Coluna

Educação e inclusão produtiva: alternativa para projetos sociais e combate à pobreza

Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images
Foto: Leonardo Fernandez Viloria/Getty Images

Por diversas vezes, defendi o aumento de projetos de impacto social no Brasil, especialmente os de enfrentamento direto à pobreza e de segurança alimentar. Continuo achando que é um caminho importante, no entanto, me preocupo com a quantidade de programas assistencialistas existentes no Brasil e de estarmos priorizando a estratégia errada.

O principal problema desses movimentos é que se trata de uma solução “que deveria ser” temporária, mas potencialmente, gera dependência crônica e que não acompanham programas adicionais de inclusão produtiva.

O mercado de doações e investimentos de impacto social no Brasil tem apresentado crescimento significativo nos últimos anos. Só em 2021, as doações formais no Brasil alcançaram cerca de R$ 13 bilhões, segundo o relatório “BISC – Benchmarking do Investimento Social Corporativo”, produzido pela Comunitas. Esse valor inclui doações realizadas por empresas, fundações, institutos e indivíduos.

Quando olhamos para Investimentos de Impacto Social, o número também impressiona. Segundo o “Relatório de Impacto da Aliança pelos Investimentos e Negócios de Impacto”, publicado em 2022, o mercado de investimentos de impacto no Brasil movimentou cerca de R$ 5,3 bilhões em 2021. Esses investimentos foram feitos em negócios que, além de gerar retorno financeiro, têm como objetivo causar impacto social ou ambiental positivo.

Esses indicadores, mostram um pouco do volume de recursos disponíveis para gerarmos impacto social positivo, só no Brasil. A pergunta que fica é, estamos gastando bem esse recurso? Estamos de fato melhorando a vida das pessoas e gerando desenvolvimento econômico sustentável? 

Cidade com prédios (Foto: Wagner Amorim)
Foto: Wagner Amorim/Divulgação

A agenda 2030 da ONU com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis e os avanços da pauta ESG nas empresas, aumentam ainda mais esses investimentos. O que torna minha pergunta acima ainda mais importante.

Outro problema, é que o assistencialismo pode levar ao desempoderamento sistêmico, onde as pessoas começam a acreditar que sempre precisarão de ajuda externa. Essa mentalidade enfraquece a autoestima e reduz a motivação para buscar formas de melhorar sua situação por conta própria.

Programas assistencialistas que não promovem uma inclusão produtiva é, em última análise, um desperdício de recursos, que poderiam ser direcionados para iniciativas mais sustentáveis e transformadoras, como programas de educação profissionalizante e empreendedorismo.

O Bolsa Família, um dos maiores programas de transferência de renda do mundo, conseguiu reduzir a pobreza extrema no Brasil de forma significativa, beneficiando cerca de 14 milhões de famílias. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a pobreza extrema caiu de 12% para 4,5% entre 2003 e 2014, em grande parte devido ao programa.

No entanto, estudos mostram que muitas famílias que saem do programa acabam retornando à situação de vulnerabilidade. Um estudo do Banco Mundial de 2019 indicou que cerca de 20% das famílias beneficiadas pelo Bolsa Família retornam à pobreza extrema após saírem do programa, principalmente devido à falta de inserção em empregos formais e à ausência de capacitação profissional contínua.

Uma avaliação do IPEA de 2017 indicou que cerca de 25% dos beneficiários de programas assistencialistas no Brasil, incluindo o Bolsa Família, retornam ao programa dentro de dois a cinco anos após deixarem de receber os benefícios, destacando a fragilidade das intervenções quando não acompanhadas de políticas de capacitação e inserção no mercado de trabalho.

Esses números evidenciam as limitações dos programas assistencialistas tradicionais, que, embora essenciais para aliviar a pobreza a curto prazo, muitas vezes falham em promover uma inclusão produtiva sustentável, resultando em um ciclo de dependência e vulnerabilidade recorrente. 

Homem com caixa de papelão

Descrição gerada automaticamente
Foto: Divulgação

Inclusão Produtiva impulsionada pela Educação Profissionalizante

Ao contrário do assistencialismo, programas de educação que são cuidadosamente planejados para alinhar as habilidades dos beneficiários com as demandas do mercado, podem transformar a vida das pessoas. Isso inclui formação técnica, alfabetização digital, e desenvolvimento de habilidades empreendedoras.

A verdadeira inclusão produtiva ocorre quando os indivíduos adquirem as habilidades e conhecimentos necessários para gerar renda de forma autossuficiente. Programas educativos que enfatizam o desenvolvimento de habilidades práticas e o pensamento crítico são um caminho sustentável de enfrentamento à pobreza.

Também existem muitas armadilhas nesse caminho. Muitos interessados no tema, tem me procurado nos últimos anos para perguntar: como materializar essas iniciativas na prática? Será que é possível para camadas sociais mais vulneráveis?

A resposta é sim! No entanto, alguns cuidados precisam ser tomados. O e-Tec (Escola Técnica Aberta do Brasil) por exemplo, já formou mais de 1 milhão de pessoas nos últimos anos, de acordo com o Ministério da Educação, aproximadamente 60% dos formados pelo e-Tec Brasil conseguiram emprego na área em que foram capacitados dentro de um ano após a conclusão do curso. Número extremamente positivo.

No entanto, existem algumas armadilhas que gostaria de reforçar: 

Falta de Alinhamento com as Demandas do Mercado: Muitos programas educativos voltados para populações vulneráveis não consideram as necessidades reais do mercado de trabalho. Como resultado, as pessoas podem ser “educadas” em áreas que não geram oportunidades reais de emprego ou renda, agravando a frustração e o desengajamento.

Foco Exclusivo em Quantidade, Não Qualidade: Há uma tendência de medir o sucesso desses programas pelo número de beneficiários atendidos, em vez de pela qualidade e relevância do conteúdo oferecido. A educação mal direcionada acaba por não preparar os indivíduos para enfrentar os desafios econômicos e sociais, perpetuando o ciclo de pobreza.

A Educação sempre será um caminho sustentável de enfrentamento à pobreza.