*Priscilla Veras é founder e CEO da Muda Meu Mundo
Hoje, mais de 700 milhões de pessoas passam fome no mundo, isso representa 10% da população global. Com as novas projeções demográficas apontando para quase 10 bilhões de habitantes em um futuro próximo, concentrados em nove países, surge uma questão central: como alimentaremos todas essas pessoas?
Quando começamos a Revolução Agrícola, eram necessárias quatro vezes mais terras para produzir a mesma quantidade de alimentos que conseguimos hoje, com menos esforço e maior rapidez. Essa revolução permitiu um salto na produtividade, impulsionado pelo uso de tecnologias agrícolas em larga escala. Porém, apesar da produção de alimentos ser suficiente para alimentar três vezes mais pessoas do que aquelas que passam fome, os índices permanecem alarmantes.
Quando analisamos a produção global de alimentos, percebemos que dois terços dos produtores são pequenos agricultores. Esses produtores enfrentam desafios fundamentais, desde a falta de conectividade até o acesso ao crédito e aos mercados. Embora a cadeia de produção tenha superado os desafios de escala, a barreira do acesso ainda persiste.
O futuro da produção de comida exige, portanto, avanços tecnológicos, desde a criação de máquinas de baixo custo para produzir alimentos essenciais para alguns países como mandioca, arroz, feijão e batata, até a inclusão digital dos produtores e o desenvolvimento de algoritmos para predição de preços e demanda.
A organização da cadeia de suprimentos também precisa ser repensada. A falta de predição de compras nas cidades faz com que produtos sejam colhidos sem venda garantida ou produzidos sem corresponder à demanda específica das áreas urbanas. Esse descompasso entre o que é produzido no campo e o que é necessário nas cidades resulta em 30% de perda de alimentos no trajeto entre o campo e a mesa. Uma predição de compra aliada a de oferta no campo, ou, uma necessidade de compra aliada a necessidade de produção fizeram com que pensássemos que o gargalo estava na logística. Entretanto, o gargalo logístico não tem haver com falta de caminhões ou estradas e nem, muito menos, com falta de centros de distribuições próximos às cidades. O desafio tecnológico ligado à logística tem haver com eficiência de roteirização e timming e com a eficiência da predição de compras.
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Por isso, levar tecnologia até os produtores de comida é um desafio complexo. Não se trata apenas de falta de conectividade; muitas vezes, uma única solução não é suficiente para resolver os diversos problemas enfrentados no campo. E a consequência de todos esses desafios potencializados com os desafios da cidade tem causado um desperdício gigantesco na cadeia de comida.
Se temos comida suficiente sendo produzida para alimentar a população com fome. Não precisamos produzir mais. Precisamos de Tecnologia.
Por isso, acredito que a solução para o problema da fome global deve ser pensada como um ECOSSISTEMA, com o produtor rural no centro da adoção das novas tecnologias. Esse ecossistema deve englobar desde a venda direta até o acesso a serviços logísticos e financeiros, incluindo a concessão de crédito. Modelos inteligentes de predição de compra e venda e algoritmos de mensuração de pricing são o que unirá a cidade com o campo nessa eficiência.
Ao colocarmos o produtor no centro desse ecossistema, podemos superar os desafios da produção e distribuição de alimentos, minimizando os impactos da fome no mundo. Se conseguirmos integrar a esse ecossistema novos serviços focados em desenvolvimento sustentável, poderemos reduzir pela metade o número de pessoas que passam fome, isso se olharmos exclusivamente para a produção da comida e a otimização da cadeia através de uma visão ecossistêmica..
A fome também é um problema que a tecnologia pode e deve resolver. E resolver o problema do produtor tem sido minha missão de vida enquanto empreendedora nos últimos anos.
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