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Meu amigo comitê, a culpa é sua e não minha!

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Todo mundo sabe, poucos admitem, e agora as empresas da Nova Economia trazem a comprovação: comitês também servem para travar o crescimento das empresas, além de se tornarem a desculpa perfeita para aqueles que querem se livrar de suas responsabilidades.

Por que ter um comitê de resultados para avaliar informações já conhecidas? Por que ter um comitê de avaliação de pessoas formado por quem não trabalha frequentemente com o avaliado? Por que ter um comitê de inovação como se fosse possível sentar e decidir o que dará certo?

Em uma arquitetura organizacional moderna, os dados estão disponíveis a quem tiver interesse em tempo real – alguns, tirando o lustro, são padrão. E se alguém tiver dúvidas, imediatamente vai atrás de respostas – não é necessário fazer um comitê que, na verdade, só atravanca o processo e freia um possível dinamismo responsável e adaptado à cultura da empresa. Avaliações são feitas por quem vive com o avaliado. Inovação dá certo no dia a dia, com o resultado de testes e bom senso de pessoas que têm comportamento empreendedor.

É um erro comum pensar em comitês como forma de estimular o envolvimento dos colaboradores. Não! O engajamento não se consegue conferindo um falso status a integrantes de um clubinho. Ao contrário, precisa ser alimentado diariamente e com todos, não vez ou outra, numa reunião específica. Os comitês são impregnados de tinta burocrática, e as empresas que insistem em adotá-los aos montes ainda acreditam na autoridade, em normas, hierarquias e pilhas de relatórios que formam um verdadeiro muro. Imagine uma empresa cercada por tudo isso… é a Velha Economia se debatendo com decisões em câmera lenta, discutidas em comitês, enquanto o mundo já pensa em submergir na realidade virtual. Tranquem esses caras em uma sala e derretam a chave. É o melhor que se pode fazer pela empresa.

Uma das coisas fundamentais de um negócio empreendedor e de alto crescimento é justamente a falta desse tipo de obstáculo. Porque a agilidade depende de indivíduos que se sintam empoderados para analisar e reagir prontamente, quando quiserem, sempre que for importante. Não é esperar por uma rotina de reuniões previamente definidas. Na lógica das empresas da Nova Economia, os profissionais têm poder de ação sobre tudo que afeta seu trabalho – e são os donos da encrenca. Erram, aprendem, tentam de outra forma; são pessoas treinadas, motivadas, auto-organizáveis, alinhadas ao foco do negócio, e que a empresa olha, mas não mantém, necessariamente, sob supervisão de alguém. São times que trabalham livres e não se acovardam diante de mudanças inesperadas, simplesmente resolvem a parada.

Para as empresas maduras que abrem o capital, quase entendo que o pacote venha cheio de comitês. É uma maneira de tentar fazer surgir, de dentro, soluções; de resolver alguns desafios específicos e oferecer um seguro para o CEO ou conselheiros. Mas as que realmente criam valor são as que respeitam leis e regras sem abdicar da agilidade. O que vejo, na prática, são formatos engessados. Os presidentes de conselho e CEO dessas empresas costumam dizer que têm um modelo ágil, mas não conseguem chegar à segunda página de explicação. A grande maioria confunde trabalhar com squads com agilidade no modelo de gestão.

No desenho hierárquico que pendura as decisões em reuniões programadas, muitas vezes acaba-se discutindo processos e não o impacto. Sim, já vi isso acontecer. E mais: as responsabilidades são diluídas, ninguém assume nada. Isso é o que a Velha Economia sabe fazer muito bem: permitir que as pessoas se escondam atrás de uma entidade ao invés de tomar o peso nos ombros. “O comitê decidiu” é frase comum. Pior ainda: “Espere o comitê”. Espere, nada! Destruir a existência do caminho acessível e a capacidade de responder às mudanças é o pior efeito dessas ervas daninhas da Velha Economia.

Tem ainda o fato de envolverem muitas pessoas em pequenas decisões, mas não quero entrar na questão do tempo que se perde, porque muito mais importante é lembrar que esse estilo de gestão vai aos poucos criando elefantes que impedem a ação. Uma cultura baseada em comitês não exige maturidade e fit cultural; apenas requer disciplina. Enquanto isso, a empresa é consumida pela inércia, e rapidamente.

Não preciso dizer que o seu negócio não é o seu produto, e sim o seu cliente, que vive na rapidez dos tempos. Ele muda e você muda junto, ou melhor, se antecipa.  Logo, é preciso repertório em todos os níveis, alinhamento no comando e ­– claro! ­– disrupção também no planejamento e controle. Impossível imaginar uma empresa com essa personalidade repleta de comitês para decidir ações do dia a dia.

Meu maior pesadelo: sentar à mesa de reuniões para ouvir o que um comitê levantou, projetando suas sugestões num sonífero PowerPoint. Na minha realidade, acesso o datalake no tempo livre e ligo para discutir o que interessa. ”Mas você não tem comitês?” Claro que tenho! Quando envolve um risco importante, quando envolve trade offs que abrangem desempenho muito alto e quando implica na direção do desempenho da estratégia. Comitês (não definidos por lei ou regulação) precisam existir de forma menos frequente para discutir decisões difíceis de reverter e que podem gerar consequências relevantes.

P.S.: A liderança que desconhece a ineficácia desse carimbo da Velha Economia pode candidatar-se a Tiozão do Ano. Aquele de quem ninguém fala mal pela frente, só pelos lados – até nos comitês.

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