Há dois anos, comecei meu estágio em um dos fundos de venture capital mais relevantes da América Latina. Trabalhar no ecossistema de inovação como investidor era o que eu mais queria desde que havia voltado do meu intercâmbio em administração e economia, na Tsinghua University, na China. Entrei no mercado de venture capital com o intuito de ajudar o Brasil a se aproximar do nível de maturidade tecnológica que havia visto em Beijing, Shanghai e Shenzhen.
Questões relativas à falta de diversidade no mundo de venture capital não tardaram a aparecer. Com algumas semanas de trabalho, em um papo superdescontraído, escutei um dos meus chefes comentando que no mercado de venture capital no Brasil havia 2 pessoas ruivas – uma delas trabalhava conosco.
Isso me deixou curioso, pois queria saber quantos negros havia. Eu já tinha um palpite, mas como não queria gerar um clima desconfortável nas minhas primeiras semanas, guardei a pergunta para um momento mais oportuno.
No mesmo dia, em particular perguntei ao meu chefe quantas pessoas negras havia no mercado brasileiro de VC, ele me respondeu que havia uma. Fiquei feliz em saber da notícia, e indaguei a ele quem era e se ele poderia me passar o contato da pessoa. Infelizmente (ou felizmente) descobri que essa pessoa era eu.
Atualmente trabalho na Volpe Capital, e atuo tanto na prospecção quanto na análise das startups no nosso pipeline. Minhas experiências até aqui me trouxeram reflexões interessantes. Por exemplo, percebo que o fato de ser negro e ter morado grande parte da minha vida em uma favela no Rio de Janeiro, já foi um fardo – mas hoje é o que me ajuda a trazer perspectivas diferentes na análise de modelos de negócios.
Já analisei centenas de decks de startups, em diversos estágios de maturidade, e a maioria delas tem como fundadores homens brancos que geralmente estudaram nas mesmas universidades no Brasil, ou fizeram MBA em universidades internacionais de ponta. Esses fundadores compuseram a primeira geração de empreendedores bem-sucedidos, que resolviam problemas que lhes eram familiares. Mas as coisas estão mudando: a nova geração de fundadores bem-sucedidos vai precisar resolver problemas das classes C, D e E, e para isso, as startups vão precisar de mais diversidade em seu time de fundadores.
E justamente com o propósito de aproximar as startups com as classes sociais mais baixas – de onde podem surgir muitos representantes desta nova geração de empreendedores – eu e Lorena Machado, sócia da Speers Capital, estamos organizando o Favela Summit. O fórum tem como objetivo ajudar a aproximar as favelas e ecossistema de inovação, ajudando as startups não só a inserir a favela em seus modelos de negócio, mas também os seus moradores ao quadro de colaboradores como mão de obra qualificada, bem como inspirar os fundadores de novos negócios da nova economia.
Nesta coluna no Startups, pretendo trazer discussões sobre o mercado de venture capital a partir do prisma da diversidade, e falar sobre projetos focados neste objetivo, como o Favela Summit. Para trocar ideias sobre o mercado e temas futuros, fique à vontade para entrar em contato via LinkedIn. Até a próxima!