*Gabriel Drumond Ferreira é médico paliativista na hygia saúde e líder médico da saúde digital do Hospital Moinhos de Vento
No mundo dos negócios, investimentos são cuidadosamente analisados para garantir um retorno financeiro favorável. Corremos atrás de métricas absolutamente precisas para garantir que o dinheiro está aplicado nas melhores oportunidades.
Entretanto, se olharmos para saúde iremos nos deparar com um cenário antagônico. Cerca de 25 a 30% das receitas em saúde são desperdiçadas, podendo chegar a 53% em hospitais brasileiros. Diversas causas justificam esse desperdício que variam de processos ineficientes dentro de hospitais, exames, procedimentos realizados sem indicação e entraves jurídicos. Porém, o que mais tem capacidade para gerar redução de custo são as iniciativas de prevenção e promoção em saúde.
Infelizmente, o investimento em prevenção e promoção muitas vezes é deixado de lado em favor de uma abordagem mais reativa e imediatista, uma medida que apenas remedia doenças que já se instalaram com tratamento custosos e menos efetivos.
Do ponto de vista econômico o impacto deste modelo não poderia ser mais negativo. Segundo o IESS, em estudo realizado em 2022, a inflação média acumulada nos últimos 5 anos foi de 89,7%, em comparação com o IPCA, que foi de 31,1%. E isso não se refletiu em desfechos em saúde, uma vez que a expectativa de vida no mesmo período mudou de 76,3 para 77 anos apenas.
Claro que, onde existem as maiores dores, também estão as melhores oportunidades. Por isso, cada vez mais, líderes, empreendedores e investidores estão reconhecendo que a saúde pode ser um campo promissor para investimentos estratégicos. Descubra agora as 6 formas de aproveitar a saúde da forma mais eficiente possível.
Mapear hábitos e comportamentos de risco
Este é um bom ponto de partida. Conhecer a saúde das pessoas permite tomar as decisões mais estratégicas para aquela população. Só assim se consegue identificar as melhores medidas de prevenção em saúde mental, alimentação saudável, estratégias de redução do risco cardiovascular… Em resumo, é possível direcionar de forma inteligente e eficiente as estratégias de saúde.
Além disso, ainda existe um ganho adicional nesse mapeamento: informar as pessoas sobre hábitos e comportamentos de risco. Nem sempre é fácil tangibilizar os impactos que nossos hábitos podem ter na nossa saúde.
Por exemplo, apenas saber o risco cardiovascular não impede a maioria das pessoas de continuar consumindo alimentos ricos em sal. Mas se a mesma pessoa souber que este hábito, associado ao sedentarismo e mais outros fatores está reduzindo sua expectativa de vida em, digamos, 4 anos, fica mais fácil se motivar para a mudança. Quando personalizamos o risco e apresentamos de forma clara fica mais fácil atingir a tangibilização de que falamos.
Detectar doenças de forma precoce
Este tópico é fácil de explicar. O que parece ser mais custo efetivo? Uma medição de pressão arterial ou o tratamento de um infarto? Um exame preventivo do colo de útero ou sessões de quimio e radioterapia? Após mapear a população, o próximo passo é rastrear as populações de maior risco para as principais doenças. Sem dúvida muito recurso será otimizado assim.
Monitorar descompensações
Toda pessoa que vive com uma doença séria tem risco de piorar por complicações dessa enfermidade. A melhor maneira de evitar internações e reduzir risco de complicações ainda mais graves é identificando e tratando o mais rápido possível quando essas descompensações acontecem.
Conseguir identificar que um paciente tem uma glicose em tendência de elevação, por exemplo, nos permite otimizar o tratamento antes de uma internação ser necessária. Obviamente o risco de morte ou de morbidade também reduzem em iniciativas assim.
Não deixar o paciente perdido e sem saber o que fazer em seguida
Talvez você já tenha vivido uma situação semelhante a essa: uma pessoa vai ao médico que pediu diversos exames e deixou algumas recomendações. O tempo passa e essa pessoa acaba esquecendo de mostrar os exames para o profissional, ou até mesmo esquece de fazer os exames. Nisso, perdemos as oportunidades de identificar e tratar condições de saúde. Problema que passa a ser resolvido se existir uma forma de manter o tracking dessa pessoa em sua trilha de saúde.
Saúde não se faz só com médicos
Um sistema de saúde eficiente conta com equipes multidisciplinares. É impossível imaginar cuidado em saúde mental sem psicólogo, mudança alimentar sem nutricionista, reabilitação física sem fisioterapeuta, reabilitação orofacial sem fonoaudiólogo, navegação sem enfermagem… Sistemas eficientes contam com o apoio de uma equipe capacitada e diversa.
Utilize os dados em saúde como ferramenta
Talvez este seja o principal conselho deste edital. Gerir bem os dados em saúde é o que vai garantir o sucesso dos últimos 5 passos. Saber quem já fez os exames preventivos, se os níveis de glicose do sangue estão em curva de melhora ou de piora, saber quem e qual o risco das doenças, conhecer os KPIs de processo e de risco controlado… enfim, uma enormidade de possibilidades e mapeamentos que só é possível com o cuidado devido ao dado em saúde.
Conclusão
À medida que exploramos o conceito de saúde como investimento, fica claro que há um mundo de possibilidades e oportunidades a serem exploradas. Embora o setor da saúde enfrente desafios significativos em termos de eficiência e desperdício, esses obstáculos também se traduzem em oportunidades valiosas.
Vale ressaltar que, ao investir em saúde, não apenas estamos buscando retornos financeiros, mas também estamos promovendo um impacto positivo na vida das pessoas. Estamos trabalhando para construir um sistema de saúde mais eficaz, equitativo e acessível, onde a prevenção e o cuidado de qualidade sejam prioridades.