugar do mundo para errar: 

“I believe we are the best place in the world to fail (we have plenty of practice!), and failure and invention are inseparable twins. To invent you have to experiment, and if you know in advance that it’s going to work, it’s not an experiment. Most large organizations embrace the idea of invention, but are not willing to suffer the string of failed experiments necessary to get there.”

Inclusive, a Alexa é um caso de inovação que surgiu do Fire Phone, o celular da Amazon que foi um fiasco. Se houvesse uma cultura que pune o erro, seu lançamento provavelmente não teria ocorrido. 

Dentre os valores que ajudam a fomentar a inovação, a diversidade também é fundamental. Um estudo do Boston Consulting Group demonstrou que as empresas com times mais diversos na liderança reportam 45% da receita média de inovação relatada pelas empresas (contra 26% das empresas com menos diversidade). O tema tem sido bastante discutido atualmente e as organizações que conseguem colocá-lo em prática têm se mostrado mais inovadoras.

Dica 2: crie políticas e processos de incentivo à inovação

Não basta que os valores e princípios estejam escritos na parede de seus escritórios. É preciso colocá-los em prática e, para isso, políticas e processos são fundamentais. No Google, por exemplo, há uma política de que 20% do tempo dos colaboradores devem ser usados para seus projetos inovadores. Diversos produtos da big tech nasceram desta política como o Google Now, assistente pessoal, e o próprio Gmail. 

A Uber também encoraja seus colaboradores a propor novas ideias e desenvolveu uma plataforma de experimentação onde as funcionalidades propostas são lançadas, medidas e avaliadas. Mais de 1.000 experimentos são executados na plataforma, a qualquer momento.

Empresas reconhecidas por suas inovações também investem em salas dinâmicas e espaços de descontração. Dessa forma, as pessoas podem passar um tempo, relaxar e quando voltarem ao trabalho estarão mais revigoradas e dispostas – até mesmo para criar. 

Voltando ao exemplo da Pixar, há uma política de revisões diárias na companhia, chamada “dailies”. A ideia é que os colaboradores mostrem, diariamente, em que estão trabalhando, mesmo que sejam projetos inacabados, para dar e receber feedbacks construtivos. Com isso, as pessoas fazem trocas e o trabalho final tende a ser entregue com muito mais criatividade e qualidade.

Por sua vez, a Amazon conta com um processo chamado “Working Backwards” (em português, “trabalhando de trás para frente”) para o lançamento de produtos. Inclusive, alguns dos itens mais famosos da companhia foram criados desta forma, como o Kindle e os serviços da AWS. Em vez de criar o produto e só então vendê-lo, o processo é invertido: é feito um press release com um FAQ em torno das dores dos clientes, oferecendo como solução o novo produto, como se ele já estivesse pronto. A ideia aqui é estudar e conhecer o cliente antes de desenvolver o produto, para que a oferta final seja mais assertiva.

Dica 3: crie rituais de inovação

Os rituais são aquelas atividades que demonstram e reforçam a cultura em momentos específicos, como eventos, premiações e festas. Estas são boas ocasiões para incluir iniciativas de incentivo à inovação entre os colaboradores.

Um exemplo que gosto bastante é o “Notes Day”, um dos eventos anuais da Pixar. A ideia é reunir os colaboradores para resolver problemas e desafios que a companhia vêm enfrentando e que os próprios funcionários devem identificar e apontar, como se fosse uma espécie de hackathon. Todos são envolvidos, independentemente do nível hierárquico. Este formato dá autonomia e empodera os colaboradores, oferecendo um senso maior de comprometimento com a companhia.

No Google, há o TGIF, uma reunião semanal na qual os colaboradores podem fazer perguntas diretamente aos líderes da companhia e outros executivos, envolvendo qualquer situação ou problema enfrentado pela empresa. E a Amazon tem o All-Hands Meeting, uma reunião de resultados trimestral que convida todos os colaboradores para compartilhar os principais aprendizados, conquistas e as novidades do negócio para o próximo trimestre.

E se houver interferências no processo?

Por fim, é importante destacar que se há colaboradores que não se adequam à cultura da empresa, trazendo comportamentos tóxicos, é preciso lidar com eles para que não interfiram no clima do restante da organização. Artigo do MIT sobre o tema traz algumas soluções para este tipo de conflito: acompanhamento do caso junto ao RH e a liderança, treinamentos e capacitação, planejamento para reagir a casos como esse e, por fim, desligamento para que não haja maiores danos. 

Concluindo: não basta investir em tecnologia para que a inovação aconteça. É preciso investir em três pontos-chave quando o assunto é clima organizacional propício à inovação: (1) perpetuação de princípios e valores (2) um ambiente saudável, que incentive os colaboradores desde suas políticas e processos e (3) práticas contínuas, por meio de eventos e rituais. Tudo isso, regido por uma liderança que saiba reconhecer aqueles que não estão se adaptando, para gerir sua trajetória na empresa de forma a não interferir no clima organizacional de maneira negativa.

Com uma cultura forte, voltada para a prática e a vivência diária e genuína da inovação, os resultados virão. Pode ter certeza!