Growth
Um foguete em cima do tabuleiro "Startup growth playbook" | Foto: Gemini

Quando falamos de Growth em early stage, muita gente ainda pensa em “achar o canal certo”. Google, Instagram, outbound, eventos, comunidade… como se existisse uma resposta universal. Na prática, o que existe são playbooks.

Conjuntos de canais, mensagens e rotinas que funcionam em determinados contextos – e falham feio em outros. O problema não é “não saber Growth”. É tentar rodar cinco playbooks ao mesmo tempo sem ter maturidade para nenhum deles.

Abaixo, os 7 playbooks que mais aparecem nos projetos – com os nomes e a lógica exatamente como usamos na JoGo.

1. ALTA INTENÇÃO EXISTENTE

“Quando a dor já tem nome, vence quem chega com promessa e prova na mesma página.”

O que é:

Capturar buscas e sinais de alta intenção e converter com uma landing page rápida, orientada por intenção, com oferta de entrada clara.

Canais típicos:

– Google Search, Pmax, comparadores, marketplaces  

– Remarketing em Google (às vezes Meta também)

Quando funciona bem:

– problema já é conhecido e dói  

– existe volume de busca decente  

– a solução é relativamente simples de entender em poucos segundos  

– o modelo permite criar ofertas diferentes por intenção (diagnóstico, trial guiado, proposta rápida)

Quando dá errado:

– pouco volume de busca ou termos muito ambíguos  

– margem insuficiente para disputar leilão de mídia  

– landing pages lentas, sem prova e sem clareza de próxima ação

Quando faz sentido priorizar:

– você precisa de pipeline “para ontem”  

– já sabe quem é o ICP e quais dores ele pesquisa  

– tem pelo menos um case ou prova social decente para colocar na mesma página da promessa

2. CREATIVE INFLUENCE

“Transforme atenção em desejo e desejo em ação – o criativo certo encontra o público certo.”

O que é:

Usar criativos fortes, conteúdo e creators para transformar atenção em demanda: primeiro você ganha o clique, depois constrói desejo e, por fim, leva para ação.

Canais típicos:

– Meta Ads, TikTok Ads, YouTube Shorts  

– whitelisting de creators, UGC guiado  

– retargeting em “piscinão” de audiência

Quando funciona bem:

– produto demonstra bem em vídeo ou em criativos estáticos fortes  

– existe estoque/oferta para suportar picos de demanda  

– dá para trabalhar uma “hook library” rica (diferentes ângulos de dor, desejo, status, racional)

Quando dá errado:

– produto “invisível”, difícil de mostrar ou explicar rápido  

– reposição lenta de criativos; campanha roda com poucos anúncios por muito tempo  

– landing page desconectada do criativo ou oferta fraca no final do funil

Quando faz sentido priorizar:

– DTC, assinaturas B2C, apps com trial  

– ticket compatível com mídia social (não depende de ciclo de venda longo)  

– você está disposto a tratar criativo como produto: volume, teste e melhoria contínua

3. HOOK + HANDSHAKE

“Prove antes de vender: um primeiro ganho abre a porta para a reunião certa.”

O que é:

Oferecer um wedge claro (mini-audit, template, ferramenta, diagnóstico, trial guiado) que entrega valor antes da venda – e usar esse momento para o “handshake”: transformar interesse em pipeline real.

Canais típicos:

– Search de alta intenção e LinkedIn (orgânico + ads)  

– e-mail e réguas de mensageria  

– webinars, office hours, conteúdos com “entrega real”

Quando funciona bem:

– produto/serviço permite um “primeiro valor” rápido (ex.: relatório, insight, benchmark, plano 30/60/90)  

– ICP bem estreito, com dor específica  

– time comercial com disciplina de follow-up e discovery

Quando dá errado:

– ACV baixo demais para justificar o esforço  

– wedge genérico (ninguém sente que recebeu algo único)  

– SDR subalocado, follow-up inconsistente, leads esfriando rápido

Quando faz sentido priorizar:

– SaaS B2B SMB com ROI palpável  

– serviços B2B consultivos, em que confiança pesa muito  

– situações em que você precisa educar o cliente com um “preview” do valor

4. PARTNERS & INDIRECT

“Cresça pegando carona em quem já fala com seu cliente – com incentivos certos.”

O que é:

Crescer por meio de terceiros que já têm relacionamento com o seu ICP: integrações, parceiros de canal, agências, consultorias, distribuidores, marketplaces B2B.

