
*Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples
No palco principal do Web Summit Rio, o maior evento de inovação do mundo, tive a oportunidade de discutir a batalha contra as fraudes online. O debate reforçou que as fintechs estão na linha de frente dessa luta, usando a tecnologia e a colaboração como armas para proteger clientes e empresas.
Um dos pontos de partida da discussão foi a chamada “scamdemic” — junção dos termos scam (golpe) e pandemic (pandemia) —, termo criado a partir do período pandêmico da Covid-19, momento que trouxe um aumento de crimes digitais no setor financeiro. Segundo o “Relatório Global sobre Tendências de Fraude Digital Omnichannel 2023”, da TransUnion, as tentativas de fraude em transações online aumentaram 80% globalmente entre 2019 e 2022, e 144% só no Brasil.
Apesar do fim da pandemia, os ataques só se desenvolveram e continuaram aumentando devido ao crescimento digital acelerado. Técnicas como phishing avançado, engenharia social automatizada e deepfakes elevaram o nível das ameaças. Vemos isso no próprio território brasileiro, onde a Serasa Experian aponta que as tentativas de fraudes bancárias tiveram uma alta de 10,4% em 2024, em relação ao ano anterior.
Se os golpes evoluíram, a resposta precisou ser ainda mais sofisticada. É nesse ponto que as fintechs têm se posicionado como protagonistas, não apenas vítimas passivas. O setor investe em ferramentas tecnológicas e compartilha conhecimentos para que as operações financeiras da era digital aconteçam de forma segura.
No Web Summit, percebemos essa preocupação a partir das conversas sobre Inteligência Artificial (IA) e biometria, tecnologias utilizadas por muitas empresas como recursos de verificação em tempo real, capazes de barrar tentativas de golpe antes mesmo que uma conta seja criada.
A Future Market Insights ilustra um pouco desse cenário ao revelar que as receitas geradas por IA em soluções de gestão de fraudes devem atingir mais de US$ 57 milhões até 2033.
Além disso, as fintechs buscam colaborar constantemente com bancos tradicionais e órgãos nessa luta. O exemplo brasileiro no contexto do Pix é ilustrativo, em que os players atuaram para criar mecanismos de prevenção e resposta para ações criminosas. Hoje, o ecossistema nacional é um dos mais ágeis e resilientes do mundo, justamente porque possui bases de dados amplas, diversas e, sobretudo, integradas.
Cultura como camada estratégica de proteção
Durante o painel, a conclusão foi unânime: a tecnologia é indispensável, mas não resolve tudo. O elo mais frágil ainda é o fator humano. Por isso existe a urgência de se ampliar os programas de educação e conscientização sobre golpes digitais, tanto para usuários quanto para times internos.
Criar uma cultura organizacional voltada à prevenção — com treinamentos contínuos, processos bem definidos e incentivos à ética — é tão importante quanto investir em novas ferramentas. Só assim será possível redefinir não só a forma como lidamos com o dinheiro, mas também a possibilidade de nos sentirmos mais seguros em manter o nosso dinheiro em uma instituição financeira.
As fintechs já entenderam que a confiança será o principal diferencial competitivo do mercado. Que cada vez mais empresas possam assumir esse compromisso, que mira um futuro seguro e transparente.