Desde que o Facebook anunciou o desenvolvimento de um projeto sobre o metaverso, muitas expectativas e teorias têm surgido sobre como esse movimento vai impactar a sociedade. Não fico surpreso com tamanha repercussão, pois este mercado representa uma oportunidade de receita de até US$ 13 trilhões até 2030, segundo o relatório Citi sobre Metaverse and Money, de 2022. O fato é que neste universo de inovação, a única certeza é que o metaverso consolida um movimento que já acontece há décadas: a digitalização da vida.
Ainda de acordo com o relatório, a economia do metaverso pode se expandir significativamente, e uma das principais razões seria a adoção em massa da tecnologia. De forma mais clara, isso significa que os amigos das redes sociais são mais presentes do que os amigos de porta, ou que as reuniões online vêm substituindo os longos trajetos de deslocamento até o trabalho. Além disso, os economistas estimam que cerca de 5 bilhões de pessoas podem fazer uso do metaverso no futuro, sendo que a população mundial atual é de 8 bilhões de pessoas.
Porém, tenho notado que um dos maiores equívocos cometidos quando se aborda sobre o metaverso é defini-lo exclusivamente como um local virtual, quando na verdade, trata-se primeiramente de um novo tempo. Explicando melhor, esse movimento todo não aconteceu da noite para o dia, ou quando foi anunciado o investimento pelo Facebook, mas vem acontecendo de forma gradual há décadas. Inclusive, concordo com uma citação feita por Shaan Puri, e que foi publicada no Twitter, onde ele aponta que o metaverso é “o momento em que a nossa vida digital vale mais para nós do que a vida física”.
Eventualmente, a distinção entre vida virtual e vida real será cada vez menos significativa. Os jogos têm servido de maior experimento para o uso do metaverso, mas esta não é a sua única finalidade. No âmbito corporativo, por exemplo, as empresas podem se beneficiar cada vez mais também, seja por meio da interação com o time interno, contato com parceiros, vendas, marketing, eventos, entre outros.
Outro sinal perceptível desta mudança e que está relacionada ao nosso atual cotidiano é a forma de consumo. Em 2008, 45% das crianças de 6 a 12 anos praticavam esportes coletivos regularmente, segundo a Sports & Fitness Industry Association. Em 2018, apenas 38%. E em setembro de 2021, o número diminuiu para 28%. Em contrapartida, nos últimos anos a forma de nos relacionarmos com a tecnologia também mudou, sendo que estamos cada vez mais conectados. Para se ter uma ideia, mais de 70% dos brasileiros acessam regularmente alguma rede digital e 97% deles utilizaram o celular como dispositivo de acesso à internet, segundo pesquisa da TIC Domicílios (2018).
Percebemos uma transformação acontecendo no setor de serviços também, principalmente nos últimos dois anos. A pandemia impactou diretamente este segmento e intensificou a união do online com o offline, que passaram a se complementar em seus aspectos mais positivos. Por um lado, durante o isolamento social as pessoas começaram a perceber diversas vantagens ao ser atendido por um psicólogo ou fazer uma atividade física sem precisar sair de casa e com o auxílio de um personal trainer, tudo de forma remota.
Esse comportamento veio para ficar e agora, de qualquer lugar, muito mais pessoas já otimizam tempo, dinheiro e recursos em suas vidas cotidianas. Se pararmos para pensar, em uma cidade movimentada como São Paulo, por exemplo, o tempo de deslocamento é muito significativo e poder otimizar muitas atividades remotamente tem sido benéfico tanto no âmbito pessoal quanto profissional.
O metaverso, em suas diversas facetas, vem possibilitando o uso da tecnologia de forma inovadora para resolvermos cada vez mais questões do dia a dia, sendo na verdade um recurso facilitador, assim como a contratação de serviços online que tende a se tornar ainda mais comum para os brasileiros nos próximos anos. E assim, gradativamente, vamos nos adaptando e notando as vantagens de cada mudança que surgir.
Ah, e assim como hoje não referimos aos usuários de internet como “internautas” provavelmente no futuro não falaremos que estamos no “metaverso” – será simplesmente a nossa realidade.