Canais típicos:

– integrações com plataformas core do cliente  

– programas de parceria com agências/consultorias  

– acordos com revendas e canais indiretos

Quando funciona bem:

– seu produto complementa soluções que o cliente já usa  

– os parceiros têm incentivo financeiro e narrativo para empurrar sua solução  

– o ciclo de vendas do parceiro é compatível com o seu

Quando dá errado:

– achar que parceria resolve falta de PMF  

– depender de 1–2 parceiros para “salvar o ano”  

– programas sem clareza de incentivos e sem dono interno

Quando faz sentido priorizar:

– quando o seu ICP já está concentrado em hubs/plataformas específicos  

– quando você tem pouco time comercial direto, mas consegue dedicar gente para gerenciar parceiros  

– quando já existe prova de valor que facilite a vida do parceiro na venda

5. LIFECYCLE & CRM

“Crescer também é não desperdiçar valor: todo dia dá para ativar, reativar ou expandir alguém.”

O que é:

Trabalhar o ciclo de vida inteiro do cliente: ativação, engajamento, retenção e expansão de receita, usando CRM, mensageria e produto para extrair mais valor da base.

Canais típicos:

– e-mail, SMS, push, WhatsApp (quando fizer sentido)  

– mensagens in-app, banners, nudges de produto  

– campanhas de winback, upgrades, cross-sell

Quando funciona bem:

– já existe base relevante, mesmo que pequena  

– há eventos claros de comportamento (abandonos, milestones, uso recorrente)  

– o time está disposto a tratar “listas e triggers” como canal de Growth, não só como comunicação

Quando dá errado:

– mensagens genéricas, sem segmentação  

– excesso de campanhas “de calendário” e falta de triggers baseados em comportamento  

– stack complexa demais para o estágio da startup

Quando faz sentido priorizar:

– quando já há algum volume de base e receita recorrente  

– quando CAC está subindo e você precisa extrair mais LTV  

– quando a operação está madura o suficiente para não prometer o que não consegue entregar

6. NARRATIVA & GTM 3×3

“Narrativa, prova e oferta de entrada antes de escalar – se não dá para explicar em 5 segundos, não dá para escalar em 5 meses.”

O que é:

Ajustar narrativa, prova e oferta de entrada antes de sair escalando canais. GTM 3×3: três segmentos, três propostas de valor, três ofertas de entrada para encontrar os encaixes que realmente tracionam.

Canais típicos:

– site e landing pages por segmento  

– decks comerciais customizados  

– conteúdo e campanhas que testam ângulos diferentes da mesma promessa

Quando funciona bem:

– produto ainda está em busca do encaixe mais forte de ICP × dor × oferta  

– time aberto a iterar mensagem e recorte de público em vez de “forçar” uma tese  

– existe abertura para mexer em pricing, packaging e modelo de entrada (trial, POC, plano inicial)

Quando dá errado:

– apego emocional a uma narrativa que o mercado não compra  

– testar canais sem mexer na história contada  

– confundir “branding” com insistir em uma mensagem que não converte

Quando faz sentido priorizar:

– pré-PMF e logo após o primeiro sinal de PMF  

– momentos em que a empresa vai entrar em novo segmento ou novo país  

– antes de aumentar investimento forte em mídia e time comercial

7. ABM/EVENTS

“Em mercados de confiança, a sala certa vale mais do que mil cliques.”

O que é:

Ir atrás de poucas contas-alvo com abordagem profunda (ABM) e usar eventos, encontros, conferências e salas certas como aceleradores de confiança e pipeline.

Canais típicos:

– lista de contas-alvo bem definida (ABM)  

– eventos proprietários, mesas-redondas, jantares, webinars fechados  

– presença estratégica em eventos de terceiros onde o ICP já está

Quando funciona bem:

– ticket alto e ciclo de vendas mais longo  

– decisão envolve múltiplos stakeholders e alto risco percebido  

– você consegue construir relacionamento consistente ao longo do tempo

Quando dá errado:

– startup ainda muito imatura para lidar com enterprise ou mid-market complexo  

– pouco preparo antes do evento (vai “para marcar presença” e volta com cartões, não com oportunidades)  

– depender de 1–2 contas gigantes para “fechar o ano”

Quando faz sentido priorizar:

– mercados em que confiança, reputação e relacionamento são decisivos  

– quando já existe algum caso forte para mostrar em formato de estudo real  

– quando a base de contas-alvo é clara e finita, e vale a pena customizar tudo para elas

CONCLUSÃO

Growth no early stage não é sobre colecionar canais. É sobre escolher um playbook, saber o jogo que você está jogando e ter disciplina para aprender com ele. Em vez de perguntar “qual canal devo usar?”, a pergunta passa a ser:

“Qual jogo estou jogando? Estou jogando esse jogo direito?”

Mais play, menos book. Mas, principalmente, clareza de qual playbook está guiando as decisões do seu time.