
*Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples
Há alguns anos, a principal preocupação do setor financeiro era construir credibilidade para as fintechs. O desafio era convencer o público de que seu dinheiro estaria seguro em uma instituição sem agências físicas e portas giratórias. Hoje, essa desconfiança ficou para trás. A maioria dos brasileiros já percebe o impacto positivo das fintechs em suas vidas, segundo o estudo “Avaliação dos Bancos Digitais & Fintechs”, conduzido pela AtlasIntel.
O levantamento indica que 84,5% dos brasileiros reconhecem o impacto dessas instituições no dia a dia, ao considerar que esse tipo de plataforma torna os serviços bancários mais acessíveis. Os dados não apenas apontam para a superação da barreira da confiança, como também consolidam um movimento irreversível de democratização do acesso aos serviços bancários.
Mas, se a “primeira onda”, marcada pela ampliação do acesso, avançou, por que o caos operacional ainda se impõe à rotina de tantos empreendedores e gestores financeiros? A resposta é simples: a confiança foi conquistada, mas a gestão não acompanhou essa evolução.
É aqui que entramos na “segunda onda” das fintechs — um movimento que não é mais sobre tarifas ou cartões coloridos, mas sobre eficiência, integração e inteligência. As empresas amadureceram. Elas não querem apenas mais um lugar para guardar dinheiro; precisam de um sistema operacional financeiro capaz de apoiar o planejamento, orientar decisões de gasto, acelerar a prestação de contas e reduzir erros. O papel da conta bancária não é ser um cofre passivo, mas uma ferramenta ativa de gestão.
O “gap” da gestão
Durante muito tempo, aceitamos o chamado “custo da desorganização” como uma dor inevitável do crescimento — quando, na prática, ele sempre foi um sintoma de processos frágeis disfarçados de complexidade. À medida que as empresas cresciam, o número de cartões aumentava, as notas fiscais se perdiam em múltiplos canais e os times se tornavam reféns de planilhas manuais para conciliar dados com o ERP. O resultado foi um paradoxo: a tecnologia bancária evoluiu, mas os processos permaneceram arcaicos.
O mercado, hoje, exige soluções que vão além de serviços financeiros isolados. Ele demanda plataformas capazes de transformar uma simples conta bancária em um centro de controle financeiro completo — entregando organização, visibilidade e inteligência para times e gestores lidarem com operações cada vez mais complexas.
Não se trata mais apenas de fazer um Pix. Trata-se de integrar o financeiro ao fluxo real de trabalho das empresas: utilizar Inteligência Artificial para interpretar recibos enviados por WhatsApp e conciliá-los automaticamente; permitir que gestores aprovem pagamentos diretamente pelo Slack; eliminar até 29 horas semanais de trabalho manual por meio de integrações nativas com os ERPs já utilizados pelas empresas; e oferecer dashboards e análises personalizadas que apoiem decisões estratégicas. Eficiência, hoje, é sinônimo de integração.
A simplicidade como estratégia de crescimento
Um exemplo prático dessa mudança de mentalidade é a INSIDER. Referência em tecnologia têxtil e sustentabilidade, a marca entendeu cedo que não conseguiria escalar sua operação se o financeiro continuasse sendo um gargalo burocrático.
Ao implementar a solução da Conta Simples, a empresa descentralizou o controle — oferecendo autonomia aos times por meio de cartões corporativos e regras de aprovação —, e reposicionou o financeiro dentro da empresa. O departamento deixou de ser apenas um centro operacional de contas a pagar e passou a atuar como parceiro estratégico do negócio. Na prática, isso se traduz em mais controle, eficiência e maior capacidade de gerir um alto volume de despesas, do pagamento de fornecedores à gestão de campanhas de marketing.
O case da INSIDER ilustra como a simplificação financeira deixa de ser apenas uma melhoria operacional e passa a ser um fator estratégico de crescimento. Quando a fricção dos processos manuais é removida, a energia intelectual dos times é redirecionada para inovação, análise e expansão.
O futuro é integrado
A pesquisa da AtlasIntel é um atestado de maturidade do consumidor brasileiro. Cabe agora às fintechs honrar essa confiança dando o próximo passo. O futuro do setor não pertence a quem oferecer a menor taxa, mas a quem oferecer a maior visibilidade, controle e capacidade de decisão.
A “era da eficiência” já começou. A conta bancária deixou de ser um cofre passivo para se tornar o cérebro financeiro das empresas. E quem insistir em operar sob a lógica da década passada, acumulando burocracia digital, ficará para trás. Inovar deixou de ser diferencial. Gerir bem é, cada vez mais, uma condição de sobrevivência.
*Rodrigo Tognini é cofundador e CEO da Conta Simples, principal plataforma de gestão de despesas no Brasil. Formado em Administração de Empresas pelo Insper, com especialização em Negócios e Empreendedorismo pela Columbia University, fundou a Conta Simples em 2019 com o propósito de transformar a gestão financeira de pequenas e médias empresas. Tognini sempre esteve envolvido na construção de ecossistemas empreendedores, como a Liga de Empreendedores do Insper. Antes de ingressar no mundo das fintechs, também se dedicou ao esporte, defendendo a seleção brasileira de base no basquete. Sob sua liderança, a Conta Simples foi acelerada pelo Y Combinator e captou mais de R$ 300 milhões, consolidando-se como referência em gestão de despesas para PMEs. Em 2024, passou a integrar a lista da Under 30, da Forbes, que reconhece jovens talentos de até 30 anos que se destacam em diversas áreas, como negócios, tecnologia, esportes, entretenimento e impacto social.