Foto: Canva
Foto: Canva

Você com certeza já ouviu falar em Open Finance, a infraestrutura financeira que permite a circulação de informações de clientes bancários entre diferentes instituições, além da possibilidade de compartilhamento seguro e controlado de uma gama mais ampla de dados financeiros e serviços.

Um dos primeiros frutos do Open Finance foi o – já tão famoso – pix, disponibilizado em novembro de 2020. Para se ter noção do impacto na vida financeira dos brasileiros, em pouco menos de dois anos o pix já respondeu por 29% das transações realizadas em 2022.

Mas e o Open Investment? O que muda?

O Open Investment nada mais é do que uma ampliação da infraestrutura para incluir o ecossistema dos investimentos na mesma dinâmica das transações. Ou seja, a partir de outubro, os brasileiros poderão usufruir do compartilhamento de dados, troca de informações de investimentos, câmbio, capitalização, previdência e seguros pessoais entre agentes de investimentos, instituições financeiras e corretoras. A promessa do Banco Central é que esse e outros projetos do Open Finance saiam do papel ainda no final deste ano.

E quais são as vantagens que todo esse compartilhamento de dados traz aos clientes do sistema financeiro?

  • Liberdade de escolha e maior variedade: os clientes podem ter uma visão holística de suas finanças, independentemente de quantas instituições financeiras eles usem, permitindo uma melhor gestão financeira e tomada de decisões;
  • Inovação e Concorrência: o acesso a dados financeiros pode permitir que fintechs e outras empresas inovem com novos produtos e serviços, aumentando a concorrência no setor – e é aí que moram as oportunidades para o setor de fintechs;
  • Poupança automática: com o Open Investments, fintechs que oferecem soluções de microinvestimentos, como a Accorns nos EUA e a Oinc no Brasil, poderão ajudar os brasileiros a guardar dinheiro;
  • Avaliação de risco mais apurada e personalização de serviços: as instituições conseguem ter uma visão mais completa do perfil financeiro de um cliente para tomar decisões mais precisas em relação a empréstimos, investimentos e outros serviços. Além disso, fica mais fácil oferecer serviços personalizados que atendam melhor às necessidades individuais dos clientes;
  • Mais transparência e controle por parte dos consumidores: os clientes têm o controle de quais instituições podem acessar seus dados e têm o poder de revogar o acesso a qualquer momento;
  • Portabilidade de investimentos: ainda ineficiente no mercado brasileiro, a portabilidade de investimentos pode ser um dos grandes ganhos do Open Investments. Hoje já há soluções de automatização do processo de portabilidade de previdência, o que acirra a competição e torna a alocação de investimento mais justa.

Desde o início, a regulamentação e implementação do Open Finance no Brasil estão sendo supervisionadas pelo Banco Central e o objetivo é que, através de APIs, as instituições financeiras possam compartilhar dados de maneira segura e padronizada. Tais benefícios listados acima deverão contribuir na melhor compreensão dos mecanismos do sistema financeiro e as vantagens que a nova infraestrutura propõe, acelerando assim sua adoção pelos brasileiros.

A nova etapa de implementação para viabilizar o Open Investment é chamada de fase 4 e vai focar em algumas frentes como: o Iniciador de Transações de Pagamento (ITP), os pagamentos de recorrência (o chamado pix recorrente), avanços na melhoria da estabilidade do ecossistema e a expansão da troca de dados de investimentos.

Os planos para o futuro das ‘finanças abertas’ no Brasil é mais amplo e audaz que a maioria dos outros países do globo. Mas, como nem tudo não são flores, o mercado já enfrenta muitos desafios para colocar a infraestrutura para funcionar de forma experimental – o que pode inclusive atrasar os planos de início dos testes em outubro -, além das questões regulatórias e atrasos causados por eventualidades. Uma vez que tratar de dados tão sensíveis exige que as APIs já estejam em um nível de segurança e maturidade compatíveis.

Mas, o que pode ser mais interessante em tudo isso são as oportunidades que o novo sistema irá abrir para as fintechs! Isso porque será possível, com a devida concessão dos usuários, que as fintechs usufruam deste compartilhamento de dados para desenvolver novas soluções.

É interessante analisar a mudança de perfil, que vem acontecendo ao longo dos últimos anos, do brasileiro que investe. Segundo dados da B3, 4,2 milhões de pessoas investiram em renda variável no ano passado, um crescimento de 56%, e metade deles na faixa etária dos 25 aos 39 anos de idade.

Esses jovens já estão mais profundamente inseridos na agilidade da tecnologia e, com isso, têm como expectativa a mesma rapidez e facilidade na utilização dos serviços financeiros, ou seja, eles apresentam outras necessidades para serem fidelizados. Este é um dos territórios que as fintechs podem explorar, pois hoje a jornada do cliente durante o atendimento em corretoras e bancos é, majoritariamente, distante, e acaba por afastar esse público que quer investir mais, saber mais e alcançar sua liberdade financeira cada vez mais cedo.

Então, as fintechs que olharem para essa inclusão, conseguindo entregar soluções que sejam mais interativas, personalizadas e atrativas, diminuindo as burocracias para este público, com certeza, terão terreno fértil para explorar.

Dito isso, há aspectos bastante positivos que a nova fase do Open Finance pode trazer para o mercado brasileiro e novidades deverão surgir também no setor de seguros, com o Open Insurance em 2024. Mas, antes, é preciso criar soluções para todos os desafios já encontrados durante as fases de teste, o que gera também oportunidades para as fintechs, que poderão surgir para interagir nesse novo espaço de compartilhamento ou até mesmo para ajudar a solucionar problemas estruturais.

De qualquer forma, para que o novo ecossistema realmente beneficie uma maior fatia da população, é preciso aproximar o brasileiro do mercado de investimentos, trazendo cada vez mais a educação financeira e conscientizando sobre o real significado do compartilhamento de dados e informações, orientando sobre privacidade e consentimento, conceitos fundamentais para que esse novo sistema integrado funcione perfeitamente.